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Tecnologia

​O Zika Vírus Está Cada Vez Mais Eficiente

Estudo de pesquisador da USP afirma que o vírus tá mais esperto na hora de infectar humanos.
O mosquito Aedes aegypti, transmissor do Zika vírus. Crédito: Wikimedia Commons

Na última terça-feira (1), a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um alerta sobre a epidemia de Zika vírus no Brasil. De acordo com o documento, 18 estados brasileiros já registraram a presença do vírus, associado com casos de microcefalia e síndrome de Guillain-Barré. As regiões Norte e Nordeste estão em alerta desde outubro, quando a presença do vírus começou a crescer. Agora todas as regiões do país apresentam casos.

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Até agora, a OMS aponta em seu relatório que três mortes – dois adultos e um recém-nascido – foram causadas pelo vírus. O primeiro caso letal de microcefalia associada ao Zika ocorreu no fim de novembro no Pará. O genoma do vírus foi encontrado em amostras de pele e sangue de um recém-nascido que viveu por apenas cinco minutos após o parto. De acordo com o documento de alerta da OMS, o número de casos de microcefalia de novembro para cá cresceu mais de 20 vezes em comparação aos dados de 2014.

Nos outros dois casos de morte, amostras do Zika vírus também foram encontradas em exames de sangue. A primeira vítima era um homem com histórico de doenças neurológicas e lupus; a segunda, uma mulher sem nenhum problema de saúde aparente. Ambos foram diagnosticados com dengue a princípio, mas novos laudos descartaram essa possibilidade e apontaram a infecção pelo Zika.

Mapa comparativo entre 2014 e 2015 dos casos registrados de microcefalia associados ao Zika vírus no Brasil. Crédito: OMS

Uma das maiores dificuldades em lidar com a doença causada pelo Zika é que os sintomas em adultos são muito parecidos com os da dengue. Tanto o Zika quanto o vírus da dengue são transmitidos pelo mesmo mosquito, o velho conhecido Aedes aegypt. Por enquanto, de acordo com especialistas e com o relatório da OMS, o único jeito de conter a epidemia é por meio do controle de população do mosquito, uma vez que não existe vacina nem tratamento específico para as doenças causadas pelo Zika.

E parece que não essa não deve ser a única dificuldade a enfrentar. Um novo estudo da Universidade de São Paulo (USP), publicado no site de artigos ainda não-revisados bioRxiv, sugere que o Zika tem se tornado mais eficiente para infectar humanos. A pesquisa diz que vírus está se adaptando para conseguir se replicar com mais habilidade. "O vírus está mudando o que a gente chama de utilização de códons preferenciais. Ele está mutando e muda os códons para os códons que são preferidos pela utilização de humanos", diz o pesquisador Paolo Marinho de Andrade Zanotto, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da USP e um dos autores do artigo. "Assim é mais eficiente a tradução: ele consegue produzir mais proteína viral e, com isso, consegue ser mais eficiente na replicação em humanos".

Em genética, os códons são uma trinca de bases nitrogenadas do RNA mensageiro. A etapa de tradução, a grosso modo, é o processo final de leitura desses códons para produção de proteínas do código genético das células.

Para o professor, "à medida que o Zika vai se espalhando na população humana, ele vai negociar com a imunidade humana para sobreviver".

As pesquisas sobre o Zika ainda engatinham, diz Zanotto. Isso significa que não dá para ter certeza se o aumento do número de casos de microcefalia e da síndrome de Guillain-Barré estão ligados à adaptação mais eficiente do vírus. Para esclarecer essa e outras questões acerca do Zika, está em andamento uma parceria com cerca de 25 laboratórios pelo estado de São Paulo para monitorar seu espalhamento e entender seu comportamento.

O processo de análise não deve ser tão simples. "No momento, o que a gente tem que fazer é começar a coletar material, estudar e chegar às conclusões à medida que os estudos forem saindo", diz Zanotto. "A gente precisa começar a isolar vírus de paciente, acompanhar os pacientes, estudar a interação do vírus, estudar esse vírus em culturas de tecido e acompanhá-lo nas pessoas, no tempo e no espaço, e começar a entender como funciona essa questão da patologia dele. É pesquisa básica bem séria e bem difícil de ser realizada, mas já estamos começando", pontua.