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Tecnologia

Os Heróis Esquecidos Por Trás da Música dos Videogames Antigos

O diretor de documentários e músico Nick Dwyer ainda se lembra onde e quando ele percebeu que jogos de videogame tinham compositores musicais. Sua epifania veio com Streets of Rage.
Um dos muitos heróis esquecidos. Créditos: YouTube

O diretor de documentários e músico Nick Dwyer ainda se lembra onde e quando ele percebeu que jogos de videogame tinham compositores musicais. Sua epifania veio com Streets of Rage. "O nome dele aparece na tela inicial, 'Música por Yuzo Koshiro'", Dwyer me contou via Skype. "E é tipo 'Uau. Quem é esse cara?' Foi a primeira vez que o papel da música foi elevado. E isso foi uma grande coisa."

Apesar de sua influência, os homens e mulheres que compuseram as trilhas para jogos de consoles de 8-bit e 16-bit permanecem em grande parte desconhecidos fora do Japão. O desejo de trazer à luz os "heróis esquecidos" dos primórdios dos videogames é parte do que motivou Dwyer a se juntar à Red Bull e fazer uma série de documentários, "Diggin' in the Carts", sobre eles. O nome da série foi inspirado na busca de Dwyer por lojas japonesas de games antigos, como um DJ que procura por novos discos.

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O episódio final saiu no dia 9 de outubro, então já dá para passar a noite em claro, ou o fim de semana, vendo tudo. Ao assistir à série, você finalmente conhece os compositores e músicos inspirados por aquela trilha. E isso inclui todo mundo da Dizzee Rascal, em Londres, até a Flying Lotus, em Los Angeles. Também tem várias filmagens extra em Tóquio, e gravações de jogos e consoles japoneses antigos, se você curte esse tipo de coisa – eu curto, e é demais.

Quando eu era menor, nunca me ocorreu que alguém – alguém da vida real – tinha composto a música que tocava enquanto eu me matava e morria nos jogos de videogame. Mas eu não era uma criança muito esperta, então se eu descobrisse que a Nintendo tinha empregados, eu certamente teria suposto que eles é quem controlavam os Goombas, e Dwyer, sendo neozelandês, foi educado e paciente o suficiente para concordar. "Quando você é criança, não pensa que tem alguém que está tipo 'ok, hora de fazer um rock progressivo usando três canais.' A música só toca e te ajuda durante o jogo."

Dwyer ressaltou que a Nova Zelândia é uma nação muito apaixonada pelo Megadrive, da Sega, e concordamos que Sonic tinha uma das melhores trilhas sonoras. Ela era e, portanto, sempre será a minha favorita.

Mas para uma geração de gamers e músicos, a trilha dos videogames tem sido uma inspiração. Não só para os artistas de chiptune, cuja música parece ter saído de um cartucho de 8-bit – mas até músicos de hip-hop citam trilhas de videogame como influências. Sem contar que trilhas de videogames já serviram de arranjo para corais e duos de jazz no metrô, que fizeram uma serenata no trem que peguei certa tarde, com o famoso tema de Mario.

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"Descobri que, com a internet agora, basicamente qualquer coisa que te inspirou quando você era criança – não importa o quão obscuro seja seu gosto musical – você consegue achar e investigar", disse Dwyer. "No caso desses compositores japoneses, que exerceram uma influência enorme na nossa juventude, sempre achei muito louco, incrível até, como há poucas informações sobre eles por aí. Óbvio, para quem fala japonês, é meio difícil de fazer buscas em kanji no Google, mas…"

A não-divulgação, apontou Dwyer, era parte do pacote naquela época. Pode ser que hoje exista um culto devoto ao "baixo Sunsoft", som presente em jogos da Sunsoft, mas Naoki Kodaka e o resto do time da Sunsoft não sabiam disso até recentemente. Para eles, nos anos 1980, estavam apenas indo trabalhar.

"Parando para pensar, é um tipo de criatura estranha, toda essa noção de ser um músico e passar o tempo inteiro num escritório, numa posição de assalariado", ele disse. "Passar a jornada de trabalho fazendo música, sem nenhum feedback. Qualquer músico pode fazer um show, para 15 pessoas que sejam, e ter uma noção de como o público responde ao trabalho deles."

Outras limitações, no entanto, geravam criatividade. Dwyer discorreu sobre como as origens disso talvez remetem a práticas antigas da cultura japonesa e formas de arte tradicional, como a poesia haiku e a técnica de arranjos florais ikebana, ambas práticas que "dizem muito com pouco". Mas limitações tecnológicas engendradas na arte não são exclusivas da música de videogame.

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"Há ecos disso na produção de música eletrônica antiga – jungle, o começo do house – são produtores tentando espremer o máximo que eles podiam dentro dessas limitações", disse Dwyer. "Esses caras gostavam do desafio. Acho que, com a memória e o loop dos velhos consoles 8-bit e 16-bit, o foco era fazer boas melodias que não cansassem as pessoas… Queriam criar trilhas que não enjoassem as crianças quando elas ficassem presas em fases difíceis."

Enquanto falávamos disso, me lembrei dos tempos em que a trilha dos jogos de videogame tinha o efeito oposto: quando o tempo estava acabando, a música acelerava.

"Pensando nisso, capaz que seja o primeiro momento da vida em que nos deparamos com o estresse", Dwyer riu. "Talvez seja algo a ser explorado na segunda temporada. Lembro da versão acelerada da música em Street Fighter 2, era incrível. Tomou anos da minha vida, admito."

Dwyer fez esse trabalho com amor e a série está no Youtube na íntegra.

Tradução: Stephanie Fernandes