​Por que o Facebook Sugere que Você Adicione os Matches do Tinder?
Crédito: Connie Ma/Flickr

FYI.

This story is over 5 years old.

Tecnologia

​Por que o Facebook Sugere que Você Adicione os Matches do Tinder?

Tem uma galera vendo seus casos de apps amorosos na seção de "Pessoas que talvez você conheça" do Facebook. Não parece ser coincidência.

No ano passado, depois de terminar um namoro de três anos, Emma Lauren decidiu voltar às paqueras por meio de uma conta no OkCupid. O primeiro encontro foi desastroso: o cara atrasou, não parecia em nada com sua foto de perfil, discorreu a noite toda sobre teorias conspiratórias do 11 de setembro e ainda a repreendeu por ter fumado um cigarro antes que ele tentasse – sem sucesso – lhe beijar. Emma nunca mais falou com o rapaz. Nos dias seguintes, incomodada com as mensagens agressivas do ex-possível-caso, bloqueou seu número de telefone.

Publicidade

Depois deste catastrófico retorno ao mundo dos solteiros, Lauren decidiu que não estava pronta para conhecer gente nova, apagou sua conta e tocou a vida. Ela disse que não lembraria mais do tal encontro – não o fosse o fato do louquinho ter aparecido na seção "Pessoas que você talvez conheça" do Facebook semanas atrás.

A funcionalidade mostra pessoas que o algoritmo do Facebook crê que você possa conhecer com base em "amigos em comum, dados sobre educação e trabalho, redes das quais fazem partes, contatos importados e muitos outros fatores", de acordo com o suporte do site. Pode ser uma excelente maneira de retomar a amizade com gente da faculdade ou de sua cidade natal. Mas, como vimos, pode ser também um cemitério de ficadas de uma só noite e de encontros terríveis do Tinder.

A questão tem sido levantada com frequência por usuários do Tinder e OkCupid nos últimos meses. Outros reclamam de verem matches dos aplicativos gays Grindr e Jackd em suas páginas do Facebook. Para entender o que ocorre, conversei com uma dúzia de mulheres que se depararam com matches de outros sites de relacionamentos recentemente.

"Minha seção [de Pessoas que você talvez conheça] é composta em grande parte por gente do OkCupid, o que é bem esquisito", disse Dani Rose, residente de Nova York, que usa o site para conhecer pessoas. "E não são pessoas cujos contatos salvei no celular ou talvez tenha enviado mensagens."

Publicidade

"É sempre gente com quem não falo, cujo telefone apaguei e não tenho amigos em comum"

Maria Ledbetter notou que seis pessoas que conheceu no Tinder apareceram no Facebook como sugestão nos últimos seis meses, incluindo um match que chegou atrasado para um encontro em que ela foi embora. Maria disse ainda que amigos do Tinder costumam surgir cerca de uma semana depois de conseguirem seu telefone – geralmente, diz, pessoas que ela nem conversa a partir de então.

"É sempre gente com quem não falo, cujo telefone apaguei e não tenho amigos em comum", disse. "É realmente frustrante."

Emilio Ferrara, professor de ciência de dados e aprendizagem automática da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, afirmou que a resposta mais óbvia seria que esses aplicativos coletam e compartilham suas informações.

"É provável que estas empresas de redes sociais estejam comprando dados umas das outras, o que significa que o Facebook pode obter informações sobre a atividade dos usuários a partir de outras plataformas", disse. "Se este é o caso, seria muito fácil cruzar os dados."

"Também pode ser coincidência", comentou. "Mas eu não acredito muito nessas."

Com o Facebook obtendo uma quantidade cada vez maior de dados sobre nossas vidas, é razoável suspeitar que a rede social saiba sobre nossos hábitos de paquera. Tinder e OkCupid, porém, negam compartilhamento de informações.

"Se você opta por permitir, o Tinder acessa sua lista de amigos para determinar se você tem conexões em comum ou não com um possível match", disse um porta-voz do Tinder ao Motherboard, por email. "O Tinder não está diretamente envolvido com as sugestões de amigos do Facebook e não pode falar sobre as recomendações do site."

Publicidade

O OkCupid deu uma resposta semelhante. "Isto não é algo que fazemos", disse a empresa.

