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Tecnologia

Abelhas que Voam Juntas Morrem Juntas

Morra bem, viva rápido.
Crédito: ​Tomas/Flickr

Assim como aquele surto de mononucleose que derrubou todo mundo na sua república, no primeiro ano da faculdade, as abelhas mamangabas selvagens e as abelhas melíferas criadas em fazendas que moram perto uma da outra acabaram compartilhando uma série de vírus, conforme aponta um novo estudo.

Populações de abelhas estão desaparecendo ao redor dos EUA, o que impacta a polinização de alimentos e a vida natural das plantas. A pesquisa reforça as evidências de que os quadros de saúde dos dois grupos de polinizadores estão interligados, e enfatiza que, na busca por uma solução para o número decrescente de abelhas, ainda não sabemos muita coisa sobre nossas colegas sibilantes.

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Um artigo publicado hoje na revista Journal of Animal Ecology mostrou que os vírus encontrados em abelhas manipuladas se espalharam entre as abelhas selvagens que vivem por perto. Os pesquisadores coletaram abelhas voadoras livres de 26 lugares diferentes, na Grã-Bretanha, e as examinaram para checar a presença dos vírus típicos de abelhas melíferas. Eles perceberam que um vírus de uma espécie também era bem comum à outra.

Mais de 20 por cento das mamangabas coletadas apresentaram pelo menos um dos cinco vírus comuns às colônias de apicultura vizinhas, o estudo revelou. E, segundo os autores, o impacto total de qualquer vírus em particular pode ser ainda maior, dado que abelhas muito doentes provavelmente não estão voando por aí.

Desde os anos 40, o número de abelhas melíferas manipuladas nos EUA caiu de 5 milhões para 2,5 milhões, de acordo com o Departamento de Agricultura do país. O número de abelhas está em queda drástica por conta de uma combinação de mudanças de habitat, pesticidas e doenças como o vírus da asa deformada e o distúrbio do colapso das colônias. Embora as abelhas melíferas não sejam nativas da América do Norte, elas se tornaram parte integral da polinização da agricultura local; o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos estima que "uma a cada três colheradas da dieta local se beneficia da polinização de abelhas melíferas, direta ou indiretamente".

Enquanto isso, suas irmãs selvagens também exercem um papel importante na polinização de plantações e flora natural. Na verdade, pesquisas mostram que as mamangabas são polinizadores ainda mais eficientes que as abelhas melíferas, embora as melíferas sejam mais fáceis de administrar. Há muito tempo, pesquisadores suspeitam que a saúde de um grupo afeta a saúde do outro, mas não há pesquisas o bastante para confirmar o palpite.

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Até os autores do estudo publicado hoje reconhecem que ainda há muita coisa que não compreendem. Para começo de conversa, eles não conseguiram determinar exatamente como os vírus se espalharam. Será que as abelhas selvagens ficaram doentes e infectaram as abelhas manipuladas, ou vice-versa? Ou será que algum outro inseto, independente, infectou os grupos de abelhas? Há evidências para as três possibilidades.

"Quanto às abelhas selvagens, mamangabas em particular, não sabemos nada sobre a epidemiologia dos vírus RNA", diz o artigo, clamando por mais pesquisas, para que respondam às questões em aberto — a maneira como se disseminam entre os grupos, por exemplo. "Possíveis rotas de transmissão incluem contato direto entre abelhas ou, mais provável, interações indiretas, como o uso compartilhado de recursos florais."

O impacto dos vírus também não foi muito bem documentado ainda, e os pesquisadores sugeriram que, se permanecerem descontrolados, eles podem causar danos significativos às populações de abelhas, tanto selvagens quanto manipuladas. O artigo afirma que, quando se combinam vírus difundidos e outros problemas que impactam as populações de abelhas, como mudança de habitat e pesticidas, a pressão de doenças pervasivas "pode ter um impacto geral profundo, a longo prazo, na saúde dos insetos".

Mas ainda há esperança. Descobertas recentes mostram que abelhas que ingerem certos componentes químicos do néctar combatem melhor os parasitas, então isso pode ser uma solução natural de apoio às populações de abelhas doentes. Precisamos nos mexer, pesquisar mais, para definir o que está acontecendo exatamente, antes que seja tarde demais.

Tradução: Stephanie Fernandes