Crédito: Nature Methods
Semana passada, o robô disfarçado de filhote de pinguim, criado por Yvon Le Maho, devastou a internet. O biólogo integrativo da Universidade de Estrasburgo, da França, Le Maho e sua equipe construíram a adorável sonda para examinar de perto as colônias de pinguins sem perturbá-los em seus habitats naturais. Os cientistas publicaram os resultados da pesquisa na revista acadêmica Nature Methods.Mas o caminho para desenvolver uma sonda resistente ao clima (e aos pinguins) foi bastante árduo. Conversamos com Le Maho sobre aves de fibra de vidro, batalhas épicas entre pinguins, e os robôs autônomos do futuro.MOTHERBOARD: Conte mais sobre as suas primeiras sondas adequadas para pinguins.
Yvon Le Maho: No começo, usamos uma sonda comum [não fantasiada]. Foi um presente do Ministro do Interior da França, então não nos custou nada. Construímos a sonda para descobrir se conseguiríamos chegar perto das colônias de pinguins, e para identificar espécies com ela. Testamos a sonda e pensamos: "OK, é uma boa estratégia."Mas houve problemas, certo?
Sim. A sonda não era à prova de areia nem de água. O tempo estava muito ruim, enfrentamos chuvas e ventos, e isso danificou os equipamentos eletrônicos. Então, precisamos improvisar todos os aspectos do robô.Além disso, queríamos ter certeza de que a sonda não teria um efeito nocivo na colônia de pinguins. Então, tentamos falsificar pinguins. O primeiro pinguim falso que tentei criar, antes desta colaboração [com uma equipe de engenheiros], era de fibra de vidro. Foi muito bem fabricado, mas não se parecia muito com um pinguim de verdade.Assim surgiu a sonda-pinguim.
Acho que o material fez toda a diferença. Filhotes de pinguim-imperador são cobertos — não apenas de penas, mas de algo semelhante a pêlo. Usamos um material falso que parece um verdadeiro revestimento de filhote de pinguim.O que aconteceu quando a sonda se aproximou dos pinguins?
Testamos a sonda com duas espécies diferentes. O pinguim-rei é uma espécie muito territorialista. Quando ele vê outro pinguim se aproximando, discute e briga pelo território. Mas quando vê humanos por perto, recua. Nesse caso, não tivemos problemas. A sonda se aproximou e eles não recuaram. Assim que a sonda chegou perto demais dos pinguins-reis, as aves começaram a brigar com ela, da mesma maneira que hostilizariam outros pinguins.Depois, quando tentei me aproximar dos pinguins-imperadores, foi muito mais difícil. Pinguins-imperadores não têm defesas territoriais. Em vez disso, eles se aglomeram. A sonda tinha que estar camuflada o bastante para conseguir se aproximar [da aglomeração]. O falso filhote que usei [no início] não foi capaz de enganar as aves. No fim das contas, usei este projeto melhor e funcionou, conseguimos chegar perto.Peraí… os pinguins-reis realmente brigaram com a sonda?
Acho que essa foi uma das partes mais difíceis da criação da sonda. Tinha que ser robusta e resistente. Quando pinguins-reis lutam, são bem fortes, então a sonda precisa ser bem resistente, especialmente porque está transportando tecnologia de ponta. Quando surge um pinguim de 80 centímetros de altura, usando o bico e a asa para atacar, a antena e todas as peças sofisticadas do sistema eletrônico precisam ser muito resistentes .Como você se interessou pelo estudo dos pinguins?
Quando eu era aluno de mestrado da Universidade de Paris, onde estudava fisiologia animal, costumava visitar o laboratório de ornitologia do Musei de História Nacional. Foi onde conheci Jean Prévost, diretor geral, primeira pessoa a me descrever os detalhes do ciclo de reprodução dos pinguins-imperadores. Achei fascinante. Prévost me convidou para passar um ano na Antártica, estudando a fisiologia dos pinguins-imperadores. Foi o começo da história, e eu ainda fico fascinado!Quais são os próximos planos?
