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Tecnologia

O Caminho É Longo, Mas o Bloom Pode Mudar Nossa Experiência em Shows

Usei a plataforma brasileira que quer abolir dinheiro e cartões de grandes eventos.
Brilha, Bloom. Crédito: D3

Ao vivo, os acordes de surf music sintético, futurista e decadente da banda francesa La Femme me despertaram para o seguinte: talvez o amanhã não seja uma fantasia asséptica, branca e funcional como a odisséia espacial do Kubrick – ou como a última versão do iPhone, segundo seus fãs. E aí um copo de cerveja apagou meu pessimismo. Não que a dose do otimismo viesse com o primeiro gole. A culpa mesmo foi do Bloom, o sistema que, entre outras pretensões, quer abolir o uso de dinheiro ou cartões em shows.

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Sem um tostão no bolso, colei no show dos franceses que serviu de palco para o primeiro teste da plataforma brasileira. "Isso aqui é uma camada inicial para que depois outras pessoas criem mais funções", me disse o CEO da companhia, Edson Pavoni, ao apontar um dos totens que conectam o público ao Bloom. No papel, um celular com conexão Bluetooth Low Energy ou NFC faria esse ponto de conexão. Na prática, a versão alfa do sistema trocou meu smartphone por um cartão que recebi na entrada do rolê.

A anatomia do Bloom. Crédito: D3

De cara, isso até pareceu uma evolução fraca da comanda, mas aquele pedaço de plástico oferecia mais possibilidades que ser perdido e causar confusões no fim do show. Dei meu nome no balcão ao lado da bilheteria, a atendente fez a busca num tablet e sincronizou um cartão qualquer à minha conta do Bloom. Eu tinha feito meu cadastro naquele mesmo dia quando adquiri meu ingresso no site da plataforma. Também adicionei alguns trocados via PayPal. Pra fechar, conectei ela ao Facebook. Tudo isso estava num único objeto no bolso.

Quando encostei o cartão no primeiro totem, várias luzes coloridas brilharam num círculo no topo do negócio – e nada mais aconteceu. Achei aquilo bem simples, mas o sistema todo levou cerca de três anos para ser concebido, segundo me contou o Edson. Ele me explicou que a troca de dados no Bloom funciona com um protocolo criado por ele e sua equipe, o Springnet. Ele busca espaços vazios em uma faixa de rede proprietária para realizar todas as operações da plataforma. De acordo com ele, isso garante a segurança do sistema.

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Eu já tinha inserido meus dados na plataforma online e estava disposto a arriscar mais com o brinquedo. Queria algo que não fosse perfumaria e cores, então colei na chapelaria em busca de ação. Fiz que ia deixar alguma coisa guardada por lá e, em vez de um papelzinho com um número, paguei por uma vaga que ficou marcada no meu cartão. Assim como na portaria, um atendente intermediou o processo. No bar o esquema se repetiu. Percebi que pessoas ainda são essenciais nesses evento, mesmo em operações simples.

Dois totens executavam operações livres de mãos humanas. Um deles fazia um check-in no Facebook. O outro fazia uma foto de quem encostasse seu cartão por lá e ela ia direto pra rede social. Em ambos os casos era tiro único. Não dava pra adicionar um texto ao check-in, nem dava pra escolher a foto evitando que alguma imagem zoada caísse direto na sua timeline. Senti que a tolerância com essa falta de filtros caía com o passar da noite e das bebidas. E eu estava certo não só por experiência própria.

Na média, o pessoal foi comedido em relação a bebida. Crédito: D3

Dias depois do show, o Edson me encaminhou uma porrada de números com tudo que tinha sido rastreado pelo Bloom. Deu pra sacar que o tal big data é o grande trunfo da plataforma, especialmente para quem acredita que os números não mentem. Nos gráficos havia picos de interação de fotos e check-in à meia-noite, horário em que muitas pessoas chegaram, e à 1h30, uma hora depois do maior pico no consumo de bebidas que, aliás, tinha sido numa média de quase meio litro de cerveja por pessoa. Engraçado, né?

A fatura do meu cartão não foi tão engraçada assim. A coisa boa é que o Bloom guarda a grana que não foi usada para outros eventos com a plataforma. Da próxima vez, meu Bilhete Único da balada já vai estar pronto pro rolê – e isso não é uma comparação tosca. Nos Estados Unidos, o TomorrowWorld foi exaltado por ser um dos poucos festivais que não fazem uso de dinheiro vivo. E a Apple chamou a atenção quando anunciou que o novo iPhone funcionaria como carteira eletrônica. São abordagens similares ao Bloom. Quem sabe não estejamos dando um passo a frente dos caras.