FYI.

This story is over 5 years old.

Tecnologia

O Aécio Neves Tem Uma Treta com o Twitter

O candidato a presidência pediu os dados de 66 usuários da rede social que, segundo sua equipe, estariam jogando sujo demais.
Crédito: Orlando Brito/Coligação Muda Brasil

Políticos, em geral, não gostam muito das redes sociais em época de eleição – ações contra e pedidos de dados de usuários do Google, Facebook e YouTube são comuns. O candidato a presidência Aécio Neves, no entanto, gosta ainda menos do Twitter. Recentemente, a campanha do mineiro acionou legalmente a rede social para que ela fornecesse os dados de 66 contas que estariam fazendo barulho demais.

Ações contra o Twitter no Brasil não são novidade, especialmente em época de eleições – em 2008, a Justiça Eleitoral chegou a mandar bloquear a rede social no Brasil. O Aécio não quis ir tão longe. No processo, ele exige a identificação de 66 perfis específicos. Por quê? "Análises diárias de conteúdos publicados na rede social Twitter com ataques e calúnias contra a honra do candidato da Coligação Muda Brasil apontaram para existência de uma estrutura dedicada a disseminar falsas informações."

Publicidade

Essa declaração está em um comunicado oficial encaminhado à imprensa que tenta esquematizar a tal estrutura como um grupo articulado no Twitter baseado nos seguintes itens: alta frequência de postagens, possibilidade de contas com múltiplos administradores e remuneração e uso de recursos automatizados (bots).

Segundo os Termos de Utilização do Twitter, apenas o caso dos bots seria uma infração na rede social. Uma quantidade elevada de postagens poderia configurar spam, mas o serviço leva em consideração outros fatores para identificar isso, tais como repetição de mensagens, muitas respostas a um perfil ou muitos RTs.

Perfis administrados por pessoas remuneradas também não estariam contrários às regras da rede social, mas entrariam na seara jurídica caso servissem a atacar o candidato. Da mesma maneira, cabe à lei brasileira interpretar o que é ofensa e o que é crítica nesses casos.

Numa disputa da quantidade de seguidores entre os presidenciáveis, ele repete na rede o terceiro lugar das atuais pesquisas de intenção de voto. A situação fica pior quando o quesito é o número de tuítes: o mineiro fica em penúltimo lugar da lista enquanto Eymael triunfa na primeira posição. Ou seja, a campanha de Aécio está acostumada a usar o Twitter de uma forma diferente não só de outros candidatos, mas também de usuários comuns, que tuítam desenfreadamente todos os dias.

Por essas e outras, fizemos uma série de perguntas à assessoria do candidato para aprofundar mais esses argumentos e indícios, mas ela se limitou ao comunicado. Não foi o caso de alguns dos responsáveis pelos perfis indicados no processo, como Guido Rezende, um radialista de Itajaí (SC) e Jaime Ramos, promotor de eventos do Rio de Janeiro. Eles não se conheciam até então e conversamos com eles separadamente.

Publicidade

O Guido acredita que seu nome entrou nessa por causa de uma repostagem no seu blog e na sua conta no Twitter sobre o suposto caso de agressão de Aécio a uma namorada. À época, a história ganhou fama no blog do Juca Kfouri, mas foi desmentida pela assessoria do então governador mineiro. "Eu não conheço ninguém desse pessoal do processo, só conheci a partir desse ocorrido", me disse ele, por telefone.

Não sei de onde o candidato tirou tal ideia de bots. Nem faço ideia de como isso funcionaria

Jaime mudou seu perfil para criar aquilo que consta nos autos: uma estrutura que, nesse caso, assemelha-se mais a uma comunidade que a um conluio. "Mudei [meu perfil] como forma de protestar, por isso coloquei o nome de GrupoDos66. Existe uma solidariedade nascida na rede como forma de unir forças e protestar contra essa ação do candidato."

Ele também me contou que não pode responder por todas as pessoas listadas por Aécio. Ele disse que administra seu perfil individualmente e, ainda que o fizesse em conjunto, não estaria infringindo as regras e políticas de uso do Twitter. Elas falam muito mais sobre termos ofensivos, spammers ou bots — algo que os dois não são.

Tanto Jaime quanto Guido comandam suas contas na rede com punho próprio. Questionado sobre a história dos bots, o Jaime respondeu: "Não sei de onde o candidato tirou tal ideia. Nem faço ideia de como isso funcionaria." O Guido foi além: "Não acredito que tenha fake naquele grupo."

Os dois também afirmaram que não recebem dinheiro para tuitar. Provavelmente por conta de tudo isso eles não demonstraram receio caso seus dados sejam liberados pelo Twitter. "Não me preocupo com isso, pois fiz referências a ação política do candidato e seus projetos", me disse o Jaime. Ele afirmou que já foi notificado pela rede social, ao contrário de Guido. O catarinense contou que já avisou seu advogado sobre uma possível notificação. Ele acredita que o Twitter irá ceder á pressão jurídica.

"Pra mim, não tem problema. Que ele entre com processo. Se isso acontecer, eu vou publicar mais coisas. Tenho um amigo particular que estava numa festa em Jurerê Internacional no ano passado em que o Aécio estava. Tenho fotos comprometedoras dele", fechou o Guido, num tom um tanto sinistro.

Pode ser um zap ou um blefe. Talvez, ele nem tenha de se preocupar mais. O processo exigia que os dados dos 66 usuários fossem liberados em até 48h após sua expedição, o que não aconteceu. A assessoria do Aécio Neves também se prontificou a dizer que algumas pessoas entraram por engano nesse balaio. A mesa do jogo, o Twitter, preferiu não se pronunciar sobre a briga.