A análise do iPhone SE para quem tem mãos pequenas

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A análise do iPhone SE para quem tem mãos pequenas

Depois de anos, enfim surge um smartphone compacto na praça. Aproveitamos para destrinchar a história dos tamanhos dos celulares – e a relação deles com suas preciosas mãozinhas, claro.

Tenho usado um iPhone SE nessas últimas três semanas.

Sou usuária de Android, gosto dos meus widgets e apps do Google, e sempre pensei que o iPhone era muito chique e frágil pra mim. Esta foi minha primeira experiência usando um iPhone como meu celular do dia a dia.

O aparelho, que tem o mesmo processador que o iPhone 6s, é bem rápido. A câmera funciona bem com pouca luz e a bateria aguenta legal.

Vale mencionar que o iPhone SE também é mais barato que outros iPhones, a partir de 399 dólares, ao contrário dos 649 dólares do iPhone 6s.

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Mas só tem uma coisa que me faria mesmo optar por um iPhone: o tamanho.

O iPhone SE ao lado do grandalhão iPhone 6 Plus. Crédito: Derek Mead

Tenho 1,52m e tenho mãozinhas pequenas, algo que tomei cada vez mais ciência desde que passei a usar smartphones. Com a primeira geração de celulares não tive nenhum problema. O Nokia 3310 que tive no ensino médio e o LG VX3100 de abrir e fechar que usei na faculdade eram adoráveis estandartes do mundo compacto.

Eram tempos mais inocentes em que os celulares não precisavam ter várias funções. Lembro de ir na loja da Verizon e ouvir alguém comentar: "Pra que você iria querer uma câmera no seu celular?".

Não demoraria muito para que todo mundo quisesse, sim, ter uma câmera no telefone. Os aparelhos foram ficando cada vez mais poderosos e, consequentemente, maiores.

No começo, tínhamos telas de todos os tamanhos. Os primórdios da revolução dos celulares foram marcados pela variedade. Os fabricantes aumentavam aos poucos o tamanho das telas, cientes do alto custo das mesmas e o que se entendia como a necessidade de um teclado físico.

Aí veio o iPhone.

É engraçado lembrar que o primeiro iPhone foi considerado enorme. Em 2007, os rivais do celular da Apple eram o Samsung Blackjack, com sua tela de 2.2 polegadas; o Blackberry Curve 8300, com 2.5 polegadas; e por fim, o Nokia N95, com suas 2.6 polegadas, de acordo com o site Apple Insider. O iPhone deixou todo mundo comendo poeira com suas 3.5 polegadas. "É grande para um telefone", escreveu David Pogue.

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"Algo interessante a se tomar nota é que telefones pequenos serão extintos no segundo trimestre de 2016."

Enquanto isso rolava, uma pesquisa de mercado da Samsung de 2008 descobriu "uma necessidade do consumidor por diversidade de tamanhos", contrária à abordagem da Apple de tamanho único. O documento citava um usuário que preferia um telefone menor "porque conseguiria usá-lo com uma só mão enquanto anda".

Reclamações deixadas de lado, a Samsung descobriu que os consumidores, especialmente os norte-americanos, queriam telas maiores.

Por mais que tenha levado um tempinho para que os concorrentes alcançassem a Apple, foi o lançamento do iPhone que levou à corrida do aumento nas telas. O empresário norueguês Morten Hjerde analisou dados de 400 smartphones e celulares comuns vendidos em seu país e descobriu uma enorme amplitude de tamanhos lançados entre 2005 e 2008, com a maior tela sendo 23 vezes maior que a menor.

A imitação é uma força poderosíssima no design tecnológico. Foi isso que estimulou a corrida dos grandes telefones.

Os primeiros smartphones haviam sido feitos à imagem e semelhança do bem-sucedido Blackberry, com uma tela menor e um teclado, depois passando a seguir os passos do iPhone.

O tamanho médio da tela dos smartphones cresceu rapidamente, de acordo com a empresa de pesquisa de mercado HIS, e acelerou ainda mais quando fabricantes de Android perceberam que telas maiores eram uma forma de se diferenciar. O analista sênior Daniel Gleeson descreveu o fenômeno como "uma explosão em tamanhos".

