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O Curioso Caso de Shiwako, o Macaco que Envelheceu Rápido Demais

Os pacientes com progéria têm sensibilizado o grande público e aumentado o financiamento para pesquisas relacionas à doença.
Shiwako, um macaco-japonês, aos 10 meses de idade. Crédito: Takao Oishi

A macaquinha nasceu como todos os outros macacos do Instituto de Pesquisa Primata do Japão. A pele era macia e aveludada, e os pêlos, beges e quentinhos. Mas, gradualmente, lá pelos dois ou três meses de idade, ela começou a ficar estranha.

Rugas profundas apareceram em sua pele, que por sua vez estava deteriorada e seca. Seus cuidadores começaram a chamá-la de "Shiwako", que quer dizer, em tradução livre, algo como "uma garota com rugas".

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Shiwako logo desenvolveu catarata — uma opacidade do cristalino (lente natural do olho) que esses animais não costumam apresentar antes dos 20 anos de idade. Graças à sua perda gradual de visão, ela passou a cheirar cuidadosamente todos os alimentos antes de colocá-los na boca, diferente do rápido "cheirar e abocanhar" dos macacos saudáveis.

A bebê Shiwako, um macaco-japonês de menos de um ano de idade, estava apresentando sinais de idade avançada.

Seu curioso caso foi publicado no começo do mês na revista PLOS One por Takao Oishi e seu time da Universidade de Kyoto em Inuyama, no Japão. Shiwako, ou "N416", como ela é conhecida cientificamente, parece ser o primeiro caso de envelhecimento prematuro em macacos.

No entanto, o envelhecimento precoce já foi diagnosticado em humanos.

Humanos que apresentam um envelhecimento precoce semelhante são diagnosticados com uma rara doença genética conhecida como progéria. Afetando uma em quatro milhões à uma em cada oito milhões de crianças, a progéria é o resultado de uma mutação muito estudada no gene LMNA, que resulta em uma má-formação de uma proteína.

Assim como Shiwako, as crianças nascem com uma aparência saudável, e são diagnosticadas nos primeiros dois anos de vida, conforme os sintomas inegáveis começam a surgir. Elas desenvolvem problemas cardíacos, o crescimento pára, o cabelo começa a cair, a pele fica mais fina e os ossos ficam cada vez mais frágeis.

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Os pacientes com progéria têm sensibilizado o grande público e aumentado o financiamento para pesquisas relacionas à doença. Adalia Rose, uma garotinha encantadora de sete anos que sofre de progéria, alcançou o estrelato na internet após uma performance de " Ice Ice Baby" postada no YouTube; o falecido Leon Botha apareceu em clipes do grupo de rap sul-africano Die Antwoord e inspirou uma ópera polonesa de um ato.

A força motriz por trás das pesquisas sobre progéria, é, provavelmente, o casal formado pela Dra. Leslie Gordon e Dr. Scott Burns. Em 1999, o casal criou A Fundação de Pesquisa Sobre Progéria logo após descobrir que seu filho tinha a doença e encontrar um número impressionantemente pequeno de informações sobre a doença. Atualmente, a fundação transforma suas pesquisas em aplicação prática, e, até o momento, localizou o gene responsável pela progéria, financiou os primeiros testes clínicos de tratamento da doença e identificou um tratamento parcial.

Estudos mostram que a proteína mutante presente nos pacientes afetados pela progéria também existe em células normais, diz Maria Eriksson, do Departamento de Biociência e Nutrição do Centro de Medicina de Ponta da Suécia.

Dois macacos-japoneses saudáveis; um com seis meses (à esquerda) e outro com um ano de idade (à direita). Crédito: Michael Huffman

"Todos nós temos uma pequena quantidade dessa proteína mutante em nossas células, se comparado com a quantidade da mesma proteína nas células dos pacientes com progéria", disse ela para o Motherboard — e os níveis da proteína tóxica parecem aumentar conforme eles envelhecem.

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Agora a grande questão é, segundo ela, descobrir se essa proteína realmente tem um papel no envelhecimento.

No caso da macaquinha Shiwako, essa proteína mutante não foi encontrada em suas células. Apesar dela apresentar sintomas de envelhecimento precoce, seu caso é muito diferente das crianças com progéria.

A maioria das crianças com progéria morre por volta dos 13 anos, graças a problemas cardíacos. Esses problemas podem levar à pressão alta, ataques cardíacos e derrames, diz Eriksson. Mas, de acordo com Oishi da Universidade de Kyoto, o que resultou na morte de Shiwako aos três anos de idade foi um terrível caso de inchaço, no qual o estômago e intestino do animal se encheram de gás. "Eu não acho que o inchaço seja um sintoma relacionado à idade avançada", ele diz. "Pessoas que comem rápido tendem a sofrer [de inchaço], pelo que sei. Mas ela não comia rápido."

O curioso caso das rugas, da catarata e da morte precoce de Shiwako é, sem dúvida, estranho. Eriksson diz que, ao contrário do que diz o título do estudo, "Envelhecimento prematuro e esporádico em um macaco-japonês", ela não está certa de que o macaquinho tenha sofrido de envelhecimento precoce.

Olhe para a foto, ela diz. "Essa pele rachada no braço do macaco parece com uma doença de pele". Às vezes é difícil diferenciar entre envelhecimento e uma condição epitelial. Mas de qualquer forma, "Essa é a primeira vez que vi algo como isso."

Tradução: Ananda Pieratti