O que a Ciência Diz Sobre a Relação Entre Signos Zodiacais e Personalidade?
Crédito: Chris Lexow/ Flickr

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O que a Ciência Diz Sobre a Relação Entre Signos Zodiacais e Personalidade?

Más notícias para quem curte espiar o horóscopo.​

(Este artigo foi formado a partir de excertos de dois capítulos do ebook O Livro da Astrologia: Um guia para céticos, curiosos e indecisos, do escritor e jornalista de ciência Carlos Orsi, a ser lançado em 5 de dezembro.)

Os signos zodiacais – a posição do Sol, da Lua e dos planetas em relação ao pano de fundo do zodíaco, tal como registrada na hora do nascimento de uma pessoa – estão entre as características mais populares da astrologia. O signo solar (a posição do Sol) é um favorito. Perguntar "qual é o seu signo?" virou um jeito de quebrar o gelo numa conversa quase tão batido quanto comentar sobre o tempo; eu apostaria que todo mundo tem pelo menos uma colega de trabalho que se declara "perfeccionista como toda boa virginiana" ou coisa parecida, e não é difícil encontrar blogueiros e colunistas de publicações "de comportamento" que assinam seus textos como "Fulano de tal, signo tal".

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Poder ser um choque, portanto, descobrir que a importância dos signos zodiacais em geral, e do signo solar em especial, é o aspecto da astrologia mais consistentemente desprovado e invalidado, teste após teste, em trabalhos realizados tanto por céticos quanto por astrólogos. "Falando francamente, os signos do zodíaco não têm valor nenhum", afirma o psicólogo francês Michel Gauquelin (1928-1991) em seu livro The Truth About Astrology ("A verdade sobre astrologia", em tradução livre).

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A base empírica para a declaração de inutilidade do zodíaco feita por Gauquelin é ampla, e dela constam, entre inúmeros trabalhos com resultado negativo, dois estudos realizados pessoalmente por ele. O primeiro, de 1978, avaliou o peso de algumas influências, tidas como fundamentais, do zodíaco – signo solar, signo ascendente, signo lunar, posições planetárias dentro dos signos, meio do céu – no sucesso profissional.

Armando-se com datas e horários de nascimento de 15 mil europeus bem sucedidos em suas profissões, dentro de dez carreiras diferentes, o pesquisador buscou correlações entre os aspectos astrológicos e o sucesso. Não encontrou nada. Zero. Bola. Niente.

"Como se pode imaginar, essas observações foram criticadas por astrólogos", escreveu Gauquelin, ao apresentar seus resultados na revista Skeptical Inquirer, em 1982. "Astrólogos alegaram que o sucesso profissional era um critério muito grosseiro" e que as sutilezas das influências zodiacais só ficariam claras na avaliação das características de personalidade dos indivíduos. Então, ele foi atrás das personalidades.

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Para isso, o pesquisador mergulhou em sua base de dados de profissionais eminentes, vasculhando as biografias desses personagens e filtrando delas mais de 52 mil características de personalidade – como "corajoso", "energético", "sutil", "satírico" – que pudessem ser cotejadas com as características típicas dos signos zodiacais, tais como dadas em oito manuais de astrologia, escritos por astrólogos e publicados entre 1925 e 1978. Em seguida, os perfis de personalidade de 2 mil dos profissionais destacados, que constavam dos arquivos de Gauquelin, foram cruzados com os perfis típicos ou ideais dos signos, dados pelos oito autores.

O estudo não se limitou aos signos solares, mas também ao ascendente e ao signo lunar. Se houvesse alguma validade nas alegações astrológicas, seria de se esperar um excesso de pessoas com Áries em evidência – fosse como signo solar, signo lunar ou ascendente – entre as definidas em suas biografias como "corajosas", "audazes" e "pioneiras", por exemplo. O resultado foi, mais uma vez, negativo.

"Há, inclusive, algumas notáveis contradições", anota Gauquelin. "Por exemplo, as palavras-chave para os signos passionais e agressivos de Áries e Escorpião correspondem a um número máximo de pessoas nascidas com o Sol em Câncer, um signo sensível e sonhador, e assim por diante."