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Na Coreia do Sul, mais de 80% dos smartphones em atividade tem mais de 5 polegadas, e 40% passam das 5.5 polegadas, de acordo com Gleeson. Nos EUA, 20% dos aparelhos superam as 5 polegadas – e o segmento tem crescido rapidamente.

Na esquerda: iPhone SE. Na direita: iPhone 6 Plus. Crédito: Derek Mead

"O phablet será o formato dominante em outubro do ano que vem", de acordo com artigo da Flurry Insights publicado no começo do ano. "Algo interessante a se tomar nota é que telefones pequenos serão extintos no segundo trimestre de 2016", diz o mesmo documento.

A Samsung acompanhou a Apple ao apostar pesado em celulares grandões. Se o primeiro catalisador do crescimento dos celulares foi a Apple, o segundo foi a Samsung.

Voltemos para 2010 e aquele que foi o primeiro sucesso da Samsung nos smartphones, o Galaxy S. "Com uma impressionante tela Super AMOLED de 4 polegadas, um dos maiores no mercado", de acordo com artigo da PocketLint na época.

A série Galaxy continuou a crescer e a render bons frutos para a Samsung: Galaxy SII, 2011, tela de 4.5 polegadas. Galaxy SIII, 2012, tela de 4.8 polegadas. Galaxy SIV, 2013, tela de 5 polegadas. O Galaxy S7 lançado este ano tem uma tela de 5.1 polegadas, já o Galaxy S7 Edge conta com 5.5 polegadas.

"Mas há uma corrida que a Samsung sempre liderou: a dos Celulares Bem Grandes", escreveu David Pierce para a Wired.

Uma apresentação interna da Apple de 2013 que veio a público durante a disputa de patentes entre Apple e Samsung revelou que a empresa estava sentindo a pressão. A apresentação afirmava que os concorrentes estavam gastando quantias "obscenas" em publicidade (definitivamente a Samsung) enquanto lançavam telefones maiores e mais baratos. "Os consumidores querem o que não temos", dizia o documento.

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O célebre observador da Apple, John Gruber, relembra ter visto esta tendência em ação quando um problema com sua conta na Verizon o fez ir até uma das lojas da empresa. Enquanto esperava para ser atendido, John viu uma jovem bem baixinha fazendo compras com uma amiga. "Ela claramente era bem informada", comenta. "Ela procurava por um celular gigante da Samsung. Ela dizia coisas como 'Quero esse ou o Galaxy Note, aquele que vem com uma caneta'. E o cara da loja respondeu 'mas é enorme, como vai caber na sua mão? E ela disse 'e eu lá quero saber? Sempre levo o celular na bolsa'. Sei que é só uma pessoa, mas na hora pensei que realmente era um dos menores adultos que já vi e que com certeza sabia o que queria. Ela queria um telefone bem grande."

Steve Jobs era do Time do Telefoninho? Por um bom tempo só existiam iPhones pequenos. Mesmo quando os telefonões explodiram ao seu redor, a Apple não aumentou sua tela até 2012. Aqueles cinco anos foram um período abençoado para fabricantes de acessórios e desenvolvedores de aplicativos, que adoravam a simplicidade de criar seus produtos em tamanho único.

Todos os iPhones até o 4s tinham tela de 3.5 polegadas. O iPhone 5, lançado em setembro de 2012, marcou a primeira mudança significativa no tamanho da tela: 4 polegadas no lugar de 3.5. E foi o que pegou mesmo o consumidor: o telefone estava mais alto, com 4.87 polegadas em comparação às 4.5 polegadas do 4s.

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Há uma percepção de que Steve Jobs e a Apple eram redutos de uma objeção a telefones maiores. A base é uma declaração de Jobs feita durante uma conferência sobre os problemas de recepção do iPhone 4, caso que ficou conhecido como "Antennagate". Um jornalista perguntou se o problema não poderia ser resolvido ao aumentar o tamanho do aparelho. Jobs respondeu que fabricar um telefone tão grande "que não dê pra segurar" ajudaria com os problemas de sinal, mas "ninguém compraria". Supostamente, Jobs também chamava aparelhos maiores de "Hummers" – um trambolhão automotivo que caiu nos gostos dos consumidores norte-americanos.

