'Sunburn' É um Game Adorável Sobre Suicídio no Espaço
Crédito: Sunburn

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'Sunburn' É um Game Adorável Sobre Suicídio no Espaço

“Todas as pessoas morrerão a sós”, diz Garcia. “O objetivo é unir-se aos demais e aproveitar ao máximo o que lhes resta.”

Diego Garcia, desenvolvedor de jogos, não parecia muito confortável ao me contar que seu game era sobre suicídio. "Quer dizer, acho que é apenas um jogo sobre tirar o melhor proveito de uma situação ruim", esboçou ele.

Sunburn tem uma arte fofinha e um conceito sombrio, e está prestes a ser lançado. Foi inspirado no conto "Caleidoscópio", de Ray Bradbury, que também serviu de título original ao game. O jogador é um capitão de uma espaçonave destruída, encarregado da tarefa nefasta de resgatar a tripulação à deriva, amarrar todos junto a si, e mergulhar, lado a lado, rumo ao Sol.

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"Todas as pessoas morrerão a sós", diz Garcia. "O objetivo é unir-se aos demais e aproveitar ao máximo o que lhes resta."

O jogo, na verdade, é um puzzle de física simples e divertido. Para navegar entre diversas peças de entulho espacial, planetas, cometas, buracos negros, nacos de magma, esferas de vidro e rochas em movimento — em outras palavras, zanzar pela escuridão antes de se jogar numa grande estrela gasosa —, é preciso dosar o oxigênio limitado.

Por conta de uma anomalia qualquer, o jogador é obrigado a reviver a fatalidade várias vezes, fase após fase. Para melhorar, a tripulação é um grupo peculiar de rostos conhecidos: um mecânico, um botânico, uma equipe de telejornal. Mas o personagem que mais cativa os jogadores, para a surpresa dos desenvolvedores Diego Garcia e Aaron Freedman, é o cachorro espacial. Assim como Laika, ninguém quer ver o cãozinho morrer.

"As pessoas sofrem muito mais quando sacrificam o cachorro e o gato do que quando renunciam aos companheiros", disse Freedman.

"Talvez tenha a ver com o Vale da Estranheza", disse Garcia. "Os humanos estão longe de parecer humanos, então quem se importa? Mas aí aparece um cachorrinho fofinho de pixels, debatendo as pernas no espaço. As pessoas ficam tristes."

Embora, de certa forma, o game seja um Angry Birds cósmico ao estilo de Jack Kevorkian, os jogadores que o testaram não conseguiram superar o contexto. Faz sentido, mas também é engraçado como gera uma discussão sobre o cerne do jogo — querem salvar os astronautas de mentirinha.

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"As pessoas perguntam por que não podem ficar em um planeta até a hora derradeira chegar, e eu não sei", disse Garcia. "Eu preferiria estar com os meus amigos e passear no espaço a flutuar sozinho e enfim morrer asfixiado. Algumas pessoas encaram mal a mecânica de morte para vencer, e tentam encontrar lacunas. Não seria melhor se todos sobrevivessem no fim?"

Chegaram a me perguntar por que o jogo não termina uma maneira mais simples, tirando os capacetes, por exemplo, como em Missão: Marte, ou Arnold, frustrado, em O Ônibus Mágico.

"As pessoas ficam ansiosas por causa das ações do jogo, então procuram maneiras de se perdoar por continuar", disse Freedman. "Tipo, por que estou fazendo isso? Eles não vão sobreviver mesmo."

A morte geralmente é um indicador de fracasso em videogames, não sucesso. Alguns games em particular esfregam essa ruína na cara dos jogadores, como é o caso do Mario, afogando-se serenamente ao som do tema da fase "Dire, Dire Docks", ou da Lara, apresentando 101 maneiras de morrer no final de Tomb Raider. Em Sunburn, ao contrário, morrer é sinal de vitória. Uma vitória meio amarga. Quando você for absorto pelas chamas do Sol junto à sua tripulação, vai até sentir o impacto. É como conseguir dar um combo em Street Fighter.

Quando perguntei que morte espacial era a favorita deles — a cólera do Sol, a remoção do capacete, ou a misteriosa caixa do universo sugada por um buraco negro —, Diego optou pela caixa. Aaron disse que a ideia era intrigante, mas acrescentou que "poderia ser a pior dor imaginável, ou poderia simplesmente nos transportar para um espaço vazio".

Tradução: Stephanie Fernandes