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Tecnologia

Pessoas com este Gene Percebem as Emoções de Forma Mais Intensa

Donos dessa variante estão mais sintonizados com informações emocionais do mesmo jeito que os artistas têm sensibilidade superior para aspectos visuais do mundo.
Crédito: _DJ_/Flickr

O mundo lhe parece mais nítido em tempos de dor ou prazer intensos?

Se você berrou que sim e assustou a pessoa ao lado, é bem capaz que seu corpo carregue uma variante de gene que o faz ver imagens emocionais de modo mais nítido, segundo pesquisa da Universidade da British Columbia, publicada há alguns dias no The Journal of Neuroscience.

O gene específico é uma variante do supressor do ADRA2b, o que significa que faltam alguns elos na cadeia do DNA em comparação com sua cópia padrão. As pessoas com essa variante estão mais sintonizadas com informações emocionais da mesma forma que os artistas têm sensibilidade superior para aspectos visuais do mundo, afirmou a psicóloga e autora principal do artigo Rebecca Todd.

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"Artistas visuais em particular são muito sensíveis para cores, contrastes e luz", diz. "Acredito que os portadores do supressor são muito parecidos com artistas em sua percepção das nuances emocionais ao seu redor." Em contraste, ela descreve a si mesma como "não sendo portadora do supressor e bem sem graça", uma pessoa que não presta muita atenção aos aspectos emocionais do mundo.

O estudo considerou 39 alunos de graduação, caucasianos, da Universidade de Toronto, e os submeteu a tomografia enquanto observavam imagens positivas, negativas e neutras. Vinte e um eram portadores da variante do supressor.

As imagens negativas incluíam elementos como "cobras assustadoras ou pessoas mutiladas; um bebê com tumor em um olho bastante angustiante", afirmou Todd. Um exemplo de imagem neutra poderia ser alguém parado próximo a um carro ou dentro de um elevador. Foi mais difícil obter imagens positivas, diz a pesquisadora, sobretudo porque a intenção era que elas fossem tão intensas como as imagens negativas. "Havia bastante material erótico dos anos 1980", ela riu.

Todas as imagens foram sobrepostas com uma quantidade de ruído visual, que se assemelhava à estática em um aparelho de televisão. A tarefa dos participantes era estimar o ruído de uma dada imagem em comparação com a versão da mesma imagem embaralhada digitalmente, para que ela aparecesse similar no contexto visual e isenta de sentido emocional.

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A tendência é que as pessoas vejam menos estática nas imagens de conteúdo mais positivo ou negativo, um efeito que os cientistas descrevem como intensidade emocional avançada. Mas, para aqueles com a variante do gene, a clareza percebida é muito, muito mais forte. Suas tomografias também apresentaram muito mais atividade nas áreas que regulam as emoções e interpretam prazer e ameaça. "É um resultado muito, muito poderoso", afirmou Todd. É raro que um estudo no efeito do comportamento de um gene apresente uma correlação tão forte com uma amostra tão pequena, ela afirmou.

A pesquisa pode ajudar a explicar por que algumas pessoas são mais suscetíveis ao transtorno do estresse pós-traumático depois de um acontecimento angustiante. "Estou muito empolgada com a perspectiva de como essa diferença genética, em interação com outros genes e experiências, influencia o aprendizado emocional", afirmou Todd. Ela planeja estudar se portar ou não essa variação do gene pode predispor alguém à ansiedade ou dependências. "Se você compreende o valor de um medicamento mais rapidamente, significa que está mais vulnerável para se tornar viciado nele?", ela questiona.

Mas nem tudo são más notícias para os portadores do gene. Aqueles que são mais sensíveis também são mais hábeis na seleção de informações importantes em meio à enormidade de dados benignos com os quais somos bombardeados todos os dias. Estímulos positivos vêm de modo mais forte e são mais facilmente recordados, de acordo com Todd.

A prevalência da variação pode variar um pouco entre grupos étnicos, o que não é incomum. Enquanto se estima que 50% dos caucasianos tenham essa variante do supressor, um estudo com ruandeses o encontrou em somente 10% da população.

A variante do supressor do ADRA2b é um excelente indicador de que uma pessoa perceberá intensidade emocional avançada, mas não significa que um único gene pode ser indicador de certos comportamentos ou experiências. Assim como tudo no emaranhado de neurônios que compõem nosso cérebro, a forma como vemos o mundo é moldada por uma interação complicada de diferentes genes além das memórias e experiências vividas.