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Tecnologia

​O Estetoscópio Impresso em 3D Custa US$ 5 e Supera os Concorrentes de US$ 200

Tarek Loubani, um médico de Gaza, no Oriente Médio, quer usar os princípios do código-aberto para criar instrumentos médicos mais em conta.
Modelo de teste equipado com o hardware da Littmann. Crédito: Projeto Glia

Tarek Loubani, um médico de emergência em Gaza, no Oriente Médio, deseja aplicar os princípios do desenvolvimento de software de código-aberto para aparelhos médicos sem patentes. Seu primeiro sucesso é um estetoscópio impresso em 3D cuja produção custa somente 30 centavos e que, de acordo com os testes, apresenta uma qualidade sonora melhor do que os aparelhos industrializados.

Loubani é o coordenador do projeto Glia, formado por uma equipe de hackers e cirurgiões que elabora e verifica a eficácia de instrumentos médicos. Com o estetoscópio em questão, seus testes de curva da resposta da frequência de áudio mostraram que o dispositivo não somente supera os padrões internacionais, mas também oferece uma qualidade sonora superior quando comparado ao Littmann Cardiology 3, atual líder do mercado.

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E aí que entra a parte interessante, a financeira. O Littmann custa entre 150 e 200 dólares. Já a produção do estetoscópio Glia, composto do auscultador impresso em 3D, o tubo e os auriculares, custará cerca de cinco dólares.

Loubani fundou o projeto Glia depois da invasão israelense em Gaza em 2012. "Tive que encostar minha orelha no peito das vítimas porque não havia estetoscópios adequados, o que é uma tragédia, um absurdo, algo inaceitável", ele disse a seus ouvintes em uma apresentação no Chaos Communications Camp em Zehdenick, na Alemanha.

O aparelho foi testado por meio de um processo chamado pelo grupo de protocolo "Hello Kitty". Durante o teste, que media a quantidade de som transmitida em cada frequência, o estetoscópio foi pressionado contra um balão repleto de água antes que o som fosse transmitido por meio do balão. (A grande quantidade de balões com a marca da famosa gatinha em Gaza na época foi responsável pelo nome do protocolo.)

Loubani está confiante da qualidade do estetoscópio. Ele espera que o processo de revisão pelos pares seja fichinha. "Nosso estetoscópio é tão bom quanto qualquer outro no mundo e temos dados para comprovar", Loubani afirmou.

Ele prevê um futuro em que aparelhos médicos para o salvamento de vidas, como aparelhos de diálise e eletrocardiogramas, possam ser produzidos por impressoras 3D com uma fração ínfima de seu valor original. Inspirado pelo movimento de softwares de código-aberto, ele mantém todos os códigos no GitHub e encoraja os médicos e hackers de hardware a contribuírem com o projeto.

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"Fizemos uma lista de coisas que, se pudéssemos levar à Gaza, ao terceiro mundo no qual vivo e trabalho, poderiam mudar a vida de muitos pacientes", ele explica.

A equipe Glia está concentrada em desenvolver os três dispositivos médicos mais gerais e caros: o estetoscópio, o oxímetro de pulso (que monitora os níveis de oxigênio no sangue) e um eletrocardiograma para pacientes cardíacos. Os dois últimos, Loubani explica, usarão "PCBs (painéis de circuitos impressos) projetados para facilitar sua produção em locais com poucos recursos por meio de métodos simples como uma transferência de toner. A instalação é impressa em 3D".

Ao aderir aos códigos-abertos e processos de desenvolvimento colaborativo dos aparelhos, Loubani espera revolucionar o atendimento médico no mundo em desenvolvimento.

O design do estetoscópio é completo, com exceção da peça em forma de Y, a qual Loudani ainda está ajustando. Essa peça divide o sinal de som do tubo principal conectado ao auscultador em dois sinais, que chegam aos ouvidos do médico.

Ele afirma que o design do oxímetro de pulso está finalizado, mas a calibração e o refinamento do firmware, e testes de campo rigorosos permanecem em aberto até que estejam prontos para o uso em Gaza e em todo o mundo. O design do PCB do eletrocardiograma está pronto, mas o design do firmware e do software ainda não começou, e Loudani estima que são necessários mais dois anos até que o aparelho fique pronto.

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Loubani teve a inspiração para seu projeto quando brincava com o estetoscópio de brinquedo de seu sobrinho e ficou impressionado com a qualidade do som que ouviu.

O preço dos estetoscópios permanece alto, apesar da expiração de patentes de cinquenta anos, então Loubani juntou um grupo de hackers de hardware para trabalhar no modelo Glia.

"Entendo por que essas empresas cobram tanto", escreveu. "Eles não têm motivos para diminuir seus lucros. Por que a 3M desenvolveria um estetoscópio tão bom quanto o seu de $200, mas por uma parte desse preço? É ai que médicos, hackers e cientistas de todo o mundo entram em ação para criar esses aparelhos novos de um modo viável e acessível."

Loubani afirma que o desenvolvimento da versão impressa em 3D custou US$ 10.000, que ele tirou de seu próprio bolso.

Ele escreveu que vê a si mesmo seguindo os passos do movimento de software livre e que visa substituir as soluções de patentes médicas – caríssimas, segundo ele.

"Comecei a usar o GNU/Linux em 1994", ele escreveu, "porque aprecio o ethos dos cientistas e a abertura dos códigos. Não havia dúvidas, desde o início, de que este seria um projeto de hardware livre. O único desafio era fazer isso funcionar".

Tradução: Amanda Guizzo Zampieri