​A Microsoft Fechará sua Loja de Games Indie por Ser Bizarra Demais para o Xbox
Captura de tela de Who's Gonna Get the Girl. Crédito: Xbox

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​A Microsoft Fechará sua Loja de Games Indie por Ser Bizarra Demais para o Xbox

Um minuto de silêncio pelo fim dos games sobre vibradores, seios e flatulências.

A notícia de que a Microsoft pretende fechar a Xbox Live Indie Games (XBLIG), a loja online do Xbox 360 em que qualquer um pode publicar e vender qualquer joguinho, não causou muitas reações na comunidade dos gamers. Ao tudo indica parece, era o que a companhia queria: um fim lento e silencioso.

De acordo com um post da própria Microsoft, a XBLIG não mais aceita inscrições para novos desenvolvedores e deixará de receber novos games em setembro de 2016. Suas vendas serão encerradas por completo em setembro de 2017.

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Alguns podem ver o encerramento da XBLIG como um golpe de misericórdia. Apresentada em 2008, a plataforma oferecia aos usuários com XNA, uma ferramenta de criação de games gratuita descontinuada em 2013, a oportunidade de criar e vender seus games para Xbox 360.

O princípio idealista da XBLIG era dar aos menores desenvolvedores do mundo acesso à gigantesca base de usuários do Xbox 360, mas logo virou um tremendo de um papelão. Houve uma enxurrada de experimentos de péssimo gosto, muitos copiaram games populares e tantos outros usaram conteúdos de sexo explícito.

Quando a XBLIG fechar suas portas, junto ela levará um enorme catálogo de games que reflete um período de transição essencial: quando indies caseiros bizarros e grandes empresas engomadinhas se encontraram e tiveram que mudar para chegar a um meio-termo produtivo.

Vídeo demonstrativo de Escape Goat, um dos títulos do XBLIG. Crédito: YouTube

Foi a primeira plataforma de seu gênero. Antecipou em quase cinco anos o Steam Greenlight (em que suários podem votar nos games que entrarão na loja do Steam) e, sejamos honestos, produziu bons e criativos jogos, a exemplo de Escape Goat, um esquisito puzzle de plataforma; Mount Your Friends, um jogo competitivo de se sacudir a virilha; e Tempuran of the Dead, em que um samurai e um sósia de Obama lutam contra zumbis.

"Adoro o que as pessoas conseguem fazer quando não tem que basear suas decisões em nada além de sua imaginação", disse Kathleen Sanders, antiga community manager da XBLIG, via email. "Estava empolgada com o fato de que realmente não sabíamos o que as pessoas fariam. Acabou que em um primeiro momento elas fariam muito games com vibradores. Muitos. De verdade. Depois vieram os games com peidos."

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Os "games com vibrador" citados por Sanders foram um fenômeno nos primórdios da XBLIG. Programadores davam aos usuários ferramentas para descobrir, digamos, usos alternativos para a função vibratória de seus controles.

Em outros casos, tínhamos games como Incident of Dreamy Vale Church, em que você controla Anna e Laura, duas policiais britânicas vestindo roupas vintage quadriculadas e meias ¾ que atendem a chamados de esqueletos voltando à vida. (Presumo que este seja o "incidente" a que o título se refere.) Talvez seja culpa do CGI que lembra anúncios pornô de outrora ou as cenas do enredo estilo HQ que revelam ângulos provocadores das minissaias de nossas heroínas, mas Dreamy Vale Church parecia muito esquisito e aleatório para um console mainstream. E ainda assim, lá estava, junto de outras bizarrices que não se encontrava em lugar nenhum.

Sacode esses esqueletos. Crédito: Xbox

Uma versão de Five Nights at Freddy's em que você fica de olho numa enfermeira malvada peituda e provocadora? Não rola no Steam. Minecraft estilo anime sensual? Nunca vi no Playstation. Uma versão de Super Smash Bros. com briga de travesseiros? A XBLIG traz o que a Nintendo não faz. Quer ver uma princesa humilhando verbalmente um sapo? Nunca vi aplicativo pra isso.

"O mercado meio que ditava as tendências bizarras que você via nos games", explicou Sanders. "Fico triste que não haverá mais um lugar para esses jogos verdadeiramente surreais e malucos. Não perdemos só os malucos, porém. É o caso daqueles que ninguém sabia que queria até surgirem na cabeça de outra pessoa ou aqueles que ninguém daria a luz verde ou apoiaria no Kickstarter."

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Cada nova atualização parecia enterrar a seção da XBLIG mais fundo no menu do Xbox 360. Era cada vez mais difícil para os gamers a encontrarem. Com a seção basicamente sem qualquer publicidade, lucrar era difícil para qualquer coisa que não fosse uma cópia de Minecraft, tais como Total Miner, CastleMiner Z e FortressCraft.

Sanders me disse que a equipe da XBLIG era desencorajada a promover qualquer game em detrimento de outro para não criar um clima de rivalidade. O resultado é que verdadeiros diamantes brutos ficaram ali em meio a títulos péssimos sobre parto extremo e games ruins que te zoavam por comprar games ruins na XBLIG. Era tão difícil fazer com que um bom game fosse notado que uma campanha criada pelos fãs chamada Summer Uprising esperava fazer aquilo que a Microsoft não faria.

"Pajamorama" faz minha infância parecer humilde, mesmo com fast-food e TV a cabo. Crédito: Xbox

A XBLIG era um reino escondido. Os games enviados só precisavam se preocupar com diretrizes e análises técnicas, ou seja, dava pra lidar com muita bizarrice. Semelhante a como lamentei pelo Ouya e seu tom igualitário abobalhado, creio que seja importante reconhecer o que cada plataforma tem a oferecer de único.

"Mesmo as cópias descaradas ou os games feitos só pra ganhar uma grana, eram produtos que alguém havia se dedicado mesmo a fazer", declarou Sanders. "Muitos dos games na XBLIG eram muito pessoais e verdadeiros. Se você passar um tempo jogando, não é só mais um game. Muitas vezes é como se estivesse conhecendo quem os fez também."

Muitos dos games da XBLIG encontraram outros lares. Boa parte foi parar no Steam. O resto, bem, estão em cantos escuros da internet.

Há também uma espécie de projeto de sucessor espiritual para o Xbox One, o ID@Xbox. Ele tem uma curadoria mais rígida e lembra a seção indie de rivais da Microsoft. A empresa mencionou que haverá medidas de preservação para alguns games da XBLIG, mas tenho dúvidas de que Massive Cleavage vs Zombies fará parte da lista.

A ideia de que os games feitos em casa poderiam aparecer no seu console favorito, mesmo que em meio a games eróticos de zumbis e peidos, surgiu com a XBLIG e, em setembro de 2017, este bufê hedonista gamer sumirá da face da Terra como Sodoma e Gomorra antes dele.

Tradução: Thiago "Índio" Silva