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Tecnologia

​Este Flagra Raro de Um Tubarão É Uma Metáfora Para o Progresso Científico

Tédio, tédio, tédio, PUTA MERDA.

Na quarta-feira, a National Geographic divulgou um raro vídeo de um tubarão-da-groenl​ândia, uma espécie arisca da qual os biólogos não sabem quase nada. As imagens foram capturadas pelo engenheiro mecânico da NatGeo, Alan Turchik, ao operar uma câmera submarina nas águas ao redor de Franz Josef Land, um arquipélago russo inabitado no Oceano Ártico.

A câmera havia sido lançada à profundidade de 700 pés, gravando três horas de imagens do gélido leito oceânico. A vista não parecia lá muito promissora, para o desapontamento inicial de Turchik. "Literalmente não havia vida", disse no vídeo. "Achei que tinha sido tudo em vão. Estava ali assistindo a tudo de braços cruzados" quando de repente a câmera balançou".

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Eis que: um tubarão-da-groenlândia, o primeiro a ter sido visto tão ao nordeste. A reação cheia de palavrões de Turchik à pomposa entrada do animal será compreendida por praticamente qualquer um envolvido com pesquisa científica.

Não há nada mais empolgante do que uma nova descoberta, mas o que geralmente é deixado lado em meio à loucura de tal evento são os anos – por vezes décadas – de experimentos monótonos e revisão meticulosa que levam até lá. O vídeo da NatGeo fornece um microcosmo simpático do processo editado em dois minutos.

Independente se os cientistas estão coletando amostras da luz de estrelas distantes ou investigando as peculiaridades do universo quântico, o padrão parece ser o seguinte: "tédio, tédio, tédio, PUTA MERDA". E assim ocorreu com estas imagens raras de um tubarão-da-groenlândia vasculhando o leito do oceano.

Nesse sentido, o vídeo oferece uma belíssima oportunidade de ficarmos embasbacados com uma das mais esquisitas criaturas do oceano. Com cerca de dois metros de comprimento, este indivíduo era particularmente pequeno para uma espécie que pode gerar monstros de a​té 7 metros.

Mas o que tínhamos ali era o revelador ritmo de um tubarão-da-groenlândia. Estes animais são os nadadores mais lentos entre​ todos os tubarões, percorrendo cerca de 0.4km por hora, na​ média. Eles são tão tranquilões que pesquisadores há tempos questionam como exatamente eles conseguem caçar e matar presas muito mais ágeis como a foca.

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Uma teoria é de que os tubarões chegam​ de mansinho nas presas enquanto elas dormem, mas nada ainda foi confirmado. Como muitos outros detalhes básicos da vida dos tubarões-da-groenlândia – onde eles te​m filhos, por exemplo, ou por qua​nto tempo vivem – seu comportamento predatório é um mistério.

Uma coisa é certa, porém: quanto mais os biólogos descobrem sobre estes animais, mais bizarros eles parecem. Cerca de 90% da e​spécie é hospedeira de uma bactéria que devora seus olhos, deixando-os cegos, e sua carne é tão venenosa que quando foi servida à cães de trenó em uma expedição de 1968, eles sofreram convulsõ​es, diarreia explosiva, e morte em alguns casos.

Alguns pesquisadores sugeriram que, com base na taxa de crescimento lerda dos tubarões, eles possam viver mais ​de 200 anos. E aparentemente, comem qualquer coisa. Ursos polares, cavalos, alces, e em determinada situação, uma carcaça de rena completa, já foram encontrados nos estômagos destas bestas.

O vídeo nos forneceu uma janela para entrar no mundo deste bizarro animal. Mas ao fazer de Turchik outro de seus personagens, nos deu um gostinho do ciclo de acertos e erros da pesquisa científica, pontuado com uma dose saudável de palavrões.

Tradução: Thiago "Índio" Silva