As sondas funcionam com controle remoto. No futuro, teremos animais falsos autônomos, que se movimentarão por conta própria. O próximo passo é adquirir informações sobre a organização das colônias, usando um desses animais falsos.Aprendi que a chave para criar um animal falso é deixá-lo o mais parecido possível com o verdadeiro. Creio que representamos o começo de uma nova era, em que usaremos animais falsos para nos ajudar a entender a biologia de animais reais.Ciência É Foda é uma nova séria do Motherboard, em que conversamos com cientistas sobre os bastidores das descobertas, e o que o trabalho deles realmente envolve.Tradução: Stephanie Fernandes
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Yvon Le Maho: No começo, usamos uma sonda comum [não fantasiada]. Foi um presente do Ministro do Interior da França, então não nos custou nada. Construímos a sonda para descobrir se conseguiríamos chegar perto das colônias de pinguins, e para identificar espécies com ela. Testamos a sonda e pensamos: "OK, é uma boa estratégia."Mas houve problemas, certo?
Sim. A sonda não era à prova de areia nem de água. O tempo estava muito ruim, enfrentamos chuvas e ventos, e isso danificou os equipamentos eletrônicos. Então, precisamos improvisar todos os aspectos do robô.Além disso, queríamos ter certeza de que a sonda não teria um efeito nocivo na colônia de pinguins. Então, tentamos falsificar pinguins. O primeiro pinguim falso que tentei criar, antes desta colaboração [com uma equipe de engenheiros], era de fibra de vidro. Foi muito bem fabricado, mas não se parecia muito com um pinguim de verdade.Assim surgiu a sonda-pinguim.
Acho que o material fez toda a diferença. Filhotes de pinguim-imperador são cobertos — não apenas de penas, mas de algo semelhante a pêlo. Usamos um material falso que parece um verdadeiro revestimento de filhote de pinguim.O que aconteceu quando a sonda se aproximou dos pinguins?
Testamos a sonda com duas espécies diferentes. O pinguim-rei é uma espécie muito territorialista. Quando ele vê outro pinguim se aproximando, discute e briga pelo território. Mas quando vê humanos por perto, recua. Nesse caso, não tivemos problemas. A sonda se aproximou e eles não recuaram. Assim que a sonda chegou perto demais dos pinguins-reis, as aves começaram a brigar com ela, da mesma maneira que hostilizariam outros pinguins.
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Acho que essa foi uma das partes mais difíceis da criação da sonda. Tinha que ser robusta e resistente. Quando pinguins-reis lutam, são bem fortes, então a sonda precisa ser bem resistente, especialmente porque está transportando tecnologia de ponta. Quando surge um pinguim de 80 centímetros de altura, usando o bico e a asa para atacar, a antena e todas as peças sofisticadas do sistema eletrônico precisam ser muito resistentes .Como você se interessou pelo estudo dos pinguins?
Quando eu era aluno de mestrado da Universidade de Paris, onde estudava fisiologia animal, costumava visitar o laboratório de ornitologia do Musei de História Nacional. Foi onde conheci Jean Prévost, diretor geral, primeira pessoa a me descrever os detalhes do ciclo de reprodução dos pinguins-imperadores. Achei fascinante. Prévost me convidou para passar um ano na Antártica, estudando a fisiologia dos pinguins-imperadores. Foi o começo da história, e eu ainda fico fascinado!Quais são os próximos planos?
As sondas funcionam com controle remoto. No futuro, teremos animais falsos autônomos, que se movimentarão por conta própria. O próximo passo é adquirir informações sobre a organização das colônias, usando um desses animais falsos.Aprendi que a chave para criar um animal falso é deixá-lo o mais parecido possível com o verdadeiro. Creio que representamos o começo de uma nova era, em que usaremos animais falsos para nos ajudar a entender a biologia de animais reais.Ciência É Foda é uma nova séria do Motherboard, em que conversamos com cientistas sobre os bastidores das descobertas, e o que o trabalho deles realmente envolve.Tradução: Stephanie Fernandes