MOD, o Projeto que Quer Revolucionar a Forma de Fazer Música
A cria e o criador. Crédito: Helena Wolfenson/VICE

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Tecnologia

MOD, o Projeto que Quer Revolucionar a Forma de Fazer Música

O MOD Duo tem uma proposta ousada: quer ser o iOS e o Android da música.

O mundo é feito de grandes tretas — tais como Gugu contra Faustão, Trakinas contra Passatempo e Nintendo contra Sega — e grandes soluções — tais como TV fechada, chocolate e PlayStation. Uma dessas batalhas pode estar em vias de ver seu fim graças ao engenheiro e guitarrista brasileiro Gianfranco Ceccolini. Ele é idealizador do MOD, um projeto que quer criar diversos aparelhos para juntar os melhores princípios do Android e do iOS em caixas com centenas de possibilidades musicais.

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O MOD Duo quer ser grande. Crédito: Helena Wolfenson/VICE

Um pedal de guitarra é mais ou menos isso, à exceção das centenas de possibilidades. Efeitos que se popularizaram nas mãos de caras como Tom Morello, Steve Vai, Jimmy Page e Jimi Hendrix saíram de instrumentos conectados a pequenas caixas que processam sinais elétricos em frequências várias, mas limitadas. "Imagina o momento em que você pode instalar e reprogramar uma pedaleira? O MOD é resultado dessa ideia toda", me disse ele enquanto abria uma das salas que utiliza com sua equipe em um sobrado em São Paulo.

Lá dentro, ele plugou uma guitarra ao MOD Quadra, um dos filhos mais recentes do projeto. Via internet ou Bluetooth, o aparelho conversa com uma interface intuitiva acessível em qualquer computador. Na tela do PC é possível criar tudo quanto é pedaleira. Por exemplo: um fio virtual pode ligar um pedal abafador a um amplificador típico de metal passando por caixinha com uá-uá regueiro. E aí está um dos pulos do gato: o aparelho não reproduz apenas um som porque, em vez de ter uma única função e um único pedal, tem vários.

O Gian me explicou: "Todo o mercado de pedais está construído sobre uma premissa de que hardware e software são uma mesma coisa. Na hora que a gente quebrou essa premissa, a gente teve de criar tudo do zero. É parecido com o que a Apple fez com o iPhone". No equivalente à App Store do MOD estão disponíveis, além de pedais, amplificadores e pré-amplificadores que alteram sons em sequências e podem ser compartilhados na própria rede do MOD. Basta que um instrumentista baixe alguma criação minha, por exemplo.

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Na atual versão, o MOD tem cerca de 150 equipamentos virtuais baseados em Linux — e aí está a outra sacada dos caras. Chamados de plugins, muitos já existiam antes de o pequeno aparelho vir ao mundo. "Pra fazer um plugin você precisa do seu notebook e da sua cabeça. Você digita um plugin", me disse o Gian. Ele me mostrou a versão digital do Guitarix, um dos mais célebres amplificadores de guitarristas que, enquanto plugin usado pelo MOD, teve a modelagem matemática do circuito implementada em um código de algoritmo.

Desnudamos o bicho pra mostrar como ele é por dentro. Crédito: Helena Wolfenson

O Gian sabe que, por se tratar de algo virtual, o som não é o mesmo de um modelo real. Ele também sabe, contudo, que a intenção do MOD é mais trazer novidades que reproduzir o que já existe no mercado. O Paulo Rocha, um dos parceiros do engenheiro na empreitada, adicionou. "Temos os pedais e amplificadores clássicos, mas como é virtual, um desenvolvedor em qualquer lugar do mundo pode criar um pedal e exportar pro MOD. Ele não faz isso fisicamente e, a partir desse momento, você tem a possibilidade de fazer uma quantidade maior desses plugins porque não há necessidade de garantir uma escala de venda do pedal físico."

O Paulo, que também é músico, é conhecido nos palcos como Chapolin. Ele é baterista do Ludov e, apesar de não tocar guitarra, anda tão empolgado quanto o Gian. O aparelho pode alterar sons de qualquer instrumento conectado a ele: uma bateria eletrônica, um baixo, um sintetizador, uma flauta microfonada, ou mesmo um microfone de um cantor doidão. Quem ainda não estiver satisfeito pode usar uma plataforma Arduino junto com o bicho, realizando efeitos a partir de um movimento, por exemplo. "Você inventa como ela vai atuar. Dá pra ter parte de uma banda aqui: tecladista, um baixista e um vocalista", me contou o Gian.

O próximo passo da turma do MOD é colocar seu modelo mais recente, o Duo, na rua. "Vamos entrar com os dois pés na porta", foi o que o Gian disse. Na semana passada ele e sua equipe iniciaram uma campanha no Kickstarter que já alcançou 50% da meta pretendida. A intenção é atrair investidores internacionais e lançar o produto mundo afora com montagem entre China e Estados Unidos a US$ 399. É pouco perto do que já foi gasto projeto: R$ 1 milhão, pelas contas do Gian. Valor digno de cachê de rockstar, como lembrou o Paulo. "Eu quero ver isso no pé do Flea do Red Hot. A gente pensa grande!"

Da esquerda para a direita, a equipe que faz o MOD: em pé estão Bruno Gola, Paulo Rocha (Chapolim), Rafael Guayer, Ricardo Crudo, Lucas Takejame; agachados estão Bruno Ishikawa, Luis Fagundes e Gianfranco Ceccolini. O bebê Martim e o cachoro Mango fecham o time. Crédito: Helena Wolfenson/VICE