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Saúde

Porque é que o cancro colo-rectal quadruplicou entre os millennials?

O risco continua a ser pequeno, mas o aumento das probabilidades nos últimos anos é, ainda assim, alarmante.

Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma Tonic.

Os cancros do colo e recto estão a aumentar entre a população jovem. Apesar de os números relativos aos norte-americanos com mais de 55 anos terem vindo a diminuir a um ritmo regular, no que diz respeito aos millennials, o risco de desenvolver a doença quadruplicou se comparado com alguém que nasceu em 1950 quando tinha a mesma idade. Uma taxa que equivale àquela que era registada em 1890.

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Esta descoberta decorre de um novo estudo, publicado no final de Fevereiro no Journal of The National Cancer Institute. A investigação baseou-se em dados de cerca de 500 mil pacientes com mais de 20 anos diagnosticados com cancro colo-rectalentre 1974 e 2013, divididos pelo ano de nascimento e a idade em que foram diagnosticados com a doença.

Os responsáveis pelo estudo concluíram que entre meados dos anos 80 até 2013, a incidência do cancro do cólon cresceu muito mais depressa na população entre os 20 e os 29 anos, numa média de 2.4 por cento por ano (cresceu também nas pessoas entre os 30 e os 39 anos, no mesmo período e, a partir dos anos 90, também em pessoas na faixa dos 40). O aumento foi ainda mais dramático no que diz respeito ao cancro rectal, que cresceu cerca de quatro por cento ao ano em adultos na faixa dos 20 desde 1974.

É importante salientar que, no geral, a incidência de cancro colo-rectal tem vindo a diminuir nos Estados Unidos [uma tendência também verificada na Europa, o que não impede que em Portugal, de acordo com a Sociedade Portuguesa de Endoscopia Digestiva (SPED), morram 10 pessoas por dia com esta doença]. De acordo com declarações prestadas à CNN por H. Gilbert Welch, professor de medicina no Instituto Dartmouth, os números são, na verdade, muito mais pequenos do que parecem.

O aumento traduz-se em mais um ou dois casos por 100 mil, por ano, muito longe dos números relativos à diminuição em norte-americanos mais velhos, que ronda os 100 casos em 100 mil. Welch acrescenta ainda que o aumento dos diagnósticos não se traduziu em mais mortes entre as pessoas nesta faixa etária.

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A preocupação reside no facto de que pessoas mais jovens possam ser diagnosticadas numa fase mais tardia da doença - logo mais perigosa -, porque não estão a fazer o rastreio. E, enquanto grupo etário, levam consigo esse risco à medida que envelhecem. Uma análise de 2015, previa que um em cada 10 casos de cancro do cólon e um em cada quatro casos de cancro rectal venham a ser diagnosticados em pessoas com menos de 50 anos em 2030. Se isso acontecer, poderá ter implicações problemáticas quando essas pessoas chegarem aos 50 anos, altura em que este tipo de cancros é mais comum é mortal.

"Parece, pois, que o risco subjacente desta doença está, na realidade, a aumentar", disse à NPR Rebecca Siegel, da American Cancer Society e principal autora do estudo. Os resultados não apontam causas específicas, mas os investigadores têm algumas ideias. "Não é surpreendente que a linha temporal da crise de obesidade corresponda ao aumento da incidência de cancro colo-rectal, porque muitos dos comportamentos que julgamos estarem relacionados com o aumento de peso, tais como o padrão das dietas pouco saudáveis e os estilos de vida sedentários, só por si contribuem para o aumento do risco de cancro", escrevem os autores do estudo.

As alterações à dieta típica americana, acrescidas do facto de que as pessoas estão expostas a estes riscos cada vez mais cedo, podem também fazer com que o corpo humano incorra em alterações genéticas, que podem tornar mais provável o aparecimento de cancros no futuro, explicam os responsáveis.

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No entanto, os factores relacionados com a obesidade não são os únicos a ter em conta. De acordo com os investigadores, serão necessários mais estudos para se perceber exactamente o que se passa. Para já, exortam os mais jovens a estarem alertas para possíveis sintomas, tais como os sangramentos rectais, ou alterações intestinais que durem mais do que apenas alguns dias e falarem com os seus médicos se estas situações ocorrerem.

Os responsáveis enfatizam ainda a necessidade de continuarem os estudos, para que as entidades públicas de saúde considerem baixar a idade em que as pessoas são aconselhadas a fazer rastreios regulares relativos ao cancro colo-rectal.


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