Não consegui achar qualquer evidência de que Jobs se importava tanto com o tamanho da tela

Não consegui achar qualquer evidência de que Jobs se importava tanto com o tamanho da tela, porém. Ele aprovou os iPhones 5 e 5s, maiores, projetados antes de sua morte. Gruber disse que não se lembra de Jobs ter dito qualquer coisa específica sobre telefones pequenos.

A Apple lançou pelo menos um anúncio que destacava o fato de que o polegar médio poderia alcançar todos os aplicativos na tela – algo que o pessoal do marketing decidiu que ajudaria a vender telefones.

A Apple entra no bonde e dá certo. Normalmente líder em tendências, a Apple, ao que parecia, tinha deixado passar todos os sinais de que as pessoas queriam telefones maiores.

"Acho que talvez a popularidade de celulares maiores tenha pego a Apple de surpresa", disse-me Gruber. "Eles são tão misteriosos, não te falam nada, mas pareceu mesmo que eles se atrasaram pelo menos um ano antes de começarem a voltar seus esforços para onde a indústria rumava."

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Assim que a Apple percebeu a direção que a demanda estava tomando, não viu nenhum problema em entender ao mercado dos telefonões. Os iPhones 6 e 6 Plus, lançados em setembro de 2014, possuem telas de 4.7 e 5.5 polegadas, respectivamente.

A Apple volta atrás e dá certo. No final de abril, recebi um iPhone SE ouro rosa da Apple.

Enquanto abria a caixa, me veio a ironia: eu costumava desaprovar a filosofia do design de produtos tecnológicos para mulheres de "encolher e deixar rosa", e lá estava eu, emocionadíssima com meu celularzinho rosa.

O SE tem as mesmas dimensões que o iPhone 5: 4.87 polegadas de altura, 2.31 de largura, 0.3 polegadas de espessura, com tela de 4 polegadas, pesando 113 gramas.

Mesmo com um case de couro e proteção de tela de vidro temperado, é menor e mais leve que meu celular, um Sony Xperia Z5 Compact. (Grande parte dos fabricantes cria uma versão "compacta" piorada de seus celulares premium; a Sony fez uma versão compacta excelente de seu carro-chefe.) Ele tem 5 polegadas de altura, 2.56 de largura, com 0.35 polegadas de espessura e tela de 4.6, pesando voluptuosos 138 gramas.

O Xperia Z5 Compact ao lado do iPhone SE. Crédito: Derek Mead

Usar o iPhone SE foi uma delícia. Meu Z5 Compact e o Z3 Compact que tive antes deste eram telefones excelentes, de alto nível e à prova d'água ainda por cima. O iPhone, porém, é um luxo. Foi bom ter um telefone de luxo do meu tamanho. Se eu estivesse atrás de um novo celular, pensaria seriamente em comprar um. É o único celular de alto nível realmente pequeno.

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Como de costume, a Apple não divulga quantos vendeu, apesar de declarar que a demanda pelo iPhone SE é maior que o esperado. "Estamos empolgadíssimos com a reação até o momento", disse Tim Cook durante teleconferência sobre resultados. "Está claro que há uma demanda muito maior do que imaginávamos."

Logo, se a Apple está percebendo a demanda por um celular menor, isso significa que surgirão mais aparelhos pequenos? Parece estar bem claro que pessoas querem celulares grandes, e outras, como eu, não – e seria meio loucura negligenciar o mercado dos telefones de alto nível abaixo das 4.5 polegadas.

"É uma situação meio Cachinhos Dourados. Alguns querem o mingau bem quente, outros bem frio, e ainda tem aqueles que querem um meio-termo", disse Gruber.

Gleeson, o analista da IHS, disse que sua empresa notou dados promissores nas vendas do SE, e prevê que ele se sairá tão bem quanto o iPhone 5c, tornando-se o terceiro aparelho mais vendido da empresa. "Caso o SE se mostre bem-sucedido, que acreditamos que acontecerá, haverá mais fabricantes de Android criando telefones menores", disse.

Mas ao passo em que "há uma demanda de nicho por aparelhos compactos como o iPhone SE", a probabilidade é que os aparelhos sigam mais para o rumo das 4.5 polegadas do que o limite de 4 polegadas do SE, disse Gleeson.

Em suma: não há muitas opções ainda quando se fala em celulares de alto nível e tamanhos menores. Cruzo os dedos para que o SE leve o mercado para outra direção.

Tradução: Thiago "Índio" Silva