Como caixas-pretas em carros autônomos culparão humanos por acidentes
Seria isso uma coisa ruim, afinal? Crédito: Flickr/Becky Stern

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Como caixas-pretas em carros autônomos culparão humanos por acidentes

Seria isso uma coisa ruim, afinal?

Na esteira do acidente fatal com um carro de piloto automático da Tesla, em Willinston, na Flórida, nos EUA, legisladores alemães propõem a obrigatoriedade de "caixas-pretas" para carros autônomos.

Serão, dizem, semelhantes aos dispositivos presentes em aviões que registram os momentos antes de um acidente. A ideia é que os aparelhos ajudem as autoridades a entender o que aconteceu momentos antes da colisão e, assim, determinem se a culpa é de uma pessoa ou da máquina.

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De acordo com informações da Reuters, a legislação proposta exige que o passageiro em um carro autônomo esteja pronto para assumir o volante no caso de emergência. O documento também prevê que a caixa-preta registre "quando o piloto automático está ativo, quando o motorista dirige e quando o sistema pede para que o motorista assumisse o controle".

Caixas-pretas em automóveis não são novidade, e "registradores de eventos" já estão presentes na maioria dos novos carros. Estes aparelhos medem tudo, desde a velocidade até o uso de cinto de segurança antes de acidente.

O lado bom desses gadgets é que os fabricantes possuem mais dados para determinar porque um computador tomou decisão errada ao dirigir. O lado ruim é que, segundo os especialistas em algoritmos de veículos autônomos, que o amontoado de dados crus vindo dos cérebros eletrônicos não nos revela muito sobre suas decisões.

Para alguns analistas, a utilidade das caixas-pretas é livrar as tecnologias das montadoras de qualquer culpa no caso de colisão. "A crença é que o culpado mais provável será a pessoa ou outra pessoa em outro veículo", disse George Iny da Automobile Protection Association, que tem como objetivo proteger interesses dos consumidores no mercado automobilístico. "Isso pode permitir que empresas preparem defesa adequada caso sua tecnologia seja culpada."

Outro problema é saber quem terá acesso aos dados das caixas-pretas. Um artigo de 2015 no periódico Washington University Law Review mencionava que carros autônomos, caso registrem informações de localização sem proteção adequada, poderiam virar dispositivos de vigilância corporativa que enviam os locais onde fazemos compras e jantamos para qualquer um disposto a pagar.

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Defensores da privacidade há tempos tem se preocupado com registradores de eventos em carros comuns, e o risco de dados sigilosos caírem nas mãos erradas será o mesmo para carros autônomos, disse Iny.

"Os fabricantes poderiam facilmente vender os dados coletados de indivíduos para interessados e criar anúncios específicos para proprietários de determinados carros", afirma.

Atualmente, registradores em carros não monitoram dados de localização. Vários estados americanos, incluindo Califórnia e Nova York, já tem leis que limitam como e quando as autoridades podem acessar dados destes aparelhos. No Canadá, esta informação só pode ser compartilhada com, digamos, uma seguradora e com consentimento do proprietário ou por meio de ordem judicial.

Há, porém, de acordo com uma fonte que falou conosco em off, uma pequena brecha: caso um carro dê perda total e seja comprado pela seguradora após o acidente, a mesma poderia se dar permissão para baixar os dados da caixa-preta.

Tradução: Thiago "Índio" Silva