​Por que o anticoncepcional masculino bateu na trave (de novo)?
Há décadas, os pesquisadores estudam métodos para segurar o ímpeto dos espermatozoides. Agora um teste de 96% de eficácia foi rejeitado. Por quê? Crédito: Wikimedia Commons

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​Por que o anticoncepcional masculino bateu na trave (de novo)?

Há décadas, os pesquisadores estudam métodos para segurar o ímpeto dos espermatozoides. Agora um teste de 96% de eficácia foi rejeitado. Por quê?

Desde os anos 60, as mulheres têm a sua disposição uma grande variedade de métodos para evitar uma gravidez indesejada: pílulas, injeções, dispositivos intra-uterinos, entre outros. Sempre foi responsabilidade da mulher fazer algum tipo de intervenção em seu corpo para que engravidasse. E, a depender da disposição dos pesquisadores, nada vai mudar no futuro próximo. Há décadas se investiga uma maneira de "brecar" os espermatozoides, mas nenhuma foi considerada boa o suficiente até hoje.

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Na mosca

O Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism publicou neste mês um estudo financiado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que poderia mudar a vida dos homens. Foram testados 320 homens entre 18 e 45 anos; eles receberam injeções de hormônios (uma mistura de testosterona e progestina) capazes de impedir a produção de espermatozoides. O teste foi um sucesso e diminuiu em 15 vezes o número de células reprodutivas expelidas pelos homens na ejaculação e evitou a gravidez nas parceiras. A taxa de efetividade foi de 96%.

Homem não chora

O anticoncepcional masculino foi vetado porque durante o estudo, muitos pacientes tiveram efeitos colaterais: queda da libido, taquicardia, acne, depressão e dificuldade em retomar a produção normal de espermatozoides (em poucos casos). O estudo foi interrompido porque o número de homens atingidos por esses problemas foi acima do normal em pesquisas semelhantes. Os pesquisadores julgaram que havia muitos riscos para os homens que serviram de cobaia.

Avanços da ciência

Os efeitos colaterais descritos nos homens são muito parecidos com os que as mulheres são obrigadas a aguentar em nome do planejamento familiar. Os métodos anticoncepcionais mais eficazes envolvem uma boa dose de interferência nos hormônios para que o ciclo reprodutivo natural delas seja interrompido. Um estudo recente mostrou que as mulheres que usam contraceptivos hormonais apresentam risco 40% maior de ter depressão. Sem falar no risco de desenvolver outros problemas associados ao uso prolongado dos anticoncepcionais. E por que o estudo dos homens foi encerrado se esses efeitos são conhecidos nas mulheres? Em primeiro lugar, porque hoje as pesquisas têm de seguir regras mais duras do que as de antigamente; por isso, o estudo não pôde continuar. Segundo, porque a taxa de incidência dos efeitos foi muito maior do que a média, o que levantou suspeitas de algum problema na execução da pesquisa.

Sem comunicação

A esperança ainda não morreu, no entanto. Outras técnicas estão sendo pesquisadas. A mais promissora é o chamado Vasalgel, um gel injetado nos canais que levam os espermatozoides dos testículos ao pênis (os vasos deferentes) e bloqueia a passagem dos "nadadores". É quase uma vasectomia – que envolve um corte nos vasos para impedir a passagem de maneira permanente. O gel pode ser dissolvido usando-se uma outra injeção, que o dissolve e deixa o caminho livre para a gravidez planejada.

Diogo Antonio Rodriguez é jornalista e editor do meexplica.com. Na coluna Motherboard Destrincha, ele resume os assuntos mais intrincados da ciência e da tecnologia. Siga-o no Twitter.