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Tecnologia

Os Brinquedos Sexuais Estão Cada Vez Mais Inteligentes

Eu achava que as calcinhas vibradoras que meu namorado controlava do estacionamento eram a vanguarda da tecnologia. Como eu estava errada!
Crédito: Lia Kantrowitz

Quando eu estava no colegial, achava que as calcinhas vibradoras que meu namorado controlava do estacionamento eram a vanguarda da tecnologia. Como eu estava errada!

"As coisas que costumávamos vender nem deixamos entrar nas dependências da loja mais", conta Claire Cavanah, cofundadora da ​Babeland, o destino glamuroso para quem busca brinquedos sexuais top de linha.

Relembrar os brinquedos sexuais do passado com Cavanah causou uma careta compartilhada: eles eram da cor da carne, venosos, tóxicos e vergonhosos. Quando Cavanah e sua cofundadora, Rachel Venning, abriram a primeira loja, em Seattle, brinquedos sexuais eram amplamente vistos como apoio marital — auxílio para mulheres "frígidas" que tinham dificuldade para gozar. Agora, brinquedos sexuais são usados como aprimoramento tecnológico do sexo; muitos são exibidos com orgulho em criados-mudos, em vez de ficarem escondidos nas gavetas de baixo.

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Para vermos até onde chegamos em termos de orgasmo, e espiarmos o que futuro nos guarda, conversei com Cavanah e outros gigantes da indústria sobre as mudanças físicas e sociais dos brinquedos sexuais desde a minha iniciação. Segundo eles, o futuro é instigante: se as tendências atuais seguirem rumo, logo teremos produtos "inteligentes" entre as pernas que sabem exatamente como nos excitar.

Para qualquer mulher que, nos últimos dez anos ou mais, incluiu vibradores em seu repertório sexual, brinquedos recarregáveis são um avanço considerável. De acordo com o ex-CEO da ​JimmyJane, Kenny Hawk, alguns dos desenvolvimentos mais inovadores surgiram no embalo da indústria sem fio — celulares, wifi e coisas boas do gênero.

"Com baterias de íons de lítio ou polímeros de lítio, oferecemos vibradores recarregáveis, que duram bastante e são extremamente potentes", diz Hawk. "Não dava para fazer isso 10 anos atrás com a tecnologia de níquel-cádmio."

Logo teremos produtos "inteligentes" entre as pernas que sabem exatamente como nos excitar

A capacidade de fabricar produtos que podem ser usados sem arrastar um cabo de extensão pela cama ajudou a impulsionar a indústria rumo ao mainstream. Embora a nova geração de brinquedos fosse mais cara no começo, eliminar o custo das baterias acabou com a lacuna de preço — e certamente evitou momentos de constrangimento, com o roommate procurando as pilhas do controle remoto. Segundo Cavanah, a facilidade de plugar um vibrador numa entrada USB foi uma revelação, especialmente em casos de viagens longas e solitárias a negócios.

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Mas não é só o interior do brinquedo que conta.

A JimmyJane não foi criada por especialistas em tecnologia, mas por designers industriais que queriam oferecer uma alternativa aos pintos cabulosos do passados, projetando aparelhos macios e ergonônimos em formatos e materiais esteticamente agradáveis. Talvez mais importante seja a maneira como a nova ênfase em materiais apresentou aos consumidores brinquedos sexuais que finalmente são seguros. Os materiais apropriados para o corpo humano agora são a norma — principalmente silicone adaptável ou silicone medicinal. Mas nem sempre foi assim.

"[Gerações prévias de brinquedos sexuais] eram praticamente venenosas", diz Cavanah, referindo-se a brinquedos feitos de ftalatos, materiais esponjosos e gelatinosos que, sabemos hoje, estão ligados a uma série de problemas de saúde. "E ninguém se importava, ou ninguém podia dizer que se importava."

"Sequer havia informações sobre os materiais dos produtos, e mesmo assim, as pessoas os inseriam nas partes mais íntimas do corpo", diz Hawk.

Ftalatos amolecem plástico e borracha, mas foram banidos para uso em produtos infantis e cosméticos por conta da ligação com certos tipos de câncer e infertilidade. "Quando a indústria começou, muitas lojas instruíam os consumidores a usarem camisinha por cima do produto, para se protegerem", diz Kenny.

A revolução do design industrial em brinquedos sexuais ampliou o mercado, gradualmente transformando a posse de brinquedos femininos em norma. Hoje, as mulheres conversam sobre o uso e até exibem os vibradores em casa como troféus de independência sexual.

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"Esta geração está construindo coleções de brinquedos e exibindo tudo no topo da penteadeira. As pessoas saem para fazer compras juntas", diz Hawk.

