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Tecnologia

Nossas Emoções Estão Surgindo em Bolhas Criadas Pelo Facebook

Adicione mais uma bolha de filtros em sua vida: a bolha de sentimentos, bons e ruins, que o Facebook causa de forma tão ampla.
Crédito: Gisela Giardano/Flickr

Não é surpresa nenhuma que nossos amigos costumam nos influenciar, mas tendemos a aplicar este pensamento a uma escala menor: se nossos amigos mais próximos têm tatuagens, vestem camisa polo ou usam determinada gíria, é bem provável que sejamos influenciados por isto e vice-versa.

Mas o que acontece em escala maior, quando seu círculo de amigos não inclui apenas as pessoas com quem você se relaciona normalmente, mas também suas centenas ou milhares de conhecidos online? Todas aquelas atualizações parecem repletas de frivolidades de pessoas aleatórias (e são mesmo!), mas este fluxo contínuo de informações – fotos, linguagem, gírias – provavelmente o influencia mais do que você imagina.

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Em um estudo publicado recentemente pela PNAS (publicação oficial da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos), foram encontradas provas concretas do dito “contágio emocional” via Facebook: estados emocionais que se espalham como um vírus feito de emoticons pela rede social.

Em vez de então basear sua visão de mundo no pequeno círculo de amigos com quem você interage pessoalmente, seu estado mental acaba sendo afetado pela tagarelice aleatória das pessoas que o Facebook decide mostrar, apesar de muitos de nós não considerar estas interações virtuais particularmente importantes.

Eis o problema: se as redes sociais têm um efeito maior do que esperamos sobre nossa visão de mundo, então provavelmente estamos nos aprisionando em uma bolha de filtros sem perceber. (Isto se você usa Facebook, Twitter ou qualquer outro desses; se não usa nenhum, melhor para você.)

Os autores do estudo, Adam Kramera, Jamie Guillory e Jeffrey Hancock, afirmam na primeira linha de seu trabalho que “estados emocionais podem ser transferidos de uma pessoa para outra via contágio emocional, fazendo com que experimentem das mesmas emoções sem que o percebam”.

O contágio emocional já foi de fato bem documentado no mundo real e tem sido considerado fator chave no comportamento de um grupo. Isto também já havia sido mostrado no Facebook através de interações diferentes. A linguagem escrita não é essencialmente uma barreira: se alguém manda uma mensagem dizendo que está chateado, você provavelmente ficará chateado também.

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 “Contudo, atualmente não há prova experimental de que emoções ou humores sejam contagiosos na ausência de interação direta entre experimentador e alvo”, escrevem os autores.

O estudo analisou 689.003 usuários anglófonos cujos Feeds de Notícias foram propositalmente alterados para mostrar posts mais positivos ou negativos de seus amigos. O resultado? Quando o usuário via menos posts negativos em seu feed, escrevia menos comentários negativos e mais comentários positivos. Quando via menos posts positivos, o inverso acontecia.

Não acho que seja o caso de nos preocuparmos achando que o Facebook está controlando nossa mente ou coisa parecida. Como dizem os autores, “embora estes dados nos forneçam algumas das primeiras evidências que sustentam a polêmica hipótese de que emoções podem se espalhar por uma rede social, os efeitos destas manipulações são pequenos”.

Ao multiplicar um efeito pequeno por escalas maiores como a do Facebook, as coisas ficam interessantes. Os autores escrevem que “a conexão documentada entre emoções e bem estar físico sugere a importância destas descobertas para a saúde pública”.

Acredito que o contágio emocional possa ter efeitos ainda maiores. Ano passado, vimos estudos sugerindo que redes sociais podem nos deixar agitados, incentivar crianças a beber, mudar drasticamente nossa linguagem, entristecer-nos e alterar nossa capacidade de discernimento do que é verdadeiro ou não.

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É claro que a cada estudo se aplicam suas ressalvas e não é justo culpar o Facebook por nosso atual estado emocional. Estamos falando de efeitos pequenos e palpáveis espalhados em uma enorme rede.

Exemplo disto é a proliferação de links patrocinados e conteúdo viral nas redes. O motivo da existência deste tipo de conteúdo é simples: aumentam o tráfego na internet, e o número de acessos é uma das principais metas para muitos sites.

Por qualquer motivo, estas histórias acabam penetrando no zeitgeist emocional e assim se espalham como um vírus. Na verdade, a mera existência de conteúdo viral já é prova de contágio emocional. O fato de uma mesma história poder ser repassada através das microrredes mais variadas e heterogêneas mostra que o Facebook é capaz de desencadear emoções em massa.

O conteúdo viral também nos alerta por que o contágio emocional é algo do qual precisamos nos conscientizar. A acusação mais pertinente sobre a proliferação de conteúdo viral é que ele estimula uma visão uniforme controlada por qualquer que seja o posicionamento mais popular no momento, anulando assim o pensamento criativo.

A mídia já reclamava desta homogeneização desde antes da internet e provavelmente continuará a fazê-lo para sempre (eu pelo menos vou!). Ainda assim é difícil negar que a proliferação de conteúdo viral produz cada vez mais estilos parecidos de histórias. Então o que acontece se nossas emoções também forem virais?

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Por um lado, cria-se um ambiente no qual tendências emocionais podem se mover mais lentamente através de camadas maiores da população.

Uma pesquisa anterior mostrou que a raiva é um sentimento mais contagiante do que a alegria, o que é uma descoberta fascinante. Mas pense na causa da raiva viral. No topo da lista vêm discursos de moralidade, política ou uma petição online qualquer. Se somos tão afetados ao lermos este tipo de coisa, como sugere o novo estudo do PNAS, nossas emoções podem ser muito mais influenciadas por convicções infundadas do que pensávamos.

Vamos colocar da seguinte maneira: pense na última vez que um de seus amigos recebeu algum tipo de notícia ruim. (Foquei em emoções negativas porque não me parece que a positividade viral seja coisa ruim.) Vocês se encontram, tomam umas cervejas e colocam para fora tudo o que está acontecendo. Se ainda assim você for embora se sentindo mal, pelo menos sabe o motivo.

Compare isto com sua rede social de escolha, repleta de pessoas reclamando de seus chefes, do governo ou falando mal de homens ou mulheres. Você não tem a menor ideia se aquilo tudo é verdade ou não e, mesmo assim, é provável que seja afetado. É como se seu subconsciente tivesse pisado em uma enorme bosta de cachorro.

Mais uma vez, há também efeitos positivos. Ver seus amigos postando fotos de férias ou de cachorrinhos provavelmente fará com que você se sinta bem também, mesmo não sabendo muito bem o motivo. É disto que estamos falando: seja porque nos comparamos ou porque nos solidarizamos com os outros, mesmo em se tratando de simples posts de Facebook, nossos feeds provavelmente influenciam nosso estado emocional muito mais do que imaginamos.

Quando analisado como um todo, parece que temos mais uma bolha de filtros em nossas mãos, mesmo que permeável. Todos vimos como pode ser difícil criar algo completamente novo na internet, onde tudo está sob um ritmo de constante mudança que pouco depende de influências regionais. Pelo visto, nossas emoções também não são totalmente imunes. Se isto é bom ou ruim, depende de como está o clima do Twitter no momento.

Tradução: Pedro Taam