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Tecnologia

Quanto custaria o iPhone 100% norte-americano de Donald Trump?

O candidato à presidência dos EUA disse que, se eleito, forçará a Apple a fabricar seus produtos no próprio país. Os cálculos não o ajudam.

Soube da mais nova ideia do candidato à presidência dos EUA Donald Trump para tornar a nação imperiosa novamente? Forçar a Apple a fabricar seus produtos nos domínios norte-americanos.

Durante discurso na Liberty University, em Virgínia, Trump disse que faria com que a Apple fabricasse seus "malditos computadores e coisas neste país no lugar de outros".

Ele não especificou como faria isso, mas seu raciocínio é bem claro: ele prefere que empresas norte-americanas fabriquem produtos como o iPhone a Apple TV nas próprias terras, não na China, país que, segundo o próprio, está roubando empregos do seu povo.

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Mas fica aqui a questão: quanto custaria um iPhone 100% norte-americano e o que seria necessário para ter um?

"Já falamos sobre isso antes", me disse ao telefone Wayne Lam, analista de eletrônicos de telecomunicação na empresa de pesquisas IHS Technology. (A IHS é a empresa que desmonta iPhones para calcular quanto custam para a Apple. O iPhone 6s Plus, vendido por 749 dólares, tem custo estimado de fabricação de 236 dólares.) "Seria loucura enviar peças da Ásia para os EUA. Criaria uma camada de complexidade extra no processo de fabricação num tempo em que tudo é muito mais acessível na Ásia."

Esses componentes made in Asia incluem telas, memória e cases, disse Lam. (Trump não especificou se forçaria a Apple a montar os iPhones nos EUA, ou se forçaria a Apple a montá-los nos EUA com apenas peças norte-americanas, o que seria impossível sem virar de cabeça pra baixo a cadeia global de suprimentos para eletrônicos.).

Para estimar quanto um iPhone 100% americano custaria aos consumidores, liguei para Kyle Wiens, CEO dos especialistas em reparo de eletrônicos iFixits.

"Fabricar produtos da Apple nos EUA não é impossível, é uma questão dos consumidores estarem dispostos a pagarem mais por eles", disse ao telefone.

Com alguns cálculos simples, Wiens disse que os consumidores poderiam pagar por volta de 50 dólares a mais por um iPhone montado nos EUA.

Isso porque muitos dos trabalhadores chineses ganham "pouco mais que o salário mínimo, cerca de 270 dólares mensais na China, um quarto do salário mínimo americano", de acordo com o The Economist. Essa diferença tem que sair de algum lugar e de forma alguma sairia dos cofrinhos (recheadíssimos) da Apple.

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"Não se montaria tudo aqui na calada da noite", disse Wiens. "Mas se começasse devagar e 10% do processo mudasse para os EUA por ano, logo a Apple teria uma porcentagem significativa dos seus produtos fabricados nos EUA – supondo que Tim Cook e seus parceiros topassem pagar maiores salários."

A Apple talvez tenha dado a largada meses atrás ao começar a montar o Mac Pro aqui nos EUA.

Claro, se Trump for eleito presidente e conseguir impor uma tarifa de 45% em tudo que vier da China, como ameaçou fazer, isso mudará dramaticamente as contas feitas pela Apple. Se custará à empresa 45% a mais trazer seus aparelhos para os EUA, então talvez faça sentido montá-los localmente (caso do Brasil, com suas elevadas taxas).

Perguntei então à IHS sua opinião sobre políticos que querem cantar de galo com essa conversinha de trazer empregos de volta para os EUA: é só papo ou os EUA estão prestes a voltarem às suas raízes industriárias?

"Temos uma economia global, penso que você tem que aceitar e lidar com isso", disse Dan Panzica, analista de terceirização de serviços e fabricação da IHS, ao telefone.

Panzica, ex-diretor de qualidade e engenharia da Foxconn, relembrou um incidente ocorrido há quatro ou cinco anos em que a companhia conseguiu enviar 1.000 maquinistas pela China em poucos dias sem impacto negativo nos negócios. "Você consegue imaginar o governador de Michigan falando 'Preciso de 1.000 maquinistas em Detroit na sexta?'", perguntou.

Não é a primeira vez que um político implorou à Apple que leve suas fábricas para os EUA. De acordo com o New York Times, o presidente Obama perguntou a Steve Jobs em fevereiro de 2011 por que a Apple não poderia fabricar o iPhone nos EUA.

Sua resposta: "Aqueles empregos não voltarão".

Tradução: Thiago "Índio" Silva