Evidentemente, nem todo mundo está disposto a se equipar de vibradores, e ainda temos uma longa estrada antes da adoção dos brinquedos virar mesmo mainstream. Talvez o maior impedimento para uma adoção mais popular são os homens — especificamente, homens que se sentem ameaçados por vibradores e pelas implicações das mulheres encarregadas de sua própria sexualidade. Tanto Hawk quanto Cavanah reconhecem que alguns homens se sentem reticentes quanto a brinquedos sexuais em suas transas.

"Todo mundo quer ser fantástico na cama. Sentir-se superado por um vibrador é triste", diz Cavanah. "Quem tem medo de um vibradorzinho?" Além disso, vibradores projetados para excitar mulheres podem intensificar o sexo para ambos os parceiros. "Há mulheres que curtem bastante o sexo, mas ainda há coisas que elas não conhecem." Brinquedos sexuais podem informá-las sobre como seus corpos funcionam", diz Cavanah. Se as mulheres entenderem melhor o que querem e souberem se comunicar melhor, isso tiraria o fardo dos parceiros.

Será que os homens têm ciúmes desses brinquedos incríveis para mulheres?

Enviei um email a Brian Sloan, inventor do ​Autoblow2, para compreender melhor a questão. O Autoblow faz exatamente o que você está imaginando — simula um boquete com uma máquina sem utilizar as mãos. Quando expliquei o caráter transgressor de um orgasmo feminino com um vibrador, e perguntei como os brinquedos masculinos se comparavam a isso, Sloan explicou que masturbadores para homens "melhoram a sensação física, em oposição às próprias mãos do usuário." Não é necessariamente mais fácil de gozar, mas a textura úmida e esponjosa é mais próxima do ato real." Então, o Autoblow2 vence as mãos, mas a vagina ainda vence o Autoblow 2. Parece que nenhum brinquedo masculino no mercado supera a textura de uma vagina de verdade. Ainda assim, Sloan me contou que tem esperança: "Inventei o Autoblow 2 pela sensação realista, porque masturba os caras automaticamente, permitindo com que eles vivenciem a sensação de que algo é feito para eles, versus a sensação deles mesmo fazendo algo consigo. O futuro dos brinquedos masculinos está na automatização, dado o nível intensificado de realismo que os brinquedos podem oferecer." Sloan estima que entre 10 e 15 mil masturbadores masculinos são vendidos por dia só nos EUA, o que está longe de ser um número raso.

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A fronteira final da indústria de brinquedos sexuais será a customização

Eu não diria que um orgasmo com um vibrador é melhor que sexo, certamente é diferente; são maçãs e bananas. Então, em vez de temer um futuro com brinquedos sexuais, amantes inteligentes deveriam acatá-los na cama.

"Um vibrador não substitui a conexão humana", Hawk me garantiu. "Embora seja difícil de bater o ​Form 2", ele acrescentou, referindo-se a um vibrador manual que lembra um coelho cujas orelhas foram feitas para contornar o clitóris.

De fato, é possível observar uma mudança recente em produtos, direcionados mais a casais hoje, como o ​Hello Touch, da JimmyJane, que contém dois vibradores individuais, em forma de dedos, num bracelete. E há também o mundo dos teledildonics — brinquedos que imitam a interação humana via outros usuários, que podem estar do outro lado do oceano, ou até mesmo na Lua.

Mas além desses produtos relativamente convencionais, a fronteira final da indústria de brinquedos sexuais provavelmente será a customização. Kenny acredita que estamos a caminho de brinquedos avançados e especializados, em oposição ao esquema "tamanho único", que prevalece até hoje.

"Serão inteligentes", diz Kenny. "Por exemplo, eles entenderão o interior de cada vagina: temperatura, pressão, umidade, talvez até fluxo sanguíneo. Cada pessoa tem um orgamo próprio, único, como uma impressão digital. Então, à medida que os produtos ficarem mais inteligentes, poderão ser ajustados de acordo, em vez de terem cinco velocidades e quatro módulos, e os fabricantes torcerem para que isso funcione para todo mundo."

Ou seja, temos muito o que esperar — a libertação dos brinquedos sexuais, o aperfeiçoamento de suas qualidades orgásticas e talvez até o potencial para destravarem aspectos ocultos da sexualidade de cada um. Não acho difícil imaginar um mundo onde todos nós nos masturbamos com esses brinquedos sexuais com mais frequência do que copulamos. Mas, no fim das contas, o verdadeiro atributo será nossa capacidade de incorporar os brinquedos às nossas vidas com responsabilidade, ao passo que evoluimos como sociedade e apreciamos o poder do sexo com sentimento. Isto é, se essa for a sua praia. De qualquer forma, o futuro é brilhante.

Este artigo faz parte dos Corpos​ do Futuro, uma colaboração entre o Motherboard e a LadyBits. Siga a LadyBits no Twitter e no Facebook.

Tradução: Stephanie Fernandes