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Tecnologia

Físicos Belgas Calcularam que Todos Estão Mentindo Sobre o Avião Russo Abatido

Física 3, Turquia 0, Rússia 0.
Mapa fornecido pelas autoridades turcas. Crédito: New York Times

Os astrofísicos Tom Van Doorsslaere e Giovanni Lapenta, da Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica, usaram algumas mecânicas newtonianas simples para mostrar que tanto a versão russa quanto a turca do que aconteceu no último dia 24 com o avião SU-24 não podem estar certas. A justificativa científica foi exposta em blog administrado pela universidade depois que a dupla analisou os vídeos e os mapas fornecidos pelas autoridades dos dois países.

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Primeiro, vamos aos "fatos". Dois aviões de combate russos entraram em território turco. A aeronave abatida foi alvejada pelos militares turcos porque seu piloto supostamente ignorou diversos avisos sobre entrar em espaço aéreo turco. As autoridades do país afirmam que o exército alertou aos jatos dez vezes em um período de cinco minutos. Depois que os alertas não foram levados em conta, o próprio primeiro-ministro turco ordenou para que os jatos fossem abatidos, de acordo com diversos relatos. Ambos os aviões ficaram no espaço aéreo turco por apenas 17 segundos, afirmam as autoridades turcas. Um deles, como podemos ver no vídeo acima, teve o pior dos fins.

Agora a ciência. No vídeo do ocorrido, dá pra ver que a aeronave demora cerca de 30 segundos para chegar ao chão. "Como o movimento vertical depende apenas da gravidade (g=9.81m/s², z=gt²/2), podemos calcular que o avião estava a uma altitude de pelo menos 4.500 metros", escreveram os físicos. "Este número bate com a declaração turca de que os jatos estavam a uma altitude de 19.000 pés (5.800 metros)."

No mapa fornecido pelas autoridades turcas, dá para ver que o avião caiu a oito quilômetros de onde foi alvejado. O avião percorreu esses oito quilômetros entre ser atingido e cair de fato. Uma divisão simples lhe daria uma velocidade inicial de 980 km/h, totalmente aceitável para uma aeronave naquela altitude. Até aí tudo bem.

Daí que os físicos pegaram essa velocidade e compararam com a distância percorrida pelos jatos no espaço aéreo turco de acordo com o mapa fornecido pela Turquia – cerca de dois quilômetros. A uma velocidade de 980 km/h, um objeto percorreria esta distância em sete segundos, não os 17 relatados pelas autoridades turcas. Para atravessar tal distância em 17 segundos, o avião deveria estar em humildes 420 km/h. O vídeo mostra que isso simplesmente não pode ser verdade se o local da queda está correto. Física 1, Turquia 0.

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A Força Aérea turca afirma ter alertado os aviões dez vezes em cinco minutos. Em cinco minutos, um avião a 980 km/h cruzaria cerca de 80 quilômetros. A partir desses fatos, os professores concluem: "Como a força aérea turca pôde prever que os jatos russos estavam prestes a entrar em espaço aéreo turco? Jatos militares são muito ágeis e, em teoria, os jatos russos poderiam desviar em um último instante, evitando o espaço aéreo turco. Os alertas enviados aos pilotos russos eram meras especulações quando foram feitos."

De acordo com tais fatos, os avisos não poderiam ter sido emitidos com os jatos em território turco. A não ser que os controladores aéreos turcos consigam falar absurdamente rápidos, mandar dez alertas em sete segundos parece meio improvável. Física 2, Turquia 0.

Em assuntos como esses, ok, nunca há um único culpado. A geopolítica internacional é uma disciplina em que a verdade é maleável feito massinha de modelar.

No mapa russo, podemos ver o avião fazendo uma curva de 90 graus ao ser atingido, o que é também bastante impossível. De acordo com os físicos, isso só poderia acontecer se o impulso do foguete atirado fosse muito maior do que o do jato – de forma que este seria insignificante. "Uma mudança no curso em 90 graus só pode ocorrer com um objeto muito mais pesado ou rápido que o jato", disseram os físicos. A partir disso, podemos concluir que os jatos não estavam evitando entrar em território turco, conforme os russos dizem. Física 3, Turquia 0, Rússia 0.

Você pode pensar o que quiser com essas informações. Os autores não mencionam a situação política, apenas focam nos fatos a partir de dados observáveis: algo raro e admirável em uma época em que tudo tem algum viés político.

Tradução: Thiago "Índio" Silva