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Tecnologia

A Descoberta Esquecida de Alan Turing É Uma das Mais Importantes de Sua Carreira

Com a biografia "O Jogo da Imitação" chegando aos cinemas, é hora de relembrar as descobertas ignoradas do gênio Turing.
​Alan Turing em 1927. Crédito: The Turing Archive

O Jogo da Imitação, um filme biográfico sobre o matemático Alan Turing, finalmente estreou nos cinemas dos EUA (mas só chega no Brasil no final de janeiro, mais especificamente no dia 29). A obra faz parte da onda de interesse tardio sobre a figura de Turing, cuja história é igualmente inspiradora e desmoralizante.

Turing foi o pai da ciência da computação e da inteligência artificial, um maratonista premiado, e o criptógrafo que desvendou o código do Enigma Nazista, contribuindo imensamente para a vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial. Essa é uma das possíveis versões resumidas de sua vida.

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Trailer de O Jogo da Imitação Crédito: YouTube/Weinstein Company

Mas Turing também foi um homem gay em um mundo homofóbico. Em 1952, o governo britânico acusou-o de indecência, sentença dada a homossexuais, levando-o ao ostracismo e condenando-o ao castramento químico com injeções de estrogênio. Ele se tornou impotente e perdeu sua estimada força física, o que resultou em seu suicídio dois anos depois, no dia sete de junho de 1954, duas semanas antes de seu 42º aniversário.

O Jogo da Imitação têm como principal foco o trabalho criptográfico de Turing em Bletchley Park. No entanto, o filme aparentemente retrata várias outras partes de sua vida, incluindo a incrivelmente estúpida condenação que trouxe o seu fim. Mas é bem provável que o filme não retrate uma das maiores conquistas intelectuais de Turing, constantemente ignorada pela história: sua pesquisa sobre os padrões matemáticos presentes na natureza.

Resumindo: Turing literalmente descobriu como o leopardo conseguiu suas pintas. Esse foi o último trabalho importante de sua vida, culminando na publicação de um artigo chamado "A Base Química da Morfogênese", em 1952. Após isso, ele trabalhou apenas esporadicamente em suas teorias morfogênicas — é difícil não imaginar se essa pesquisa o levou a refletir sobre sua própria constituição biológica, também alterada quimicamente.

Independente de sua ligação pessoal com o tema, uma coisa é clara: Turing identificou as equações básica de reação-difusão por trás da formação de padrões naturais, como as espirais de uma concha ou as listras de um tigre. Ele relatou que esses padrões eram formados pela interação entre duas substâncias químicas, ou "morfogenes", como ele os chamava: um ativador e um inibidor.

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O primeiro ativa a expressão de uma certa característica, como a cor da mancha de um leopardo, enquanto o segundo desativa a expressão da mesma. Os dois morfogenes agem em frequências diferentes dentro do sistema biológico, e o resultado final é um macro-padrão formado por interações químicas locais. Se você estiver tendo dificuldade para entender essa dinâmica, dê uma olhadinha no portfólio de padrões Turing do artista Jonathan McCabe, cheio de representações estonteantes das equações de Turing.

A teoria da morfogênese de Turing foi finalmente comprovada empiricamente nesse ano, 60 anos após sua morte. Seu vislumbre visionário desses algoritmos faz dele um bom candidato a primeiro biohacker do mundo —não porque ele integrava tecnologia ao corpo humano, mas sim por sua concepção dos padrões biológicos como algoritmos dinâmicos e digitais. Alguns chegam a afirmar que seu trabalho nesse campo também faz dele o primeiro teórico do caos, considerando que ele mostrou como estados simples podem crescer em complexidade, virando sistemas amplos e com características não-uniformes.

É compreensível que sua última obra científica tenha sido ofuscada pelos muitos triunfos que ele colecionou durante sua vida. Afinal, quando a comparamos com a solução do código Enigma e com a criação da Inteligência Artificial, é fácil saber porque a morfogênese tende a escorrer pelas ranhuras da biografia de Turing.

O fato de suas ideias serem abundantes ao ponto de competir uma com a outra enaltece ainda mais a sua genialidade multidimensional, e a necessidade de aprendermos tanto com seu destino trágico quanto com sua produtividade insana. Como o próprio Turing afirmou em 1950: "Nós podemos ver pouco à frente, mas podemos ver que há muito a ser feito".

Tradução: Ananda Pieratti