Após anos de tratamento desumano, Chelsea Manning sairá da prisão
Crédito: Molly Crabapple

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Após anos de tratamento desumano, Chelsea Manning sairá da prisão

Obama enfim reduz a pena da responsável por vazar informações diplomáticas que deram fim a uma série de abusos por parte de oficiais americanos.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, reduziu há poucas horas a sentença de Chelsea Manning, a responsável por vazar informações militares e diplomáticas em 2010 que deram fim a uma série de abusos e maus tratos por parte de oficiais norte-americanos. Ela estava em prisão militar há sete anos.

Manning será libertada em maio por ter revelado uma série de atos criminosos cometidos pelo exército e governo dos EUA, como a luta do Departamento de Estado americano contra um aumento no salário mínimo do Haiti, as instruções para oficiais norte-americanos esconderem evidências de abuso infantil da parte de prestadores de serviço no Afeganistão e o treino de tortura em uma instalação do FBI que o governo egípcio havia recebido no estado da Virgínia.

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Chelsea Manning foi condenada a 45 anos em uma prisão militar masculina em Fort Leavenworth, no Kansas, EUA. Transgênero, ela lutou para que tivesse o tratamento para disforia de gênero e mudasse para uma prisão feminina, algo que nunca ocorreu. Em setembro, deu início a uma greve de fome para protestar contra o que chamava de bullying por parte do governo norte-americano. Chelsea foi forçada a cortar seu cabelo a fim de atender o padrão dos prisioneiros homens e, durante determinado período, perdeu o acesso à terapia hormonal.

Manning tentou o suicídio duas vezes por causa da "falta de cuidado com minha disforia de gênero", como escreveu em setembro. No final do ano passado, o governo finalmente prometeu lhe conceder a cirurgia de troca de sexo. Um chefe de direitos humanos das Nações Unidas descobriu que o tratamento recebido por ela na prisão foi cruel e desumano.

"Preciso de ajuda e não estou recebendo nenhuma. Pedi por diversas vezes ao longo de seis anos e em cinco prisões diferentes", escreveu ao anunciar sua greve de fome. "Meus pedidos foram tão somente ignorados, atrasados, zombados, sendo enrolada pelo pessoal da prisão, o exército e este governo."

Os advogados de Manning disseram que sua vida estava nas mãos da administração de Obama. Na semana passada, sua advogada escreveu que "as previsões de que ela sobreviva mais um ano não são nada boas".

Evan Greer, organizador do Fight for the Future, organização que tem lutado pela soltura de Manning, disse-me nesta terça pela manhã, antes da redução de sua pena, que muitos próximos à Chelsea pensavam o seguinte: "Não quero apostar na vida de minha amiga, mas estou muito preocupado caso Obama não aja". Em 2010, Donald Trump afirmou que quem vaza documentos ao Wikileaks merece a pena de morte.

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Greer disse ainda que, caso não houvesse a redução da pena, o ocorrido "mancharia para sempre o legado de Obama como alguém que fingiu se importar com direitos humanos e das pessoas LGBT".

Para muitos grupos de defesa dos direitos humanos, o tratamento para Manning vai contra a imagem apresentada pelo governo Obama. "As boas novas de hoje não vão limpar a sujeira ocorrida sob a tutela de Obama", disse Sarah Harrisson, da Courage, organização de defesa dos direitos humanos europeia, em nota à imprensa. "A condenação de Chelsea tendo como base a Lei de Espionagem e a pena de 35 anos abriram um terrível precedente que segue intacto após esta redução. Quem sabe o que Donald Trump fará com os poderes que Obama deixa em suas mãos?".

De fato, a administração Obama condenou com firmeza os vazadores de informações. Ele processou mais oficiais do governo com base na Lei de Espionagem, que tem suas origens na I Guerra Mundial, que todos os governos anteriores juntos, um tropeço e tanto para um presidente que, em determinado momento, ganhou um Nobel da paz.

Reduzir a pena de Manning não muda muito, mas pode muito bem salvar uma vida.

Tradução: Thiago "Índio" Silva