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Adiamentos, Disputas e Lentidão: Babuínos Tomam Decisões Como Nossos Deputados

A democracia dos babuínos é tipo a nossa.

Atenção, políticos e eleitores: a regra da maioria não vale só para governos humanos. Um novo estudo sugere que, mesmo entre animais com rígidas hierarquias sociais, as decisões de grupo são mais vantajosas do que seguir um único líder. A conclusão contradiz outras pesquisas que davam destaque demais ao papel do macho dominante em um grupo.

O trabalho foi conduzido por pesquisadores da Universidade da Califórnia e Princeton, nos Estados Unidos, e também por estudiosos de Oxford, da Inglaterra, em parceria com o Instituto Smithsonian, grupo de pesquisa administrado pelo governo americano. O objeto de estudo foi o comportamento de babuínos-anúbis no Mpala Research Centre no Quênia.

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Como vocês estão cansados de não saber, os babuínos-anúbis são macacos verdes-acinzentados nativos da África equatorial. Onívoros nômades, eles podem buscar por alimento em pradarias e também no alto das florestas.

Esses animais servem como bom estudo de caso para comportamento em grupos. Na natureza, eles formam agremiações complexas chamadas de tropas, que podem contar com até mais de 100 indivíduos. As tropas, por sua vez, têm hierarquias complicadas, com machos dominando fêmeas em sua maioria, jovens machos controlando machos mais velhos e novatos agressivos que se sobrepõem a residentes de longo prazo.

Um dos adiamentos levou "excessivas três horas", de acordo com a pesquisa

Etólogos ainda tentam compreender como os babuínos mantêm a coesão de grupos tão grandes. Nessa pesquisa, a equipe de estudiosos ficou próxima da tropa de 46 integrantes que explorava uma área de mais de 10 quilômetros quadrados.

Para extrair dados e compreender a interação dos bichos, os analistas colocaram colares rastreadores feitos sob medida em 25 babuínos e então os devolveram à tropa. Os sensores enviavam informações sobre a localização dos animais e posições relativas um ao outro a cada segundo. Após 14 dias, os cientistas tinham uma imensidão de dados computados em um programa desenvolvido por eles mesmos.

"Tínhamos muitos dados complexos", afirmou Ariana Strandburg-Preshkin, de Princeton, uma das líderes da pesquisa. "Esses dados eram substancialmente diferentes de qualquer dado coletado antes. Não se encaixavam em nenhuma das técnicas padrão de estatística usadas de modo científico."

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Após a análise, que levou mais de um ano, as descobertas revelaram fenômenos interessantes. Não só o macho dominante tinha menor probabilidade de ser seguido do que os outros, como nenhuma posição ou gênero em especial tinha correlação com ser seguido ou não.

Segundo a pesquisa, o movimento da tropa não era feito por imitação. Tomadas de decisão bastante avançadas operavam ali.

Parte do comportamento padrão de forrageamento, as tropas se moviam longas distâncias em busca de fontes abundantes de comida. Os babuínos em uma tropa podem ser "iniciadores, aqueles que seguem em frente na esperança de fazer o grupo se mover", ou "âncora, que ficam parados e atrasam o grupo". Quando a discordância quanto à direção a ser tomada era pequena, a tropa optava por uma direção que agradasse a todos. Já quando a discordância era maior, os membros indecisos não se mexiam até ver onde a maioria iria. Depois de uma decisão dividida, até mesmo os dominantes seguiam a maioria em vez de separar o grupo.

O processo era democrático. Durante as grandes discordâncias, os babuínos tinham menos tendência a seguirem alguém. Um desejo de manter a tropa íntegra fará com que babuínos adiem uma decisão até que se atinja uma maioria clara. Um dos adiamentos levou "excessivas três horas", de acordo com a pesquisa.

O co-autor da pesquisa Damien Farine diz que a dinâmica faz sentido para grupos maiores de animais.

"Em realidade existem muitos modelos teóricos que sugerem que esta tomada de decisão compartilhada, como observado nesta tropa, seria a escolha em termos evolucionários", diz. "Decisões tomadas ao se combinar informação de várias fontes são muito mais precisas ou prováveis de serem corretas do que decisões tomadas por indivíduos."

Parece claro, segundo Farine, que os animais sabem que se muitos indivíduos "votam" por uma decisão, o resultado obtido será mais satisfatório para o grupo. "A teoria sugere que isto é o que a maioria dos animais deve fazer. Claro que podem existir exceções, mas isso requer que a conveniência de todos os indivíduos no grupo seja determinada pelo sucesso daquele dominante."

Claramente seria irresponsável extrapolar tanto a partir de um único estudo sobre comportamento em babuínos. Mas ele pode sugerir que machos alfa, ou ao menos sua influência, são menos importantes dentre animais socialmente complexos do que se pensava antes.

Tradução: Thiago "Índio" Silva