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As Árvores da Amazônia Estão Vivendo Rápido e Morrendo Jovens

E, ainda que fosse por causa de sexo, drogas e rock'n'roll, a redução na absorção de carbono ainda apareceria como efeito colateral.
Essas árvores jovens de hoje em dia... Crédito: RAINFOR

​Como um ​James Dean plantado no chão ou como uma ​M.I.A. de galhos e folhas, as árvores da Amazônia estão vivendo rápido e morrendo jovens. O problema é que a postura inconsequente das árvores faz parte de um ciclo que envolve mudanças climáticas como secas mais drásticas e elevação de temperaturas médias associadas à presença do carbono na atmosfera. "Observamos que a absorção de carbono da Amazônia diminuiu quase um terço na última década se comparado com os anos 90", me disse Roen Brienne, cientista que líder do estudo que chegou a essas conclusões.

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Professor do departamento de geografia na Universidade de Leeds, na Inglaterra, Roen realizou sua pesquisa em parceria com o INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia). Ele coletou dados de 321 sítios em regiões intactas da floresta amazônica para o trabalho. A partir dos anéis dos troncos das árvores e suas dimensões, por exemplo, foi possível observar a história dos últimos trinta anos da floresta. O panorama recente mostrou que a mortalidade entre as árvores aumentou em 28%.

"Muitos mecanismos podem explicar esse aumento na perda de biomassa correspondente a mortalidade de árvores sendo que os recentes efeitos climáticos são os mais óbvios candidatos", relata Roen em artigo publicado na penúltima semana de março na revista Nature. A morte de árvores também vem associada ao crescimento mais rápido de muitos espécimes. O estudo explica que, ao crescer muito em menos tempo, as árvores ficam expostas a problemas causados pela altura tais como distribuição de água.

Se quanto maior a altura, maior a queda, menor ainda fica a capacidade da floresta de reter carbono. "O declínio observado no reservatório de carbono da Amazônia diverge claramente do recente aumento da absorção de carbono terrestre em escala global", afirmou Roen. "A Amazônia historicamente tem sido responsável por 20% do sequestro de carbono, mas nossos resultados mostram que a magnitude disso, considerando apenas a área intacta, caiu para metade se comparado a picos dos anos 90", explicou o especialista.

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Caso alta e veloz taxa de mortalidade se confirme para os próximos anos, a tendência na redução no sequestro de carbono também ganhará força. As mudanças climáticas que atuaram no processo, embora não sejam únicas culpadas, devem aumentar. "Isso mostra que pode haver um limite na quantidade de carbono que as florestas podem absorver. Assim, cortes mais drásticos das emissões de carbono serão necessários", explicou o professor Roen.

MOTHERBOARD: A floresta amazônica está encolhendo, diminuindo ou morrendo?

Roen Brienne: A floresta amazônica intacta restante ainda atua como um reservatório de carbono, sendo que o desequilíbrio da floresta no ciclo é tamanho que ela retira carbono da atmosfera. Contudo, a taxa em que isso acontece está caindo. Nós não olhamos para o quanto o tamanho da floresta mudou ou quanto ela foi afetada por fatores como desmatamento. Apenas observamos as dinâmicas das áreas intactas.

A Amazônia sempre atuou como um reservatório de carbono? Como isso funciona?

Nem sempre foi assim. Num sistema natural, uma floresta em equilíbrio não deve atuar como sumidouro de carbono. Ela deveria capturar carbono na mesma medida em que ele é liberado pela morte de árvores. No entanto, nós observamos que nos últimos trinta anos a floresta tinha atuado como um reservatório de carbono, basicamente porque o crescimento geral foi maior que a mortalidade. "Mais entrada que saída."

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E como esse papel foi afetado? Por quê?

Agora, observamos a partir da análise de trinta anos de dados que o crescimento estagnou na última década enquanto a taxa de mortalidade continuou a aumentar. Como efeito disso o reservatório de carbono está diminuindo

A pesquisa se estendeu até a Amazônia andina. Crédito: RAINFOR

Quais a principal mudança a Amazônia tem apresentado nos últimos anos enquanto reservatório de carbono?

Observamos que o reservatório de carbono diminuiu quase um terço na última década se comparado com os anos 90.

É possível determinar o atual tempo de vida média das árvores na Amazônia?

A longevidade de árvores varia muito entre espécies e tipo de florestas. A maioria das árvores da Amazônia vivem provavelmente entre 75 e 350 anos, com exceções de alguns espécimes que podem chegar até a mil anos. O tempo médio de aprisionamento do carbono na madeira dessas árvores está numa ordem de 50 a 100 anos.

Nossos dados mostram que as árvores estão morrendo agora a uma taxa mais rápida e que o carbono circula pela floresta em maior velocidade. Isso pode acontecer devido a morte de árvores causada pela seca recente ou pela temperatura elevada incomum, mas outros mecanismos fazem parte dessa dinâmica também. Uma desses mecanismos certamente é o rápido crescimento das árvores, provavelmente pela alta concentração de dióxido de carbono, que pode causar a morte prematura de árvores.

Quanto essa queda do sequestro de carbono pela Amazônia corresponde ao total terrestre?

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A Amazônia historicamente tem sido responsável por 20% do sequestro de carbono, mas nossos resultados mostram que a magnitude disso, considerando apenas a área intacta, caiu para metade se comparado a picos dos anos 90.

Como vocês coletaram os dados usados nessa pesquisa?

A nossa pesquisa registrou o crescimento, morte e "nascimento" das árvores com dimensões mínimas de dez centímetros de diâmetro e 1,3 metro de altura. Acompanhamos esses espécimes em 321 sítios permanentes. Esse é um método de pesquisa é bem intenso, mas é um dos mais confiáveis para quantificar mudanças no equilíbrio de florestas tropicais no tempo.

O que explica essa tendência? Qual sua previsão para o futuro?

Como mostramos nesse estudo e no anúncio oficial, devem existir muitas explicações para isso. O crescimento estagnado pode ser causa das secas e do aumento da temperatura, enquanto o aumento da mortalidade pode ter várias causas além dessas, tais como o mecanismo "viva rápido, morra jovem".

Quais efeitos no clima são produzidos por essa redução no sequestro de carbono?

Se a absorção de carbono também mostrar a mesma tendência e se essa tendência continuar, o sequestro de carbono pode reduzir na Terra como um todo. Isso mostra que pode haver um limite na quantidade de carbono que as florestas podem absorver. Assim, cortes mais drásticos das emissões de carbono serão necessários.