​Como um Algoritmo Aprendeu a Fazer Truques de Mágica

Truques de mágica requerem uma dose de mistério para impressionar e fascinar os espectadores. Um discurso convincente ou a atuação oportuna de um mágico pode fazer uma platéia cética acreditar no impossível. Mas um computador consegue fazer o mesmo?

Pesquisadores da Universidade Queen Mary em Londres construíram um algoritmo capaz de projetar truques plausíveis, como um jogo de quebra-cabeças "mágico" que usa princípios da geometria para fazer parecer com que as peças no quadro tivessem desaparecido quando na verdade foram reorganizadas, e um aplicativo que consegue adivinhar qual carta você pegou em um baralho.

Esses tipos de truque são baseados em princípios matemáticos, explicam os pesquisadores em um novo estudo ​publicado recentemente na Frontiers In Psychology. O quebra-cabeças envolve calcular o número de peças, o tamanho, o número de formas, dentre outras coisas. O truque da carta requer que você considere suas preferências e sua ordem cíclica em um baralho.

Um algoritmo consegue fazer esses truques baseados em matemática ainda melhores, usando técnicas da computação que provavelmente superariam um mágico comum.

"De uma forma geral, esses truques foram criados intuitivamente por mágicos e projetistas de truques", me disse Howard Williams, co-autor do estudo. "Só de olhar pra eles e perceber que eles tem uma base matemática que pode ser modelada por um computador fez com que surgisse a ideia."

Williams e seu colega, Peter McOwan, encheram o algoritmo com uma série de restrições matemáticas para a criação de um truque específico, bem como dados psicológicos a fim de orientar o programa para soluções que podem funcionar no mundo real.

Para o truque de cartas da leitura da mente, pesquisadores testaram alguns temas para descobrir quais cartas geralmente eram as preferidas em um baralho; o ás de copas contra o dois de paus, por exemplo. Esses dados foram então usados pelo algoritmo em conjunto com as restrições, como o posicionamento adequado de cartas "favoritas" no baralho, com o propósito de gerar um baralho de cartas ideal elaborado para aprimorar a ilusão.

Os pesquisadores, então, construíram um ​aplicativo para Android) que funcionava como um assistente de mágico digital. Foi implantado no software um baralho de truques customizado e respostas a perguntas simples, como "Você está pensando em uma carta vermelha?", com isso o algoritmo era capaz de prever qual carta tinha sido escolhida. Assim como um mágico de verdade.

Segundo Williams, a mágica digital foi um sucesso entre as pessoas que eles testaram. "Elas parecem transferir essa espécie de poder mágico do truque, por exemplo, do mágico para o telefone", ele disse. "É como se elas sentissem que o mágico estava fazendo com que o telefone fizesse algo que ele não seria capaz."

Essa descoberta é especialmente interessante. A tecnologia poderia então ser considerada mágica, apesar de sabermos que ela é construída e longe de ser sobrenatural? O autor Arthur C. Clarke — e os nerds de ficção científica devem se lembrar disso — certa vez escreveu que "qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível de magia".

Um smartphone que consegue adivinhar qual carta de um baralho você escolheu é provavelmente um cenário menos evoluído do qual Clarke estava pensando quando escreveu aquele aforisma, porém isso nos faz atentar para o fato de que a tecnologia ainda é capaz de nos surpreender e despertar uma veneração, mesmo que sejamos capazes de compreender seu funcionamento apenas em um nível conceitual.

É claro que um telefone é capaz de adivinhar qual carta você escolheu ou monitorar sua vida social e ​fazer um catálogo com os rostos e nomes de pessoas que você conheceu. Esse é o tipo de coisa que smartphones simplesmente sabem fazer. Mas você entende de que forma? Tem certeza?

Ainda que um computador ser capaz de elaborar um truque de cartas excepcional ou até mesmo construir um quebra-cabeças pareça um uso extravagante da inteligência artificial, não podemos negar que é um sinal de que a tecnologia ainda é capaz de nos deixar admirados, independente do quanto.