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Minha avaliação: robôs podem ser bons mestres cervejeiros. Crédito: Alasdair Allan

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Tecnologia

​O nascimento da cerveja inteligente

Minha avaliação: robôs podem ser bons mestres cervejeiros.

O termo "aprendizagem automática" abrange uma série de algoritmos, técnicas e tecnologias que fazem parte de nossa vida cotidiana. No entanto, a inteligência artificial tem sido usada não apenas para identificar e resolver problemas, mas também para criar produtos melhores. Entre eles está a, brindemos, primeira e única cerveja fabricada com a ajuda de inteligência artificial, lançada na Inglaterra há algumas semanas.

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Os algoritmos de aprendizagem automática utilizam o aprendizado por reforço e a otimização bayesiana para ajudar o cervejeiro a desenvolver novas receitas, com base na experiência da máquina e na recepção dos clientes.

A presença mais óbvia do aprendizado de máquina no mundo real talvez sejam os sistemas de reconhecimento de voz como o Siri e o Alexa. Entretanto, toda vez que fazemos uma pesquisa no Google ou aceitamos as recomendações do Netflix, estamos utilizando essa mesma tecnologia. O aprendizado de máquina provou-se eficiente em identificar padrões que nós, humanos, muitas vezes ignoramos, ou somos incapazes de identificar em meio às montanhas de dados produzidas todos os dias. Por outro lado, a tecnologia não é a mais adequada para avaliar pequenos grupos de dados.

A técnica utilizada para produzir as novas cervejas segue a abordagem bayesiana, uma forma de estatística não-paramétrica. Além de fazer análises de dados eficientes, esse tipo de algoritmo lida bem com incertezas.

Crédito: Alasdair Allan

"O problema de analisar pequenos grupos de dados é que onde não há informações, surge a incerteza. Muitos modelos de aprendizagem automática não lidam muito bem com a incerteza — pelo contrário, eles precisam de uma grande quantidade de dados a fim de generalizar e gerar boas previsões", diz Rob McInerney, co-fundador da IntelligentX.

McInerney diz também que "a graça do mundo real é que a superfície que otimizamos é muito complexa, cheia de colinas e vales". E completa: "No mundo real, é difícil saber se atingimos um valor mínimo local ou se existe algo melhor logo à frente. Sinto que grande parte da ciência de dados não aceita essa imprevisibilidade e, por isso, tenta sempre encontrar algum tipo de 'cenário perfeito' dentro de parâmetros quase infinitos".

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Com a disseminação da Internet das Coisas, a quantidade de dados que deixamos para trás irá aumentar e, com a inserção do aprendizado automático em nossas vidas, é possível que o mundo comece a se alterar contra nossa vontade — uma fina camada de inteligência artificial irá nos separar do mundo. Da mesma forma que a realidade aumentada irá mudar nossa visão do mundo, misturando o digital e o real, a inteligência artificial irá mudar a forma como agimos sobre o mundo.

Crédito: Alasdair Allan

"A interação do cervejeiro com o algoritmo faz parte da tecnologia e, como tal, gera novos dados de aprendizado — gostamos de pensar no algoritmo como um aprendiz, sempre ouvindo e aprendendo com seu mestre", diz McInerney, "no entanto, ao contrário de um aprendiz humano, o algoritmo pode escutar diferentes mestres cervejeiros e clientes ao mesmo tempo".

Tive a oportunidade de provar três das quatro cervejas lançadas até o momento. Minhas favoritas foram a Golden e a Pale Ale. A Golden é espumosa e de sabor forte, enquanto a Pale tem um sabor que lembra uma maçã mais ácida. "A cerveja seguiu um caminho que não prevíamos. Um exemplo: o algoritmo tem um banco de possíveis técnicas, entre elas adicionar frutas à receita, cujo objetivo é tentar criar um produto que amplia as fronteiras da fabricação de cerveja artesanal. Isso fez com que uma das cervejas tivesse notas de toranja, por exemplo", conta McInerney. As cervejas são quase, mas não completamente, diferentes de tudo que já tomei. Gostei bastante delas.

"No nosso caso, estamos vendo como essa tecnologia afeta nossa criatividade — no fim, a criatividade está relacionada a tirar inspiração de várias fontes", diz McInerney, "não é como se a criatividade fosse a média aritmética de quaisquer dados que recebemos de nossos clientes — mas sim a união entre inteligência artificial e o cervejeiro, trabalhando juntos e se inspirando nesse feedback para criar algo novo. Em muitos momentos a 'arte' nasce da relação entre criador e consumidor, então acreditamos que nossos esforços estão de acordo com essa ideia de criatividade".

Essas ideias não se aplicam apenas à cerveja. As mesmas tecnologias usadas aqui para fazer cerveja são igualmente aplicáveis em outros setores, incluindo aqueles mais automatizados — o Google, por exemplo, reduziu o uso de energia em seus centros de dados em 40% com a ajuda de técnicas parecidas.

Considerando as profecias de que os robôs vão roubar nossos empregos, talvez seja reconfortante saber que uma das primeiras atividades criativas empenhadas por nossos futuros senhores robóticos foi criar uma boa cerveja.

Tradução: Ananda Pieratti