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Tecnologia

Por que Curtimos Tanto Plutão?

Algumas explicações sobre a afeição humana pelo planetinha anão.
Crédito: Stuart Rankin/ Flickr

Quando a sonda New Horizons da NASA se aproximou de Plutão esta semana, astrônomos se regozijaram do feito. Vários deles saíram bem sorridentes nas fotos que mostravam a reação da equipe depois da notícia. Mas não foi uma festa só para os nerds de assuntos espaciais: gente do mundo inteiro parou para prestar atenção, tuítar e falar sobre o assunto.

Apesar de um inegável marco histórico, a missão atraiu muito mais atenção pública do que outros episódios semelhantes. Foi a confirmação de que Plutão é um dos corpos celestes mais amados por nós, humanos. Não é? Existem associações dedicadas a reclassificá-lo como planeta, dezenas de camisetas e pôsteres estrelando o planeta-anão e até mesmo canções compostas sobre ele. Então o que tem nessa coisinha distante e congelada que deixa a gente quentinho por dentro?

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"Antes desse negócio todo de planeta e anão, Plutão sempre foi encarado como o azarão", afirmou Joel Parker, astrônomo da NASA e integrante da equipe científica da New Horizons. "Você tem aí todos esses planetas gasosos enormes e aí essa coisinha. O Plutãozinho fica quase do lado de fora, como se alguém o tivesse deixado para trás. E isso gera alguma empatia."

De fato a linguagem e estética que usamos ao tratar de Plutão na cultura pop representa uma espécie de pena em relação a um planeta tão diferente do nosso, tão pequerrucho e frio que sofre com o isolamento do resto da família planetária. Humanos têm uma tendência a antropomorfizarem objetos inanimados e parece que Plutão virou um alvo muito querido para tal hábito. Preferimos ele ao poderoso Júpiter. E não ficamos tão encantados pelo cerúleo Netuno da mesma forma.

A mudança de planeta para planeta-anão talvez tenha algo a ver com isso. Quando descobriram Plutão, pareceu certo classificá-lo como planeta porque era bem difícil detectar seu tamanho e massa. As melhores estimativas dos astrônomos supunham que tinha mais ou menos o tamanho de Marte. Somente em 1978, quando o satélite de Plutão, Caronte, foi descoberto, que tivemos uma noção mais precisa do tamanho correto. Com diâmetro inferior a 2.400 km e uma massa de 1/400 em relação à da Terra, os astrônomos não botavam muita fé que se tratava de um nono planeta.

Mas no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, começamos a aprender mais sobre o cinturão de Kuiper — a região além dos planetas que é lar de centenas de pequenos objetos, tais como asteroides — e seus corpos celestes após Plutão. Isso deixou ainda mais claro que o tal planeta não combinava muito com os outros em nosso sistema.

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Plutão manteve seu status planetário até 2006, quando a União Astronômica Internacional decidiu, em votação, em sua assembleia geral anual, criar uma nova classificação para corpos celestes: o planeta-anão, que incluiria Plutão.

O fato causou muita controvérsia não só no mundo da astronomia como no público em geral. Pessoas fizeram petições para que Plutão voltasse a ser planeta. Houve protestos. Anos depois ainda discutimos o assunto. Parecia haver um apego sincero ao nosso planetinha. Durante décadas, Plutão era tido como o nono, menor e mais distante planeta do sistema solar, e a sua reclassificação, pô, mexeu com muita gente.

"Todos crescemos com essa noção de que o sistema solar tem nove planetas. Era o tipo de coisa que tomávamos como certa", afirmou ao telefone Robert Cockcroft, astrônomo da McMaster University, no Canadá. "Quando os astrônomos decidiram mudar isso, havia muita emoção envolvida na decisão."

Cockcroft disse que há outros bons motivos pelos quais as pessoas sejam fascinadas por esta missão em detrimento das outras. Além do mérito científico, o público em geral testemunha um evento que é um verdadeiro marco na exploração humana de nossos sistema solar. Quando a New Horizons foi lançada, Plutão ainda era um planeta e era o único que faltava ser explorado por nós.

"As pessoas da minha geração não são velhas o bastante para terem acompanhado as primeiras missões para outros planetas: Júpiter, Saturno, Urano e Netuno que ocorreram nos anos 70", disse Cockcroft. "Esta missão rumo a Plutão é a nossa primeira e última chance de ver, em tempo real, a aproximação de um dos maiores corpos do sistema solar. É incrível."

Afora a desclassificação, Plutão há tempos tem valor sentimental para astrônomos e interessados no espaço, de acordo com Simon Porter, pesquisador de pós-doutorado da equipe New Horizons. O planeta-anão foi descoberto por Clyde Tombaugh na década de 30, com tecnologia mecânica, batizado por uma menina de 11 anos e um marco dos confins que jamais poderíamos imaginar explorar em nosso próprio sistema solar. Esta ligação com a história de Plutão ultrapassou gerações, mesmo com o surgimento de um panorama mais claro de nossos sistema solar pós-Plutão. Quando a New Horizons foi lançada, em 2006, parte das cinzas de Tombaugh foram levadas a bordo.

"Era um pontinho de luz muito distante", explicou Porter. "Por muito tempo era a única coisa que sabíamos que estava ali e isso é especial para muitos."

Tradução: Thiago "Índio" Silva