Um porta-voz do Facebook, por sua vez, disse ao Motherboard que a empresa "não utiliza informações de aplicativos de terceiros para lhe mostrar sugestões de amigos em Pessoas que você talvez conheça".

Brian Hamachek, engenheiro de software que fez a engenharia reversa da API do Tinder e conhece bem a API do Facebook, disse que não há motivos para crer que os sites estejam comparando seus dados.

"O Tinder nem mesmo se comunica com o Facebook após o login; e mesmo que o fizessem, não há API que indique que o Tinder dê informações ao Facebook sobre amigos", disse. "Parece altamente suspeito que eles de fato compartilhariam tais dados com o Facebook e não vejo que benefício teria para qualquer uma das empresas."

A resposta pode estar em nossos telefones – o Facebook afirma basear suas sugestões em partes nos "contatos importados". Isso é algo que os usuários teriam que escolher no aplicativo móvel ou no desktop. Acontece que optar pela funcionalidade é bem mais fácil do que se imagina. Pode rolar meio que sem querer. Eu mesma nem lembro de ter aceitado importar meus contatos e, quando chequei meu "histórico de convites", vi que tinha +900 contatos salvos, aparentemente em sincronia e atualização contínua, o que logo foi removido. O Facebook alertou que isso poderia tornar as sugestões de amizade "menos relevantes".

Publicidade

Ok, este parece ser o ponto-chave aqui, mas não explica os usuários com quem conversei que viram contatos que nunca foram salvos em seus celulares como sugestões. Como o Facebook sabe sobre as pessoas com quem conversamos em outros aplicativos? David Liben-Nowell, professor de ciências da computação do Carleton College que estuda a estrutura e evolução das redes sociais, afirmou que poderia ser que as pessoas possam ter pesquisado seu nome anteriormente – uma precaução bem ok de ser tomada antes de se encontrar com alguém que conheceu na internet.

"Meu palpite é de que o Facebook está usando nomes pelos quais você pesquisou ou perfis que viu para sugerir amigos", disse via email. "Seria quase bobo se não o fizessem: se você mostrou algum interesse na pessoa enquanto usava o Facebook, então você praticamente disse ao site que talvez queira ter alguma relação com ela (seja isso um relacionamento do tipo OkCupid ou Facebook)."

Liben-Nowell disse ainda que não está claro se o Facebook sugere amizades com base em pessoas que pesquisaram por você também, mas que faria sentido incluir esta trilha de buscas em seu algoritmo.

"Tenho certeza de que muito do que está acontecendo é puramente psicológico", afirmou o pesquisador. "Você provavelmente nunca lembraria dos desconhecidos que aparecem como sugestão. Mas quando surge um conhecido, você lembra. E se é alguém do Tinder, você se assusta também – por mais que tenha sido só coincidência."

Publicidade

Lauren disse que só percebe pessoas com quem teve uma experiência ruim nas sugestões de amizade do Facebook.

"Pra mim é engraçado, mas entendo como poderia ser uma situação possivelmente assustadora para alguém, dependendo da pessoa", disse. "Sempre parecem ser aquelas com quem algo deu errado, com quem você se divertiu e simplesmente não rolou."

"Também pode ser coincidência. Mas não acredito muito nessas."

Hamachek disse que a relação Tinder-Facebook muito provavelmente é efeito colateral de algoritmos parecidos que trabalham para conectar pessoas.

"O Tinder funciona meio que da mesma maneira que os amigos sugeridos do Facebook: analisa seus amigos atuais e sugere outras pessoas no mesmo círculo de amigos com as quais você ainda não tem amizade", disse. "Estão tentando fazer a mesma coisa, então faz sentido que os resultados se assemelhem."

Com o ecossistema das conexões sociais cada vez mais obscuro, é difícil dizer de modo exato como "talvez conheçamos" essas pessoas. Qualquer um que já usou mais que um aplicativo de relacionamentos pode dizer quantas vezes se viu deslizando para esquerda ou para direita as mesmas pessoas, possíveis matches que estavam dentro de nosso alcance social ou geográfico e que ainda não haviam cruzado nossos caminhos.

Logo, assim como esbarrávamos em nossos ex que não deram certo no bar ou no mercado, agora esbarramos "pessoas que talvez conheçamos" mais vezes na internet.

Tradução: Thiago "Índio" Silva