Esses Caras Querem Atirar um Foguete na Lua – E o Pior É que Pode Dar Certo
Crédito: Moonspike

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Tecnologia

Esses Caras Querem Atirar um Foguete na Lua – E o Pior É que Pode Dar Certo

Já pensou em criar o seu próprio programa espacial? Eles, sim.

Tudo começou com um link no Reddit. O empresário Chris Larmour navegava pelo site quando descobriu um projeto cujo mote era enviar um balão com câmera até a estratosfera. "Era um plano legal", afirma. "Mas eu devo ter visto centenas de ideias iguais nos últimos anos."

Larmour tem um objetivo mais ambicioso. Com a recém-criada empresa Moonspike, ele e Kristian von Bengtson, co-fundador e ex-designer de aeronaves da empresa dinamarquesa Copenhagen Suborbitals, querem mandar o primeiro foguete financiado por crowdfunding para a Lua. Os dois acabaram de lançar uma campanha no Kickstarter por meio da qual esperam angariar 600 mil libras (cerca de um milhão de dólares) para custear o projeto.

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As imagens do balão meterológico fizeram Larmour pensar: será que é tão difícil chegar à Lua atualmente? "Já conseguimos chegar lá há 60 anos, então já sabemos muito sobre a tecnologia necessária", disse ele em um telefonema compartilhado com Von Bengston. "E se nós facilitássemos essa viagem e nosso objetivo fosse só mandar um pequeno foguete para a Lua? Não queríamos mandar nenhum tripulante, pisar na Lua ou coisa parecida; queríamos apenas mandar um foguetinho."

Em seguida, Larmour mandou um email para Von Bengtson e perguntou se ele poderia construir um foguete capaz de chegar na Lua. A resposta foi simples: sim, mas você tem dinheiro suficiente?

"A vida sem o seu próprio programa espacial não é tão empolgante."

Pouco antes de Von Bengston receber o email de Larmour, ele havia saído da Copenhagen Suborbitals — que está atualmente tentando construir seus próprios foguetes — "por motivos pessoais".

"Não me arrependo da decisão, mas devo dizer que a vida sem o seu próprio programa espacial não é tão empolgante quanto poderia ser", disse Von Bengston.

E assim nasceu a Moonspike, com Larmour aproveitando seus talentos de empresário para conseguir um investimento inicial de alguns amigos enquanto Von Bengston começava a pensar em que tipo de foguete eles construiriam.

O objetivo do projeto é planejar e construir, a partir do zero, um foguete de três estágios; a peça pesará 22 toneladas e será movida a combustível líquido. O foguete será lançado na órbita baixa da Terra, de onde lançará uma pequena nave que pousará na Lua. "Pousar é um termo muito amplo", explicou Larmour. "Esperamos que a nave chegue na Lua com uma velocidade muito alta."

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Von Bengtson disse que a comparação mais adequada seria com as missões Ranger da NASA dos anos 60, que explodiam as naves na superfície lunar depois de receber as imagens que ajudariam no programa Apollo.

Embora a maioria das ideias nascidas no Reddit possam ser descritas como insensatas, Larmour e Von Bengston são dois caras que não brincam em serviço. Mesmo que eles não cheguem à Lua, tenho certeza de que eles irão longe. Atualmente, os dois se dedicam exclusivamente ao projeto com a ajuda de uma equipe de sete pessoas.

"Sinto que tenho uma chance de fazer isso acontecer", disse Larmour. "Ainda sinto que esse é um desafio enorme, algo muito difícil de realizar. Mas mesmo assim acho que é possível."

O empreendedor Chris Larmour. Crédito: Moonspike

Von Bengtson, por sua vez, não parece muito preocupado com o desafio tecnológico. "Existe uma solução técnica para cada desafio técnico", disse ele. Afinal, completa, isso já foi feito antes — os EUA enviaram um humano para a Lua décadas atrás.

Mas se isso já foi feito, porque tentar de novo?

"Muita gente fala 'ah, mas nós já fomos para a Lua'. Para mim, esse não é um argumento válido", explicou Von Bengston. "Não, nós não fomos. Outras pessoas foram — no caso, o governo americano desembolsou uma quantia enorme para mandar um homem para a Lua há 50 anos — e isso não é a mesma coisa."

Essa ideia de "estamos fazendo isso pelo povo" se revela na campanha de crowdfunding do projeto, que oferece para os investidores a oportunidade de mandar imagens e outras informações na carga da espaçonave; e também no comprometimento da Moonspike com a transparência. No site da campanha, lançada na última quinta, é possível ler o relatório de viabilidade do projeto e seus criadores garantem que a página receberá updates regulares.

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"Os impostos sobre o rendimento serão a menor de nossas preocupações."

Para a dupla, o maior desafio do projeto é legal. Como a Moonspike funciona no Reino Unido, ela é regulamentada pela Agência Espacial Britânica, o que significa que eles precisam de uma licença de lançamento. Larmour acrescenta que o Reino Unido está mais acostumado a lançar satélites do que a tentar espatifar algo na Lua.

"Para assegurar as autoridades de que não somos um risco para a população ou para a segurança nacional, teremos que nós esforçar muito", disse Larmour.

Larmour começou o projeto com duas regras. "A primeira era 'nada de fraudes'", disse. "Já que vamos usar o dinheiro dos outros, precisamos nos esforçar para fazer isso acontecer; mesmo que tudo dê errado, os doadores tem que saber que tentamos de verdade. A segunda regra era 'nada de ser preso."'

Essa regra não existe apenas para garantir o bem-estar da dupla; os dois esperam abrir caminho para que o espaço não seja controlado pelo governo e pelas grandes empresas; eles sabem que se pisarem na bola, seus futuros seguidores sofrerão para entrar no mundo da navegação espacial.

Por mais que a Moonspike seja uma empresa, Von Bengston vê seu projeto como algo "entre o amadorismo e as grandes empresas espaciais como a SpaceX". Sua missão está mais ligada à aventura do que ao lucro, pelo menos por enquanto. "Os impostos sobre os rendimentos serão a menor de nossas preocupações", disse Larmour.

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É claro que US$1 milhão não é o suficiente para mandar um foguete à Lua, por mais simples que a missão seja; a dupla espera usar esse dinheiro para manter a empresa pelo próximo ano. Em 2016, esperam aperfeiçoar o design do foguete, encontrar um local para sua construção e começar a testar o design do motor e subsistemas como o de navegação.

Mais para frente, Larmour planeja buscar outras fontes de investimento, mas, como ele me explicou, é muito improvável que investidores de risco ou investidores-anjo invistam em um "projeto admitidamente insano", ainda mais agora, quando a empresa acaba de ser criada.

É um projeto literalmente lunático, e Larmour concorda que o sucesso da missão depende de muitos fatores. Por enquanto, porém, o projeto parece um pouco mais viável do que o Mars One.

Quando pergunto sobre sua motivação, Larmour retorna à ideia besta que deu origem a toda essa história.

"Só quero ver se um grupo de caras consegue mandar um foguete para a Lua."

Tradução: Ananda Pieratti