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Tecnologia

É Possível Criar Robôs Com Canudinhos

O Quirkbot foi criado na Suécia com a ajuda de quatro brasileiros, é um robô que pode ser montado (com canudinhos) e programado por crianças.
​Peixe robô Quirkbot de canudinhos. Crédito: ​Kids Hack Day

​Quando eu era criança, minha concepção de robôs do futuro era bem parecida com o que eu via nos Jetsons. Jamais passou pela minha mente de 10 anos que eu mesma poderia programar um robô. Na verdade, a ideia de uma criança programar um robô não passava pela minha cabeça até semana passada, quando fui apresentada ao ​Quirkbot, um brinquedo que realmente pode ser montado e programado por crianças a partir dos 10 anos. Feito com canudinhos comuns e ​Strawbees (uma pecinha de plástico que conecta os canudinhos), ele é movido a bateria e pode andar, brilhar, emitir sons e fazer piruetas – funções muito mais elaborados do que os carrinhos de controle remoto que eram oferecidos como tecnologia de ponta para as crianças dos anos 90.

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O Quirkbot nasceu na Suécia e sua história começa com a história do ​Kids Ha​ck Day, um evento nos moldes das palestras do TEDx, aberto ao público, que já atingiu pelo menos 15 países – inclusive o Brasil, onde o evento aconteceu em Curitiba ano passado. Tanto o Kids Hack Day quanto o Quirkbot seguem a lógica do open source, ou seja, ​qualquer pessoa pode se organizar para fazer um Kids Hack Day em qualquer lugar do mundo e qualquer pessoa poderá modificar, copiar e distribuir o hardware do brinquedo.

Placa que controla o Quirkbot. Crédito: ​Kids Hack Day

O evento é direcionado a crianças, para que elas aprendam a brincar com tecnologia. A iniciativa conta com uma equipe grande e também com as mentes de quatro brasileiros: Paulo Barcelos, Daniel Mascarenhas, Gregory Carniel e Murilo Polese. Todos eles trabalham com arte, design, comunicação e tecnologia. O Kids Hack Day existe há dois anos e surgiu do incômodo com o ensino de tecnologia às crianças nas escolas. O objetivo da oficina é "criar uma maneira alternativa de fazer as crianças se interessarem por tecnologia, a gente bota as crianças para brincar e elas criam seus próprios jogos", me contou o Paulo. É um modelo completamente fora da lógica da sala de aula e seus criadores acreditam que funciona bem, porque "elas se empolgam em aprender sem nem saber que estão aprendendo", disse Paulo.

Os brasileiros Daniel, Gregory, Murilo e Paulo brincando com o Quirkbot. Crédito: Katerina Lukoshkova

Conversei com o Paulo, o Gregory e o Daniel por Skype e pude ver a animação dos três ao me contarem sobre o Kids Hack Day e o Quirkbot. "O Quirkbot virou um produto produzido pelo Kids Hack Day e o Kids Hack Day virou a pesquisa e desenvolvimento do Quirkbot", resumiu Paulo.

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O projeto ainda é uma sementinha e eles estão reunindo fundos através do Kickstarter para realmente fazê-lo decolar. Mas a ideia é inovadora: colocar crianças para criar seus próprios brinquedos e aprender a programá-los.

A questão da programação soa bem complexa, mas na verdade é bem simples. O brinquedo usa um dispositivo que pode ser conectado ao computador via USB e programado através do site do Quirkbot. Essa parte será colocada em prática mais para frente, mas eles já testaram com algumas crianças e me disseram que o sistema foi bem recebido, já que ele é bastante visual e também pode ser trabalhado através de texto. A interface simples é para não assustar ninguém e facilitar o trabalho das crianças.

Interface visual do programador do Quirkbot. Crédito: ​​Kids Hack Day

Um ponto importante que o Paulo me falou também é que ensinar programação em si não é o objetivo do Quirkbot: "Queremos fazer elas entenderem a tecnologia como algo maior de que elas podem fazer parte". Eles querem quebrar a lógica de consumo e de mercado da tecnologia. Para eles, a tecnologia não deve ser controlada, deve ser uma ferramenta acessível, ser usada para criar "criaturas" e receber elementos mais humanos, porque eles acreditam que ela faz parte da vida e não está desprendida do mundo que cerca as crianças.

O Gregory me falou que o jeito mais fácil de ensinar isso tudo é aproximando a tecnologia da realidade. "Acho que é isso que o Quirkbot faz de mais importante, ele junta os dois mundos, o digital e o físico, é a brincadeira de sempre, mesma magia, só que agora com o poder da tecnologia", diz.

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Um dos diferenciais do Quirkbot é que ele também pretende trabalhar com a internet. Depois de configurar o seu robô, as crianças podem compartilhar suas configurações e trocar figurinhas entre si online, uma criança pode dar continuidade ao trabalho feito por outra.

Robôs curtindo muito uma festinha. Crédito: ​Kids Hack Day

Lidando com crianças e internet, perguntei como eles pretendem manter a segurança das crianças na web e eles me disseram que o plano é que, para publicar informações online, as crianças precisarão de autorização dos pais. Uma coisa é importante ressaltar: o Quirkbot não vai criar uma rede social, até porque existem outras ferramentas que as crianças já usam para se conectar. Eles pretendem criar o ambiente mais seguro possível, apesar de parte desse serviço ser de responsabilidade dos pais, e acreditam que a conscientização do uso das ferramentas na internet é mais importante que a proibição.

Além de conscientizar as crianças do uso da tecnologia, eles as incentivam a reciclar os seus próprios brinquedos antigos. Qualquer material pode fazer parte de uma nova brincadeira.

Perguntei a eles se eles pretendem trazer o Quirkbot para sua terrinha natal e eles responderam com animação que sim. O Daniel até me revelou que seus amigos responsáveis pelo Strawbees têm grande interesse em produzir a pecinha na América do Sul, o que deve facilitar a entrada do Quirkbot por aqui. Eles também me contaram que deve rolar mais Kids Hack Day no Brasil em 2015.

Aguardemos colecionando canudinhos.