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Tecnologia

Ascensão e Queda da Primeira Máquina de Bitcoin do Brasil

Em abril do ano passado estreava a primeira máquina de bitcoin do Brasil. Por medo de assaltos, ela sumiu do mapa.
Até que ela durou um tempo no bar. Crédito: Divulgação/Mercado Bitcoin

Em abril de 2014, o bar Zé Gordo, localizado no bairro nobre de Itaim, em São Paulo, estreou a primeira máquina de bitcoin do Brasil em parceria com a Mercado Bitcoin, uma empresa especializada em finanças com moedas virtuais.

À época, a compra foi considerada bem moderna: pouco se falava de transações desse tipo no país e um dispositivo físico de bitcoins dentro de um boteco chique era, convenhamos, simbólico demais para ignorar.

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Meses depois do anúncio e das repercussões em redes sociais, porém, nunca mais ouvimos falar da maquininha. Sem mais nem menos, o equipamento tinha desaparecido das notícias e, segundo alguns clientes, também do bar.

Em busca de explicações, fui conversar esta semana com Erivelton Rodrigues, sócio-proprietário do Zé Gordo, e ele me contou que teve de devolver a máquina aos proprietários por uma simples razão: medo de assalto. Durante os seis meses que ficou disponível para o público, a peça, do tamanho de um frigobar, foi cobiçada por mais de um transeunte de comportamento estranho. "A máquina não era interessante pra gente porque não era seguro ela aqui", afirmou, durante uma visita minha ao seu estabelecimento.

Leia também: Por dentro das mineradoras chinesas de Bitcoin

Erivelton contou que um tipo suspeito a seus olhos esteve três vezes no bar em função da máquina. No primeiro dia, um sábado de agosto, ele usou o aparelho depois de fazer muitas perguntas. Na segunda-feira, voltou ao bar para nova sessão de questões enquanto procurava câmeras. Na terça-feira, o tipo voltou em um carro com mais uma pessoa. Erivelton tinha devolvido o aparelho. "Já não tinha mais máquina", afirma.

O equipamento vendia bitcoins. Como um caixa eletrônico que realiza depósitos, ele aceitava cédulas de reais e as trocava pela moeda virtual. O valor adquirido ia diretamente para a conta virtual do comprador, enquanto seu dinheiro ficava armazenado na caixa forte blindada da máquina. Segundo Erivelton, ela seria presa fácil para ladrões por ter meio metro e cerca de cinquenta quilos.

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Crédito: Divulgação/Mercado Bitcoin

Localizado entre bairros com o maior PIB de São Paulo segundo o censo de 2010 do IBGE e cercado por grandes empresas e bancos de investimentos, o bar Zé Gordo oferece uma posição privilegiada para uma máquina de transações financeiras. Erivelton diz ter visto compras de até dois mil reais no aparelho. "Vinham uns espanhois", diz ele. "Tinha pouco brasileiro que procurava."

De acordo com Rodrigo Batista, um dos fundadores do Mercado Bitcoin, a empresa retirava o dinheiro da máquina ao menos uma vez por semana. "O valor das transações costumava ser entre cinquenta e cem reais", diz. Com o fim da parceria, o Zé Gordo abandonou também as transações com bitcoins no caixa.

O acordo entre a empresa e o bar terminou sem prejuízo para nenhum dos lados. Os funcionários do Mercado Bitcoin ainda aparecem no Zé Gordo para almoçar ou tomar uma cerveja. Rodrigo estuda levar a máquina para outro lugar, mas não sabe o destino do aparelho que custou R$ 10 mil a sua companhia. "Era mais uma peça de marketing", diz. "É um equipamento físico para algo que não é físico."

Bitquê?

O Bitcoin é uma moeda virtual com valor real. Os bitcoins correspondem a cálculos executados por computadores potentes — os mineradores. Há um limite para a quantidade de cálculos possíveis, isto é, para os bitcoins em circulação. E eles podem ser transferidos de um ponto a outro da internet de maneira verificada pela própria rede de mineiradores e usuários. Assim rolam compras e vendas com bitcoins sem intermédio de bancos ou operadoras.

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Quem não tem um supercomputador minerador pode comprar bitcoins. A operação é similar ao trabalho feito por uma casa de câmbio: uma troca de moedas diferentes. Essa era a função realizada pela máquina do Zé Gordo. "Você coloca reais e saca bitcoins", diz Rodrigo. Atualmente é possível adquirir uma unidade da moeda virtual a cerca de oitocentos reais em serviços online. O próprio Mercado Bitcoin oferece essa opção no seu site.

Quem quiser usar uma máquina de bitcoin pode se dirigir à Coinverse, na Vila Madalena. O equipamento da empresa mais parece um caixa eletrônico. Além de realizar saques de moeda virtual, ele também pode ser usado para saques de dinheiro comum. Nesse caso, basta ter uma carteira virtual com saldo disponível. "O nosso aparelho funciona nas duas vias", explica Safiri Félix, um dos fundadores da startup. "Tem semanas que ela vende dez mil reais."

Segundo ele, a máquina é vigiada constantemente por câmeras e um seguro garante o ressarcimento a Coinverse em caso de roubo — ela custa cerca de R$ 70 mil. Levá-la indevidamente é complicado também por causa dos seus trezentos quilos. "A gente não tem essa preocupação porque estamos num espaço que está cheio de gente", diz Safiri.

Ele e Rodrigo são pioneiros em um terreno ainda nebuloso para quem vê de fora. O lucro de suas companhias vem de taxas sobre as transações, algo que lembra os maus e velhos bancos. No Zé Gordo, o espaço que antes era destinado à máquina de bitcoins agora dá lugar a uma geladeira de cervejas especiais com luzes brancas e acabamento refinado em vermelho.

(Assista abaixo ao vídeo sobre a maior mineradora chinesa de Bitcoins. Para acionar as legendas em português, clique no canto inferior direito.)