FYI.

This story is over 5 years old.

Tecnologia

A Origem da Vida Pode Estar Enterrada na Lua

Os primeiros sinais de vida da Terra podem estar enterrados sob fluxos de lava na Lua.
​Luz cheia. Crédito: Gregory H. Revera, Wikimedia.

A vida na Terra surgiu entre 3,5 a 4 bilhões de anos atrás, mas todos os resquícios desse evento crucial desapareceram — pelo menos aqui, no nosso pequeno planeta azul. De acordo com uma nova pes​quisa publicada na revista Astrobiology, os vestígios de nossa origem perdida podem estar enterrados na Lua.

"Ao contrário da Terra, a Lua está em um marasmo geológico há bilhões de anos, o que significa que há uma boa chance de que esses vestígios orgânicos e delicados estejam relativamente intactos", afirma Richard Matthewman, principal autor do estudo.

Publicidade

Na metade do ano passado, os cientistas concluíram que pedaços da Terra vagando pelo espaço podem ter tra​nsportad​o micróbios fossilizados para a Lua, mas a possibilidade de esses seres estarem intactos há incontáveis eras, formando um arquivo conveniente da vida terráquea ancestral, ainda era incerta. Agora, temos provas de que isso é possível. Matthewman e seus colegas descobriram que moléculas orgânicas podem permanecer intactas, possivelmente por longos períodos, caso elas estejam enterradas sob uma camada de lava lunar.

"Isso leva o debate adiante", disse Mark Burchell, um especialista em astrobiologia independente que já con​duziu uma pesquisa semelhante. "Até esse momento, estávamos preocupados em levar equipamentos até a Lua, ou fazê-los resistir ao pouso na superfície lunar. A pergunta agora é outra: no caso do pouso ser um sucesso, qual é a possibilidade de esses materiais resistirem a essa atmosfera?"

Os fósseis mais a​ntigos da Terra tem 3,5 bilhões de anos, mas as primeiras células e moléculas prebióticas podem ter surgido meio bil​hão de anos antes disso. Infelizmente, o arquivo geológico da Terra só remonta a 3,8 bilhões de anos. Tudo que ocorreu antes disso foi apagado pelo movimento cíclico das placas tectônicas. Isso torna extremamente difícil apontar com exatidão quando (ou como) as primeiras moléculas orgânicas se aglutinaram em células.

Felizmente, o surgimento da vida na Terra coin​cide com o Intenso Bombardeamento Tardio — período no qual a Terra era constantemente atingida por asteroides e grandes pedaços de matéria terrestre foram lançadas no espaço. Supondo que vários fragmentos da Terra chegaram até a superfície lunar durante essa época, é razoável pensar que as formas de vida primordiais podem ​ter aproveitado a carona.

Publicidade

Agora, Matthewman e seus colegas de pesquisa estão interessados em descobrir se os compostos orgânicos que aterrissaram na Lua durante o Intenso Bombardeamento Tardio continuam preservados. Apesar de alguns aspectos do ambiente lunar aumentarem as chances de preservação — o satélite tem um clima seco e sua atmosfera é, na realidade, um vácuo — a exposição constante ao vento solar e à radiação cósmica podem destruir substâncias orgânicas mais frágeis.

"Seria preciso enterrar esse meteorito carregado de moléculas orgânicas para protegê-lo do ambiente hostil da superfície lunar", explicou Matthewman. "Acreditamos que um pouco de lava seria a solução ideal."

As erupções vulcânicas eram um fen​ômeno comum na Lua até aproximadamente 3,1 bilhões de anos atrás. À medida que a lava escorria e esfriava sobre a superfície ancestral da Lua, as rochas vindas da Terra eram soterradas e preservadas com sucesso.

"Se fosse coberto logo após o impacto, o material [orgânico] ficaria mais protegido", disse Burchell. "Mas isso traz um novo problema, nesse caso o calor ao qual esses materias são expostos."

14463203391_30b6d9f1a6_o.png

Para testar se a lava vulcânica pode preservar a vida em vez de tostá-la, Matthewman e seus colegas aqueceram compostos orgânicos simples e polímeros complexos até 700 graus Celsius no vácuo total. A experiência foi conduzida com e sem a JCS-1, uma mistura sintética de minerais que simula o regolito, a substância fofinha que cobre a Lua.

Publicidade

Na ausência de minerais lunares, a matéria orgânica logo entrou em combustão. No entanto, quando os minerais lunares estavam presentes, vários compostos orgânicos resistiram às temperaturas extremas. Os resultados indicam que os compostos prebióticos, ou até mesmo as primeiras células, suportam o calor passageiro e intenso de uma erupção vulcânica pelo tempo necessário para serem soterrados e preservados.

"Essa é a primeira vez que o mecanismo de preservação vulcânico foi testado", me disse Matthewman. Depois de mostrar que isso é possível, Matthewman está empolgado com o que a descoberta de um fóssil na Lua pode revelar.

"Se acharmos várias áreas cobertas por lava endurecida e camadas de regolito cravejadas com meteoritos terrestres, podemos usar a datação radiométrica para descobrir a idade dessas camadas, e observar os metoritos para desvendar os primeiros sinais de vida na Terra", disse.

Encontrar algo do tipo seria uma sorte tremenda, mas qualquer composto orgânico primitivo que encontrarmos na Lua poderá esclarecer a evolução química da Terra primordial e nos ajudar a preencher as lacunas entre o surgimento das primeiras moléculas orgânicas e o nascimento dos primeiros sistemas vivos.

O que essa história deixa claro é que está na hora de ir atrás desses fósseis lunares.

Tradução: Ananda Pieratti