Uma análise estatística detalhada revelou que a taxa de acertos dos astrólogos cai com o aumento do tamanho da amostra

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Em tempos mais recentes – no ano de 2011, para ser exato –, o psicólogo especializado em Recursos Humanos Renier Steyn, da Universidade da África do Sul, publicou um estudo buscando correlação entre os perfis psicológicos de mais de 65 mil sul-africanos desempregados (que preencheram seus questionários de personalidade como parte de um processo de recrutamento) e signos solares. Para surpresa de ninguém, a conclusão foi de que "configurações planetárias (…) não têm efeito comportamental sobre seres humanos".

É verdade que existem alguns poucos resultados positivos em estudos desse tipo em meio à enorme massa de refutações, mas esses trabalhos costumam sofrer de baixa qualidade estatística ou da influência de fatores extra-astrológicos.

O estudo favorável à astrologia que mais peso científico teve (ao menos, por algum tempo) foi o publicado em 1978 no periódico Journal of Social Psychology e que contava, entre seus autores, com Hans Eysenck (1916-1997), um dos mais importantes psicólogos do século 20. O trabalho mostrava uma correlação significativa entre signos solares e os resultados de testes de personalidade.

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No entanto, mais tarde foi descoberto que os "voluntários" que haviam preenchido os testes eram alunos de uma escola de astrologia, e, portanto, sabiam quais as respostas que deveriam dar para que seus perfis batessem com seus signos. Novos testes, isolando os crentes dos ignorantes em astrologia, produziu resultados negativos. Em 1981, Eysenck descreveu o fenômeno em novo artigo, publicado na revista astrológica Correlation.

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Esse efeito, em que pessoas que acreditam em astrologia acabam emulando as características esperadas de seus signos na hora de preencher questionários psicológicos ou responder a testes, já havia sido detectado em estudos anteriores, realizados na Alemanha, e ainda hoje é fonte de resultados falsamente favoráveis à arte: ele ocorre com frequência, por exemplo, em testes online.

Muitos astrólogos desprezam estudos estatísticos como o de Gauquelin e de Eysenck, considerando-os muito superficiais para detectar a verdadeira essência da astrologia. Objeções assim não funcionam, no entanto, contra os chamados testes do "tipo Vernon Clark" – que devem o nome ao astrólogo americano que os popularizou – em que se pede a profissionais de astrologia que identifiquem corretamente o dono de um determinado mapa astral: dada uma carta celeste sem nome ou data de nascimento marcado, é possível dizer se ela pertence a um santo ou a um assassino?

Um dos estudos mais famosos desse tipo foi o conduzido pelo físico Shawn Carlson e publicado na revista Nature em 1985. Carlson pediu que astrólogos combinassem mapas astrais a perfis psicológicos, mas a taxa de pareamentos corretos não foi maior que a esperada por pura sorte. O trabalho de Carlson foi criticado por astrólogos e também por Hans Eysenck, que considerou o tipo de perfil psicológico adotado para a comparação inadequado. Ainda assim, por ter saído numa revista de prestígio como a Nature, este ainda é um dos resultados mais conhecidos da pesquisa sobre astrologia.

Outro trabalho importante foi conduzido nos Estados Unidos na década de 70. Mais de 40 astrólogos tentaram distinguir entre os mapas astrais de indivíduos que haviam cometido suicídio na cidade de Nova York e de nova-iorquinos nascidos nos mesmos anos e bairros que os suicidas e que ainda estavam vivos ou que tinham morrido de causas naturais. Não foram capazes.

De acordo com o compêndio holandês Astrology under Scrutiny ("Astrologia sob Investigação"), publicado em 2013 e que resume as conclusões de 27 anos de pesquisa científica publicada sobre o assunto, entre 1950 e 2013 foram feitas 69 tentativas de provar a validade da astrologia com testes do "tipo Vernon Clark". Uma análise estatística detalhada do conjunto revelou que a taxa de acertos dos astrólogos envolvidos cai com o aumento do tamanho da amostra – de fato, o tamanho do efeito atribuível a fatores astrológicos tende a zero à medida que a amostra aumenta.

Isso é consistente com o que seria esperado se a astrologia não servisse para nada, e os acertos acontecessem por pura sorte: se a amostra consiste de apenas um astrólogo e ele está num dia afortunado, é possível que o resultado das comparações entre mapas e biografias ou perfis seja espetacular. Mas é mais difícil que dois, três, dez, cem astrólogos estejam todos com muita sorte ao mesmo tempo. Assim, em amostras grandes, é de se esperar que o efeito real da astrologia se revele em toda sua suposta – na verdade, falsa – glória.