Você com certeza já ouviu falar do Tiranossauro Rex, que reinava sobre a região da América do Norte, mas talvez não saiba que o Brasil teve a sua própria espécie de "T-Rex", o dinossauro Terópode – ou Pycnonemosaurus nevesi, na linguagem científica. Além do carnívoro tupiniquim, cujos fósseis foram encontrados nos estados do Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas Gerais e Maranhão, o território brasileiro foi lar para outras 27 espécies de dinos.
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Com o objetivo de contar a história dessas espécies e de tantas outras habitaram o Brasil há 2,4 bilhões de anos, o paleontólogo e professor da Universidade de São Paulo (USP) Luiz Eduardo Anelli lançou este ano o livro Dinossauros Brasileiros e outros Monstros – Uma viagem à pré-história do Brasil, que apresenta 38 espécies de bichos (28 dinos e outros 10 como capivaras e pássaros) já extintos que viveram no território brasileiro. "O território brasileiro era de extrema aridez, nós temos espécies muito distintas que chamam muita atenção de pesquisadores do mundo todo", afirma.Devido ao clima árido, a vida dos dinos brasileiros não era fácil. Segundo o paleontólogo, o interior do Brasil era menos habitado do que o litoral e a oferta de alimento era mais escassa. Por isso, nossos dinossauros eram considerados pequenos. Nosso maior dinossauro tinha 20 metros de comprimento, enquanto nossos hermanos argentinos chegavam a ter mais de 40. Por que? "No Triássico, em uma região de baixa latitude, a apenas 400km do litoral do Pacífico, rios meandrantes e extensas planícies de inuncação, típicas de regiões mais úmidas e extensas planícies de inundações típicas de regiões mais úmidas, proporcionavam água e vegetação em abundância", escreve Anelli. A riqueza da vegetação argentina permitiu o desenvolvimento de muitas espécies na região.Segundo o professor, evidências dos dinossauros encontrados no Rio Grande do Sul apontam que eles são os mais antigos do mundo. Outro fato interessante é que os dinos habitaram a Terra quando os continentes ainda estavam unidos e, por isso, de acordo com Anelli, os exemplares africanos e os brasileiros têm muitas semelhanças e fazem parte da mesma linhagem.
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Anelli tem outros três livros sobre dinossauros no currículo: O Guia Completo dos Dinossauros no Brasil, Dinos no Brasil e ABCDinos. Ele acredita que seu livro Dinossauros Brasileiros e outros Monstros – Uma viagem à pré-história do Brasil é o primeiro escrito sobre como foi o período pré-histórico em território brasileiro. "Tudo o que a gente ensina é baseado em fósseis dos Estados Unidos, da Europa e da Austrália porque eles transformaram a paleontologia e a pré-história deles em cultura, assim como a arte, a música, o esporte", afirma. Anelli crê que a ciência tem muito o que descobrir sobre a pré-história, mas que os brasileiros ainda precisam conhecer sua própria pré-história. Uma de suas preocupações era criar uma obra que pudesse ser utilizada em escolas. "Não há o que os alunos lerem, está tudo espalhado em papers e trabalhos acadêmicos", diz.
Na obra, é possível conhecer tanto espécies de dinossauros quanto de outros bichos terrestres, aquáticos e voadores também já extintos, assim como entender o processo de transformação do território brasileiro durante a pré-história com ajuda de ilustrações técnicas. Os frutos dessas alterações, diz Anelli, estamos colhendo até hoje. "Todo aquele ferro da lama derramada pela Samarco ano passado tem a sua raiz numa pré-história longe e distante, 2,4 bilhões de anos. Foi nesse ponto que comecei a perceber que estava fazendo conexões do passado com o atual", conta.
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Além da viagem pelo tempo, o livro de Anelli passeia pelo território brasileiro com as ilustrações do paleoartista Julio Lacerda. As imagens mostram o cenário árido e duro do interior do Brasil habitado pelos dinossauros. "Era uma vida dura. O litoral tinha mais vegetação, o que traz alimento e diversidade de espécies", explica Anelli. Para o ilustrador, a temática da pré-história trata do desconhecido, o que o permitiu se expressar com criatividade e liberdade na hora de desenhar.
"Não tem como saber como era realmente, então tem que soltar a imaginação, é diferente de desenhar um tigre, por exemplo, que a gente sabe como é. O mesmo dinossauro pra mim tem uma cor e pra outra pessoa é diferente, isso que me cativa", afirma o ilustrador. E é por causa do desconhecido, diz, que a pré-história encanta muito as crianças. Anelli concorda: "São coisas grandes, coisas que matam, que devoram, que caçam. Procurar por dinossauros é uma das aventuras irrecusáveis para qualquer ser humano, é um passado misterioso, mas que fascina até os adultos."