O Movimento das Canadenses que Trocam Nudes por Votos

Se você acha que é só no Brasil que rola umas bizarrices para chamar atenção do eleitor, dê uma olhadinha na situação do Canadá. Às vésperas das eleições federais por aquelas bandas, tem gente oferecendo maconha de graça e, agora, um grupo de jovens canadenses promete enviar nudes em troca de votos contra o atual primeiro-ministro e candidato à reeleição, Stephen Harper, líder do Partido Conservador.

Nesta semana, o grupo intitulado "Vadias Contra Harper" lançou uma campanha no Instagram que oferece nudes personalizados para qualquer um que envie uma mensagem que prove ter votado – o voto não é obrigatório por lá, vale ressaltar. Por mais que a campanha esteja rolando há poucos dias, a conta no Instagram já tem milhares de seguidores e muita pele à mostra.

A mulher por trás da campanha é uma artista de 24 anos e universitária residente em Montreal sob o pseudônimo "Jessica Simps". O nome, ela disse, é uma referência à cantora, atriz e estrela de reality show Jessica Simpson, que reflete os três principais valores da campanha: ser divertida, xavequeira e fazer merda sem qualquer neurose.

Para saber porque Simps pensa que nudes são a melhor forma de fazer com que jovens canadenses votem, liguei para ela e perguntei sobre tudo, de supressão de eleitores à transformação da palavra "vadia" em ferramenta política positiva.

Motherboard: Em seu email você mencionou ter aula hoje. O que você estuda na universidade?

Jessica Simps: Sexualidade.

De onde veio a ideia de fazer as pessoas votarem com nudes?

A primeira coisa que fiz foi postar no Facebook que trocaria boquetes por votos, mas acho que isso assustou gente demais por não ser realista. O Instagram é uma excelente plataforma para que as pessoas se sintam anônimas o bastante. E seguras. Daí tudo se espalhou tão rapidamente que achei que seria divertido.

Você não está mandando essas fotos sozinha, né?

Entrei em contato com algumas garotas – algumas já conheci, outras não – a maioria de Toronto e algumas de Vancouver e de Calgary. É algo que cobre o Canadá. Falei com elas porque achei que talvez fosse demais tentar tudo sozinha. Tentamos fazer disso algo inclusivo. Somos um monte de brancas com praticamente o mesmo corpo, então escrevemos no perfil ali que, caso você queira fazer parte do projeto, é só nos enviar uma foto. Todas as fotos são feitas pela pessoa representada nela, o que pra nós é importante, porque aí não se trata de uma exploração do corpo feminino, e sim de estarmos usando nossos corpos como recurso.

Como tem sido a reação? As mensagens em sua maioria são de homens ou mulheres também tem participado?

Até o momento, a maioria é masculina. O plebiscito mesmo começa dia 9, mas já dá pra votar agora, então já temos alguns eleitores precoces, o que é ótimo. Esperamos que o auge de tráfego ocorra mais próximo do dia 19. Até agora foram só mensagens de caras. Mas muitas mulheres acharam a ideia divertida e apoiaram bastante.

Durante a recente visita da VICE à prefeitura com Justin Trudeau, ele disse que "Stephen Harper não quer que você vote". O que você acha disso?

Creio que seja verdade. Penso que somos assustadoras enquanto mulheres e jovens. Essencialmente, estou disposta a fazer de tudo para chamar a atenção para a votação.

Por que você escolheu o nome "Vadias Contra Harper"?

Dentro da comunidade sex-positive e queer, "vadia" é um termo poderoso. Além de ser divertido. Queremos manter tudo leve e chegar às pessoas de uma forma que engaje. Se tem uma coisa que Stephen Harper não liga são mulheres e seus corpos, com certeza.

O que você acredita serem as questões mais importantes para os jovens nesta eleição?

Acho que todos estamos aterrorizados com o oleoduto, putos com as indígenas desaparecidas e assassinadas, não dá mais pra aguentar, saca? Harper já está no poder há muito tempo e foi longe demais. Imigração e cidadania de segunda-classe… É loucura.

Em quem você vai votar?

Qualquer um menos Harper, queridinho. Qualquer um menos Harper. Esse é o lance: não quero controlar em quem as pessoas estão votando, isso é direito delas. Só quero que votem.

Tradução: Thiago "Índio" Silva