A Casa Inteligente que Você Pode Baixar na Internet

O projeto WikiHouse é um exemplo notável de arquitetura open source: dá para baixar a planta, mandar produzir, e então juntar as peças sem precisar de experiência em construção. Na última versão do projeto, o espírito open source se estendeu para além de plantas estruturais, incluindo uma série de produtos eletrônicos semelhantes à Internet das Coisas.

A WikiHouse 4.0 é basicamente uma casa inteligente, faça-você-mesmo, disponível para download, em que você constrói — e controla — tudo, das paredes pré-fabricadas à iluminação.

O protótipo do projeto da última WikiHouse foi produzido em Londres esta semana, como parte do Festival de Design de Londres, apoiado pela multinacional Arup, pelo estúdio Project 00 e o Centro de Construção da cidade. Sarah Gold, designer da WikiHouse, me contou que a estrutura foi construída por oito voluntários em duas semanas, e foi toda feita com materiais patrocinados. "Então, a WikiHouse 4.0 não se trata apenas dos diferentes materiais que podemos usar para construir nossas casas, mas também de quem pode construí-las", disse.

É um fluxo simples de trabalho: baixar o modelo, enviar o arquivo para as máquinas CNC para cortar as peças, e então juntá-las. "Nós costumamos repetir os formatos das peças cortadas, de modo que não possam ser montadas de um jeito errado, e se forem, não importa porque é tudo simétrico", explicou Gold. Primeiro, você monta armações que dão corpo ao formato geral da casa, e então levanta a carcaça "como na construção de um celeiro", isso antes de inserir as placas, para oferecer rigidez, isolamento e uma membrana impermeável às paredes. É só um pouquinho mais complexo que um projeto da Ikea.

Embora o propósito de um design open source seja oferecer um modelo bem genérico, os proprietários das casas podem modificá-las, acrescentando ou removendo módulos para mudar seu tamanho, ou usando materiais diferentes. "Dá para usar tudo o que você quiser, contanto que o material dos painéis para seu chassi seja estrutural." O protótipo, feito de placas SmartPly OSB (madeira compensada), tem dois cômodos principais e um lance de escadas rumo a um terraço, na cobertura. Quando andei pela construção de dois andares, senti as placas sob meus pés rangerem, mas Gold garantiu que a estrutura é resistente, testada e aprovada pela Arup.

Alguns códigos QR e tags de NFC nas paredes vazias do protótipo fazem com que a casa vá além da produção pronta para montagem, e adentre o território das casas inteligentes. Por meio desses instrumentos, visitantes podem acessar o sistema intranet de controle da construção. Uma aplicação que roda no browser permite com que o usuário controle iluminação, ventilação e quaisquer outros sensores que a casa tenha.

Uma detalhe marcante do design é a "zona de serviço", onde todos os cabos ficam, atrás dos painéis que cobrem o cômodo, a cerca de três centímetros da parede exterior. "Isso significa que dá para deixar os cabos onde você quiser na casa, e simplesmente mover os espelhos", disse Gold. Basta fazer um furo na parede e mover o cabo para o local da instalação — não precisa de eletricista. Todo o sistema plug-and-play da casa destina-se a formar um circuito DC completo, para deixá-la mais segura e eficiente no uso da energia.

Isso deixa o design da casa inteligente bem customizável, e levanta questões sobre como usamos a Internet das Coisas. À medida que mais objetos ganham sensores e se conectam, surgem mais preocupações sobre a segurança dos dados que eles coletam e transmitem. Já demostraram diversas vezes que a Internet das Coisas pode ser hackeada. Quanto queremos que o Google saiba sobre nossas preferências climáticas, ou a Samsung sobre hábitos de amigos assaltando nossas geladeiras?

Se os seus aparelhos foram construídos a partir de hardware e software open source, e dá para você acessá-los por meio de um sistema central, talvez dê para manter os dados na bolha de casa. O projeto WikiHouse ainda não chegou a esse ponto, mas Gold prevê alternativas open source para rivalizar concorrentes como a Nest. "É nisto que estou particularmente interessada: a ideia de ter um sistema modular, adaptável, com controles e dados abertos disponíveis, devolvendo o controle da casa, em todos os sentidos, ao proprietário", ela disse.

Um exemplo curioso de um aparelho open source na WikiHouse atual é um aquecedor projetado pela Arup, chamado Open MVHR. Foi construído com componentes feitos em impressoras 3D, com latas de cerveja, e cria uma corrente de ar quente nos cômodos.

No futuro, Gold imagina um sistema de aquecimento novo: uma casa inteligente com seu próprio servidor de dados no lugar de servidores-nuvens, que poderia aquecer a casa com a energia que ela gasta.

Outras discussões em torno do desenvolvimento de futuros projetos WikiHouse incluem segurança de dados da casa, comunicação entre as construções faça-você-mesmo, sistemas de água e lixo incorporados, e a casa toda como uma rede independente.

Embora uma casa barata, de construção fácil, seja claramente benéfica em momentos de auxílio a vítimas de catástrofes, Gold disse que o design destina-se a endereçar o mercado imobiliário do Reino Unido (que, atualmente, está em situação crítica). "Acho que seria muito melhor se um grupo de designers de cada área administrasse o projeto, porque eles conhecem melhor os problemas locais", ela disse.

Montar uma casinha WikiHouse 4.0 tem o custo estimado de 50 mil libras (200 mil reais), incluindo todos os serviços e principais eletrodomésticos. No entanto, o preço não reflete a dificuldade de se encontrar um terreno. "Embora seja uma solução bacana para o hardware da construção, há outros problemas específicos, subjacentes ao Reino Unido, que precisamos abordar", disse.

Apesar desses trancos e barrancos, a WikiHouse tem um grande potencial como tecnologia verdadeiramente transformadora; Gold contemplou uma comunidade unida para comprar sua própria máquina CNC e ajudar uns aos outros a construir as próprias casas. Com baixos níveis de investimento, tempo e habilidades necessários, o projeto é uma maneira atraente de subir na vida doméstica.

Tradução: Stephanie Fernandes