Dicas de uma Profissional do Sexo para Lidar com a 'Economia de Bicos' do Uber
Image: Surian Soosay/Flickr

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Dicas de uma Profissional do Sexo para Lidar com a 'Economia de Bicos' do Uber

Parece que entramos de vez na economia compartilhada. Uma escritora e ex-prostituta pode nos ensinar muita coisa.

O Vale do Silício está cheio de empresas prontas pra dizer como mudarão nossas vidas. É o Netflix que altera o modo como encaramos a TV pra cá, o Soylent que revoluciona o conceito de comida pra lá. Os exemplos são incontáveis – enquanto você lê essas linhas, um empreendedor cria algo disruptivo, arrojado, inovador. Todos parecem estar no caminho para recriar o mundo a sua imagem e semelhança.

Agora uma nova leva de empresas busca ir além. Elas não só facilitam nossas vidas por meio de aplicativos, mas também transformam de forma dramática como os negócios são conduzidos. Uber, Handy e TaskRabbit usam uma rede de prestadores de serviços independentes para comercializarem seus produtos e, durante o processo, prometem nos levar para uma "economia de bicos" em que todo mundo é um agente livre mandando em tudo na sua própria carreira.

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Mas não deixe que todo o bafafá e aplicativos com GPS o engane: essa economia não é nada nova. Na real, ela é bem velha – data dos tempos em que surgiu a profissão mais antiga do mundo.

Desde os primórdios da internet, profissionais do sexo tem usado a rede para se conectar a clientes. Parece exagero comparar os motoristas do Uber com quem vende aquela "mãozinha" mas, para o caso de todos estarmos destinados a nos tornar engrenagens da grande economia de bicos, parece prudente pegar uns conselhos de quem pratica um dos bicos mais antigos e consolidados.

Conversei com a acompanhante-agora-escritora-freelancer Charlotte Shane para saber mais sobre o que trabalhar com sexo lhe ensinou sobre ser prestadora de serviços e como essas lições poderiam se aplicar àqueles que tem uns trampos mais, ahm, mainstream. Separei em cinco tópicos.

1. Defina seus preços – e se atenha a eles.

Em seus dias na indústria do sexo, Shane era fiel aos seus valores. Ela sabia quanto seu tempo e serviço valiam e não abria mão deles; ela se recusava a qualquer tipo de oferta ou desconto, mesmo que significasse perder um trabalho. Quando os homens tentavam lhe enrolar pra conseguir um desconto, ela os ignorava. "Minha resposta era rir e dizer que não falava sobre isso'", diz Shane. Se alguém não podia bancar seu preço, não valia lhe dar acesso ao seu corpo. Segundo ela, sempre havia outros disposto a pagar o que cobrava.

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A confiança que Shane desenvolveu ao negar seus serviços a clientes mais muquiranas lhe ajudou bastante na nova carreira de escritora. "Mesmo que um editor não tenha como me oferecer mais que umas centenas de dólares por algo, ainda posso lhe responder 'simplesmente não é o bastante'. E isso não acaba virando um problema sobre o que pensam de mim ou quanto acham que meus textos valem", declara. Ela não precisa ter todo um diálogo interno sobre o quanto seu trabalho vale. Sabe o quanto custa seus serviços e segue em frente quando um editor não pode pagar.

"Quando trabalhei como acompanhante, nunca deixei de fazer anúncios, mesmo tendo muito trabalho."

2. Misturar negócios e prazer pode ser ótimo para os negócios.

A estratégia de marketing de Shane mudou um pouco. Antes ela dependia de anúncios pagos para alertar clientes para seus serviços; agora, foca nas redes sociais. Mas há algo que não mudou: a noção de cultivar um bom relacionamento e amizade genuína com colegas de trabalho. "Quando se cria amizades com outros trabalhadores, é possível que recomendem você para seus clientes ou que lhe chamem para um serviço em dupla", comenta. É certo que amizades de trabalho não levarão a grande maioria de nós à ménages, mas é provável que resultam em outras oportunidades lucrativas.

3. Saiba que não existem certezas – e esteja pronto para oferecer algo novo.

A intimidade da prostituição pode confundir um breve encontro como algo mais sério – é meio que o objetivo, pensando bem. Uma acompanhante esperta precisa lembrar que mesmo um primeiro encontro incrível não fará daquele um cliente costumeiro e que o mais leal dos clientes talvez suma por uma série de motivos externos. O mesmo vale para prestadores de serviços: um trampo, não importa quão bem feito seja, talvez seja aquela coisa que só role uma vez; e aquela sua fonte de renda mais estável pode fechar ou mudar seu foco para algo que não envolva lhe pagar.

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Para ambos os grupos, porém, a solução é basicamente a mesma: não importa o quão seguro você esteja, sempre busque novas oportunidades. Como dito por Shane, quando ela trabalhou como acompanhante, mesmo lotada de serviço, nunca deixou de fazer anúncios. "Eu queria sempre estar no radar das pessoas e ter oportunidade de recusar clientes", diz. "E podendo pegar novos trabalhos caso os atuais caiam por terra."

4. Certifique-se de que seus clientes o vejam como mais que um prestador de serviços.

Em seu trabalho como acompanhante, Shane fazia questão de manter contato com seus clientes – e não só para que a contratassem de novo. "Eu mantinha contato com os clientes, mandava muitos e-mails", diz Shane, deixando claro que as conversas entre um cliente e outro davam muito trabalho. Em sua nova carreira, é menos provável que mande um email para um editor do nada só pra saber como ele está, mas reconhece que é mais fácil sair na frente com quem gosta dela por motivos além de seu trabalho.

5. Saiba a diferença entre sua vida pessoal e o trabalho.

Para quem trabalha com sexo, há uma maneira bem fácil de diferenciar colegas de amigos: se você sabe ou não seu nome verdadeiro.

"Se você contou a outra acompanhante seu nome verdadeiro, foi um gesto do tipo 'confio em você, quero que sejamos amigas, não só pessoas que se conhecem e por vezes trabalham juntas'", disse Shane. "'É bacana, de certa forma, ter um ato que indique isso tudo."

Trabalhar como freelancer nem sempre oferece uma distinção tão clara; o que Shane crê leva a uma série de limites meio embolados. Quando seu trabalho se espalha por todo canto, é fácil acabar chorando as pitangas pelo seu namorado com alguém que é mais um colega do que amigo mesmo.

Usar um nome completamente diferente com colegas de trabalho é exagero para a maioria, mas ainda assim é importante ter noção de quem é colega e quem é amigo – certifique-se de entrar em assuntos pessoais apenas com quem faz parte do último grupo.

Tradução: Thiago "Índio" Silva