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Tecnologia

​Os Aviões do Futuro Não Terão Janelas

Por que todo mundo está querendo desenvolver um avião sem nenhuma janelinha.
Crédito: CPI

Espero que você não seja muito ligado a olhar pelas janelas quando está no avião – os designers dos aviões do amanhã aparentemente querem se livrar delas. Um escritório de design parisiense causou alvoroço recentemente ao lançar seu conceito de um elegante avião com painéis solares e sem janelas. Antes disso, a Airbus propôs se livrar das janelas e construir suas cabines a partir de polímeros transparentes. Agora, o Center for Process Innovation acaba de lançar seu próprio conceito de aeronave sem janelas, que tem chamado bastante atenção também.

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Por conta de uma regra um tanto quanto arbitrária criada por alguém, diz-se que três configuram uma tendência, então creio que temos mesmo que considerar a possibilidade de que voar no futuro não incluirá portais de plexiglass para o céu lá fora.

Mas saiba que todos estes projetos são conceituais; nenhuma companhia aérea está pronto para lançar seus 757s sem janelas tão cedo.

Mas há uma boa razão por trás desta eliminação de janelas proposta – instalá-las nos aviões significa que você tem que reforçar a fuselagem, o que deixa as aeronaves mais pesadas, bebendo mais combustível. Eis uma razão pela qual cargueiros não tem janelas.

O CPI calcula que a cada 1% de redução no peso, os aviões economizam 0,75% em combustível. E isso é muito. As companhias aéreas queimam centenas de milhões de litros de combustível todos os meses – certamente o maior gasto da indústria. Reduzir o peso de determinado avião mesmo em 5% teria os mais variados efeitos nas margens de lucro de uma companhia aérea, bem como nos preços das passagens.

No projeto, a CPI substitui as janelas por OLEDs (diodos emissores de luz orgânicos) de baixo consumo que poderiam utilizar câmera para transmitir de forma realista o ambiente externo com uma visão panorâmica que poderia ser ligada ou desligada pelos passageiros.

No começo deste ano, o escritório parisiense Technicon Design ganhou um prêmio pelo seu conceito de jato sem janelas IXION. Este era notavelmente similar; também buscando a utilização de câmeras externas no avião para possibilitar uma "visão em 360 graus" da paisagem, projetada em telas de alta resolução no interior da cabine. A Technicon também afirmou que isso permitiria que a estrutura da aeronave fosse mais flexível e leve.

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Alguns anos antes disso, a gigante da aviação comercial Airbus sugeriu a ideia de se livrar das janelas em seus futuros projetos para 2050. A empresa propôs o uso de biomimética, transformando a cabine em uma espécie de colmeia aérea mutcho loka/aterrorizante.

"Uma membrana de biopolímero controlaria luz, umidade e temperatura, podendo tornar-se transparente ou opaca com o pressionar de um botão, eliminando a necessidade de janelas", explicou a Discovery News.

A Airbus continua nessa, aliás – recentemente a empresa pediu o registro de uma patente para cockpits sem janelas.

E ok, tudo isso é bacana, mas estes substitutos ultrafuturísticos para as janelas levam a questão – quem diabos usa as janelas mesmo? Pra começo de conversa, só o passageiro ao lado delas aproveita a paisagem.

Há cerca um ou dois anos atrás, estive em um voo transatlântico da Europa a Nova York, e lembro de sobrevoar a Groenlândia, perto o bastante para ver os brancos e azuis espetaculares de suas geleiras, e até mesmo o que pra mim parecia uma catarata causada pelo derretimento. Foi um daqueles momentos literalmente de tirar o fôlego – eu meio que solucei/arfei alto – e olhei pela cabine em busca de alguém tão extasiado quanto eu.

Não. Todo mundo estava assistindo a filmes ou à televisão nos monitores dos assentos, ou em seus iPads, ou então dormindo. Desde então tenho me impressionado com o quanto ignoramos estas janelas, que oferecem a qualquer um que compre uma passagem de 220 dólares a Phoenix uma visão da terra sem precedentes na história da humanidade, possibilitada por maravilhas tecnológicas com apenas algumas décadas de idade. Nós só parecemos prestar atenção nelas quando alguém abre uma janela em meio ao sol do amanhecer, enviando um forte raio de luz que faz com que passageiros que estavam dormindo emitam grunhidos raivosos.

Acho que essa é uma forma prolixa de afirmar que as janelas de aviões, e as imagens de Google Earth da vida real que elas nos relevam, foram banalizadas e desmistificadas; nós nem ligamos mais.

Enquanto isso, as viagens de avião constituem um problema cada vez mais espinhoso para nosso futuro restrito em recursos e de clima em mudança. Este meio de transporte altamente poluente precisará cortar radicalmente o consumo de combustível de qualquer jeito; quando e se o carbono for precificado, ou quando o petróleo tornar-se escasso novamente, os aviões terão que se tornar mais leves ou correrão risco de extinção (ou serão exclusivos daqueles que podem pagar os altos preços do combustível).

Com isso em mente, há a chance de um future bem viável em que não faremos nada; continuaremos queimando petróleo até que ele acabe - manteremos nossos antiquados aviões forrados de janelas. Levando em conta que já voei em aeronaves que ainda tem cinzeiros, herança dos anos 70, e que as companhias aéreas detestam fazer grandes investimentos em novas tecnologias, diria que isso é bem possível. Ao menos poderemos ver a Groenlândia enquanto a derretemos.

Tradução: Thiago "Índio" Silva