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Tecnologia

Como Ter Seu Jogo de Videogame Banido da Austrália

O game super-violento "Hotline Miami 2" foi banido na Austrália e reacendeu o debate sobre censura.
​Crédito: ​YouTube

​A maior parte do mundo não associaria a Austrália a uma das nações mais conservadoras do Ocidente, mas, de fato, o país tem um regime permanente de proibição - ou que proíbe se recusando a dar um esclarecimento - diferentes formas de mídia. Isto inclui uma série de livros, filmes (​apesar de que você não irá se surpreender com nenhum deles) e, mais recentemente e de forma rigorosa, videogames.

O debate sobre o ​rigoroso sistema de classificação australiano foi retomado semana passada quando seu conselho de classificação ​recusou a liberação da continuação do sucesso cult Hotline Miami, banindo o videogame de todo o país. De acordo com o relatório do conselho de classificação, a proibição decorreu por conta de cenas que contendo violência sexual no Hotline Miami 2: Wrong Number, o que a distribuidora do jogo contesta.

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"Em primeiro lugar, para deixar claro eventuais equívocos, o visual da abertura que foi exibido pela primeira vez em junho de 2013 não mudou em nada desde então",  ​escreveu o Devolver Digital, distribuidor do Hotline Miami, em uma declaração, afirmando ainda que não pretendiam realizar quaisquer mudanças no jogo a fim de agradar a crítica. "E em segundo, em resposta ao relatório propriamente dito, estamos preocupados e desapontados que um conselho de profissionais cuja tarefa é avaliar e julgar os jogos de forma justa e honesta é capaz de distorcer os fatos em tal nível e emitir um relatório contendo uma conduta tão impulsiva que não se faz presente na sequência em questão e retrata de forma incorreta o que foi apresentado a eles para revisão".

O jogo é brutal, mas é justamente esse o ponto.

A Austrália começou com seu sistema de classificação para videogames em 1994, motivada pelo pânico moral [que hoje em dia é visto como constrangedor] presente no jogo Night Trap, que pouquíssimas pessoas jogaram — não porque era proibido, mas porque era péssimo.

Na década seguinte, muitos jogos sofreram com a ira do conselho de classificação, incluindo Manhunt e Leisure Suit Larry. Entre 1994 e 2013 os jogos foram submetidos a um padrão mais rigoroso se comparados a outras mídias — e isso não ajudou: a maior classificação permitida era "MA15+", o que significava que os videogames mais obscenos permitidos no país deveriam ser apropriados para adolescentes de 15 anos de idade. O sistema de classificação foi mais ponderado com relação a filmes, com uma classificação para filmes adultos de "R18+".

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Desde 2013, quando a classificação "R18+" foi permitida também para videogames, ainda houve algumas restrições. Saints Row IV, State of Decay e South Park: The Stick of Truth foram inicialmente banidos. Todos os três foram posteriormente aprovados depois de algumas revisões, mas essas mudanças foram recebidas com gritos de censura pelos jogadores australianos.

Existem algumas temáticas específicas que parecem incomodar o conselho de classificação quando o assunto é videogame. Violência é uma preocupação óbvia, mas a glorificação de gangues ou cenas de crime violentas são o que parecem fazer os jogos se tornarem o alvo principal; 50 Cent: Bulletproof e até mesmo o jogo de grafite do Mac Ecko, Getting Up, foram barrados antes de passarem por algumas mudanças. Jogos em que drogas são uma espécie de eletrizante também são mal-vistos, fazendo com que Fallout 3 e NARC fossem banidos, tendo o primeiro deles voltado ao mercado depois que serem feitas algumas edições.

A maneira mais fácil de ser banido parece ser incluindo conteúdo sexual. Todos os Grand Theft Auto desde o III foram originalmente banidos por conter cenas de sexo com colegas de trabalho, mas todos os jogos foram re-classificados uma vez que elas foram alteradas ou removidas. (Cenas em que uma mulher é massacrada por um carro continuaram disponíveis.)

Os criadores da segunda edição do Hotline Miami disseram que não irão desistir. O conselho de classificação ficou preocupado com uma sequência de abertura - a mesma sequência que causou furor depois de ter sido incluída em uma demo - que retrata um homem com uma máscara de porco abusando sexualmente de uma mulher depois de ter matado todos na casa. O que, é claro, não parece nada bom, até que o diretor grita "corta!" você se dá conta de que a cena inteira não passa de uma recriação cinematográfica inocente do primeiro jogo. Até mesmo com esse conceito em mente, alguns jogadores ficaram preocupados com a bizarrice dessa introdução, e, em resposta a isso, a Dennaton Games fez com que os jogadores tivessem a possibilidade de omiti-la a qualquer momento.

Não restam dúvidas de que Hotline Miami era um jogo brutalmente violento, mas ao contrário de muitos jogos da mesma linha, ele era vagamente consciente de todo o derramamento de sangue vermelho neon. Era um jogo que parecia tonto, intoxicado, com uma história febril, angustiante e subversiva; era um jogo que parecia estar doente. Os críticos acharam que a brutalidade era a própria crítica do jogo, o que parece conversa fiada se você considerar o quanto do trabalho do Jonatan "Cactus" Söderström anterior ao Hotline era  ​igualmente cínico em relação a assassinatos casuais em videogame.

A violência contida nos jogos, no geral, deveria ser questionada, mas o conselho de classificação australiano parece não dar muito crédito a nuances. O problema não é limitado à sequência de abertura, já que o conselho intima Hotline Miami 2 por conter também infrações. A julgar pela declaração do Devolver Digital, parece difícil que o Hotline Miami 2 seja editado para atender as necessidades do país. Caso isso não aconteça, os fãs australianos podem sempre contar com uma sugestão do Jonatan Söderström.

"Se o jogo acabar não sendo lançado na Austrália, é só pirateá-lo depois do lançamento",  ​escreveu Söderström. "Não queremos o seu dinheiro, apenas curta o jogo!"