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Tecnologia

Como o Jogo 'Civilization: Beyond Earth' Quer Explorar o Pós-Humanismo

Cibernética, hackear o corpo, upload de memória e outros assuntos transhumanistas terão papel importante no próximo jogo da Firaxis.
Crédito: Firaxis Games

Se humanos planejam viver vários milênios pela frente, precisamos sair da única rocha que conhecemos. Mas, assim que desbravarmos um novo mundo, como será nossa civilização? E como nos adaptaremos para sobreviver em um lugar que não nascemos para viver?

Essa é a pergunta que Civilization: Beyond Earth tentará responder. Claro, é um jogo de ficção científica, mas os criadores, da Firaxis Games, passaram bastante tempo pesquisando e ponderando.

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Segundo a visão deles, temos três caminhos possíveis. Humanos podem viver em "harmonia" com o planeta, juntando nosso DNA com o suposto DNA de extraterrestres, alterando a genética para viver em um lugar completamente alienígena; podemos nos considerar superiores a tudo que encontrarmos no novo planeta, usando a robótica e outras tecnologias avançadas para sobreviver e dominá-lo; ou podemos considerar a raça humana "pura", tentando terraplenar o planeta em que pousarmos e deixá-lo o mais semelhante possível à Terra, para que os homens, em sua forma atual, possam viver lá como vivemos hoje aqui.

Essas três "afinidades" – pureza, supremacia e harmonia – são as mecânicas mais importantes na nova iteração desta lendária série de estratégia por turno. Elas não surgiram do nada. Antes de começarem o trabalho, os designers de jogos Will Miller e David McDonough gastaram horas a fio lendo ficção científicae refletindo sobre os possíveis caminhos da humanidade – literalmente, em alguns casos: todos os planetas da expansão recém-anunciada foram de fato descobertos com a ajuda do telescópio Kepler, da NASA.

"É uma obra de ficção, mas precisamos fazer o jogador acreditar na maneira como ele chegou lá. O jogador começa em um lugar convencional, um habitat que a NASA poderia construir em torno de 25 ou 30 anos, com veículos exploradores e instrumentos baseados em tecnologias atuais", Miller me contou. "Mas incrementamos e partimos dali para um território de ficção científica hard – o lado realista e plausível dela."

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Isso significa que o jogador verá coisas como cibernética e modificações corporais, armaduras militares, manipulação genética e uma restruturação completa do genoma humano como elementos comuns entre os habitantes do planeta. Significa que terá tecnologias ancoradas em cerébros artifificais e uploads neurais, hacking cerebral, computadores conscientes e autoreplicantes, robótica avançada, manipulação de memória, e todo tipo de coisa que discutimos aqui no Motherboard diariamente.

Não é uma jogada completamente sem precedentes na série: Beyond Earth é o sucessor de Alpha Centauri, um dos jogos da 4X mais consagrados pela crítica de todos os tempos, um jogo que explorou todas essas tecnologias em 1999. Mas os 15 anos entre Alpha Centauri e hoje acrescentam à nova versão um senso maior de urgência e mais realismo, à medida que começamos a testemunhar algumas das tecnologias se tornarem reais aqui na Terra.

Isso não quer dizer que o jogo, marcado para ser lançado dia 24 de outubro, é estritamente fiel à ciência: na fase de programação do jogo, Miller e McDonough não gastaram muitas horas conversando com futuristas, nem trabalhando com físicos teóricos e especialistas em inteligência artificial.

"Sid Meier, nosso diretor criativo, tem uma diretriz para o design de jogos: faça a pesquisa depois que o jogo estiver pronto. Pode soar estranho, mas se você sobrecarrega um jogo com coisas que as pessoas não entendem, ou se o jogo de espaçonaves se torna muito científico ou esotérico, ninguém se anima com ele", disse Miller. "Autenticidade é uma parte importante, mas também não queremos deixar o jogo muito entediante ou fazer as pessoas se sentirem burras."

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Crédito: Firaxis Games

Dito isso, a tecnologia e as escolhas que fazem parte do jogo são muito importantes, partindo de um ponto de vista, digamos, civilizatório. Supondo que chegaremos a outro mundo, que tipo de conquistadores seremos?

E qual será o trajeto adiante mais prudente? Nos primeiros anos, cientistas acreditam, colonizadores espaciais provavelmente não terão o que esbanjar, mas depois que segurarmos as rédeas das mudanças, será que a humanidade levará uma vida semelhante aos dias atuais?

Bem, em sua essência, Beyond Earth ainda é um jogo da série Civilization, e ainda é preciso dominar todo o resto do planeta para vencer. Ninguém conseguirá criar uma tecno-utopia onde todos se dão bem.

Como esperado, é um jogo por turnos, toda a ação ainda acontece em um só planeta (embora os planetas disponíveis sejam alienígenas, claro) e o jogador ainda começa com tecnologias relativamente rudimentares, e avança rumo ao fim do jogo construindo e destruindo civilizações.

Mas os avanços tecnológicos em questão não são tão rígidos como nos jogos anteriores. Em vez de uma "árvore" regimentada, haverá uma "rede" tecnológica que permite um leque extenso de recursos.

"Não é linear, e é flexível. Dá para fazer pesquisas genéticas ou químicas, e escolher diversas opções diferentes, e então dá para se especializar", disse Miller. "É possível escolher uma direção e focar nela como uma aposta para a vitória."

E não dá para a humanidade sobreviver em seu estado atual, não enquanto o progresso e a dominação absoluta forem seus objetivos.

"Não importa o que o jogador fizer, ele não sairá de mãos limpas – a humanidade passará por uma experiência transformadora, intensa, mesmo se o objetivo do jogador for pureza", McDonough contou. "Não importa o que escolher, o jogador terá que evoluir, em termos tecnológicos, rumo a um futuro bem estranho, pós-humano."

A essa altura, ainda podemos nos referir aos homens como "civilização"? Fica a critério dos nossos descendentes.

Tradução: Stephanie Fernandes