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Tecnologia

​Conheça a ‘Família Bitcoin’

Educação, compras, comida, emprego. Toda a vida dos Redman gira em torno da volátil moeda virtual.
Crédito: Jamie Redman

Quando o filho de seis anos de idade de Jamie Redman perde um dente, o menino acorda com um QR code impresso debaixo do travesseiro para acessar sua carteira de bitcoins e ganhar umas moedinhas virtuais.

Achou exótico? Bem, essa é só mais uma das muitas peculiaridades da vida da família Redman, que vive em torno da criptomoeda, de acordo com recente post no blog de Jamie, intitulado "Somos uma Família Bitcoin".

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No texto, o americano relata como o Bitcoin permeia quase todas as facetas da vida doméstica dele, de sua esposa Liza e de seus dois filhos – Joshua, de seis anos, e Franklin, de dois. Tudo entre eles é feito via moedas virtuais: do pagamento das contas à educação em casa.

Sim, Jamie, ex-trabalhador na construção civil que virou criador de memes ligados à Bitcoin e blogueiro (pago em Bitcoin), dá aulas para seus filhos em casa e ensina os caminhos da moeda.

"Bitcoin é algo que rola 24 horas por dia. Pra mim é um blockchain sem fim, que não para nunca. É muito presente na minha família"

Pode parecer loucura, mas enquanto a maior parte das pessoas ainda vê dificuldades para formar uma frase coerente descrevendo o que diabos é Bitcoin mesmo, Joshua – que tem seis anos, cabe lembrar – descreve a moeda assim: "Bitcoin é uma criptomoeda. É uma espécie de dinheiro computadorizado que você usa na rede… Tipo números sendo trocados."

Puta merda, nada mal.

Para saber como é viver em uma família cujas vidas se entrelaçam com o destino da volátil moeda digital, chamei Jamie no Skype, que, da varanda de sua casa em Boston, respondeu a algumas perguntas sobre esse modo de vida.

Motherboard: Como você convenceu sua família a entrar nessa?

Jamie Redman: Curto Bitcoin desde 2011. Não estava tão de cabeça na coisa como agora até por volta de 2012. Convenci minha esposa a conseguir algumas como investimento, para fins especulativos, e então comecei a estudar a moeda por conta própria, sem apoio da família logo de cara. E então me vi envolvidão com a coisa, falando sobre ela o tempo todo e criando artes sobre, fazendo tudo que podia, saca?

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Sua esposa foi a primeira a comprar Bitcoin – ela está tão nessa quanto você?

De primeira não, mas agora, sim; ela consegue perceber o verdadeiro potencial do Bitcoin. Ela entende. De cara, ela não conseguia explicar para seus amigos e tudo mais, mas agora é diferente. Como falei em meu texto, levei meu filho ao caixa eletrônico – temos sorte de ter quatro caixas de Bitcoin em Boston – e o do MIT é bem perto da nossa casa. Ele não entendeu no começo, já que tem só quatro anos. Ele esperava que saíssem moedas da máquina.

Como as pessoas reagem ao seu estilo de vida?

Minha família e amigos perguntam o que faço e eu digo que escrevo sobre bitcoins o dia inteiro. A reação dele é: mas você ganha pra isso? E digo que, sim, claro, sou pago em Bitcoin. Isso é o que rola em um primeiro contato e tenho que explicar. Uso de tecnologia financeira e coisas no telefone para levar a mensagem às pessoas. Tecnologia financeira é uma indústria das grandes agora, e eu só falo às pessoas como pagar suas contas e tudo mais com seus telefone. Você tem a internet do seu lado o tempo todo.

Quando amigos te chamam pra comer, rola algum problema se o restaurante não aceita Bitcoin?

Não necessariamente. Na hora de pagar contas tem horas que temos que usar outra moeda mesmo, então usamos o BitPay. Também o utilizamos para outras despesas específicas, como nossos celulares. Se fosse sair com alguém pra comer, não impediria de irmos em algum lugar que não aceite Bitcoin. Aqui em Boston, alguns aceitam.

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Quanto das suas compras rotineiras são realizadas com Bitcoin?

É um diálogo diário. Quando vamos ao mercado, semanalmente, compramos cartões Gyft que são aceitos no Whole Foods. É uma das melhores alternativas, dá pra conseguir descontos de 5 a 15% com esses cartões. Sabe do que tô falando?

Sim.

Aceitam na Best Buy e lugares assim. Usamos diversos métodos. Aos poucos estamos fazendo a transição, não está tudo 100%. No Canadá sei que rola o Bylls e tal, mas aqui só temos um serviço de pagamento de contas. Usamos o Bitpay com frequência.

Quanto da educação domiciliar de seus filhos trata de Bitcoin?

Diria que muito, mas porque faz parte da rotina. Quando eu e meu filho fazemos nossas artes, falamos de Bitcoin o tempo todo. E como disse, escrevo sobre o assunto diariamente, então sempre conversamos sobre o que ando escrevendo e com quem converso ao redor do mundo. O Bitcoin é algo que rola 24 horas por dia. Pra mim é um blockchain sem fim, que não para nunca. É muito presente na minha família. Não passa um dia sem que toquemos no assunto.

Você ensina ao seus filhos somente sobre a moeda ou fala do blockchain também?

Mais sobre a moeda. Como são números que não podem ser duplicados, tem maior escalabilidade – coisas que eles possam entender.

No seu post você menciona como acompanha os preços do Bitcoin com seus filhos. Sou adulto e quando vejo essa parada, fico doido. Eles curtem?

Sim. Assim como os gráficos, eles sempre perguntam o que os pontos verdes e vermelhos significam. Sempre se interessam. Por algum motivo, essas tabelas faz eles pirarem. Não sei, eles gostam.

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"Consigo interpretar as tabelas e tudo, mas não consigo prever o que acontecerá no próximo ano"

Quanto do dinheiro de sua família está atrelado ao Bitcoin em comparação ao dinheiro comum?

Diria que estamos meio a meio agora. Vamos nos mudar em cerca de seis meses e nosso plano é mudar pra 100%, o máximo que pudermos. Como disse, não negaríamos idas a restaurantes nem nada assim, mas estamos tentando chegar nesse ponto. Está indo muito bem. Em grande parte porque o que ganho como freelancer vem em Bitcoin. Prefiro assim.

A volatilidade no preço do Bitcoin – e seu declínio – afetaram você de alguma forma?

Temos que prestar atenção, de fato. Em determinado momento temos maior poder de compra. Com certeza caiu um pouco. Não diria que fui atingido, pois sou pago em dólares, então convertidos em Bitcoin e enviados a mim. Então recebo o que tenho que receber e, no geral, dinheiro não é algo que dura muito em uma família de quatro pessoas.

Joshua, filho de Jamie. Crédito: Jamie Redman

Quanto do futuro financeiro de sua família está atrelado ao Bitcoin?

Muito. É um puta investimento. Estamos dando um grande salto. Consigo interpretar as tabelas e tudo, mas não consigo prever o que acontecerá no próximo ano. Só posso crer nas habilidades que o Bitcoin pode dar às pessoas em termos de remessas e afins.

Isso te preocupa?

Se me preocupa? Não.

Por que não?

Tenho muita fé na coisa. Vejo muitos inovadores ao meu redor tão apaixonados quanto eu. Vejo as coisas que criam, e vejo muita descentralização acontecendo com o Uber e outras coisas nesse sentido. Muitos discordarão, mas as pessoas levam a internet consigo agora para onde vão e não se pensava nisso há alguns anos.

Tradução: Thiago "Índio" Silva