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Tecnologia

​Investigamos o Tráfico de Animais Exóticos nos EUA

Nosso novo documentário mostra os detalhes de um mercado negro que movimenta cerca de 19 bilhões dólares por ano.

"A maioria das pessoas que compram tigres o fazem por impulso. Elas pensam: 'se eu criar ele desde pequenininho ele não vai me morder, né?'"

Essas são as palavras de Joe Taft, diretor da Exotic Feline Rescue Center (Centro de Recuperação de Felinos Exóticos, em português) de Indiana, lugar que abriga 225 felinos selvagens resgatados. Esses felinos eram mantidos como animais de estimação ou como objetos raros de coleções particulares. Como Taft diz no documentário investigativo da VICE, o tráfico de animais exóticos tem crescido exponencialmente nos Estados Unidos. No meio desse crescimento estão diversos animais selvagens, mantidos em condições deploráveis por donos que estão mais interessados em ostentar uma criatura exótica do que cuidar adequadamente de um urso.

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Estima-se que o tráfico de animais exóticos movimente cerca de 19 bilhões de dólares por ano. Grande parte desse mercado é voltado para partes de animais: produtos como marfim, chifres de rinocerontes, membros de tigres e ursos e até mesmo partes do adorável pangolim. A preocupação com esse tipo de tráfico é extremamente compreensível; a caça furtiva de larga escala é uma ameaça a todas essas espécies, da mesma forma que a sobrepesca e a caça ilegal são uma ameaça aà várias espécies de peixes e répteis.

O tráfico de animais exóticos, que transforma animais selvagens em itens de coleção, é menos combatido que a caça ilegal. A parte mais incômoda do tráfico de animais selvagens é a dificuldade de rastreá-lo e combatê-lo. É possível estudar a caça ilegal de elefantes com base em presas de marfim encontradas e dados locais; já estimar o tráfico de lóris com base na prisão de três caras que contrabandeavam macaquinhos em suas cuecas é bem mais complexo, visto que não é possível saber se esses animais foram capturados na natureza.

A falta de padrão das leis americanas sobre o comércio de animais são um incentivo ao tráfico. A venda de certas espécies em risco de extinção pode ser ilegal em um estado e legal em outro – e isso afirmando que as autoridades têm a capacidade de diferenciar tais espécies à primeira vista. (Como você pode imaginar, encontrar drogas é bem mais importante para a polícia.)

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Esse mosaico legal foi descrito por Chris Heath em sua excelente reportagem sobre a fuga do zoológico de Zanesville em 2011, para a revistaGQ. A manchete – "18 Tigres, 17 Leões, 8 Ursos, 3 Pumas, 2 Lobos, 1 Babuíno, 1 Macaca, e 1 Homem Morto em Ohio" –resume o caso da morte de Tery Thompson, um colecionador de animais exóticos de Ohio, supostamente morto por feridas auto-infligidas, ministradas após o homem ter libertado toda sua coleção de animais, mantidos em jaulas diminutas em sua propriedade rural.

Na época, Ohio praticamente não possuia leis referentes à coleção de Thompson, muito menos leis sobre a venda e compra de animais criados em cativeiro. Como Bryan Christy explicou em uma reportagem da National Geographicem 2010, o tratado CITES, que controla o comércio internacional de espécies selvagens, "tem uma exceção absurda: animais nascido em cativeiro não estão sob a mesma jurisdição de proteção que os animais silvestres. O CITES, afinal, só se aplica à vida selvagem."

"Os proponentes da criação em cativeiro argumentam que a prática alivia a pressão sobre as populações selvagens, diminui a quantidade de crimes relacionados ao tráfico, satisfaz a demanda internacional (que nunca acabará) e enriquece aqueles que se comprometem a participar legalmente do mercado da 'criação' selvagem", acrescentou. "Contudo, esses benefícios são possíveis apenas nos países que possuem uma fiscalização forte o suficiente para impedir práticas criminosas."

Como você pode ver no documentário acima, a fiscalização do Estados Unidos não é a melhor de todas. Podemos até deixar a conservação de lado, mas as implicações éticas e de segurança de se criar um tigre em um quintal continuam sendo enormes. Infelizmente, muitos não conseguem resistir ao encanto da ideia de ter um animal raro de estimação, mesmo que isso signifique ter um leopardo preso em uma jaula.

Tradução: Ananda Pieratti