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Marielle Franco vive e conversa por meio de robô

Perfil no Facebook finge que é a vereadora para manter suas propostas vivas.
Foto: Reprodução/ Facebook

"Oi, Diogo! Aqui é a Marielle Franco. Que bom te ver por aqui <3". Assim começou meu papo com a versão eletrônica da vereadora do PSOL, executada no dia 14 de março deste ano. O bot Viva Marielle conversa com o usuário, via Facebook Messenger, e, além de contar a história da parlamentar, também fala sobre seus projetos de lei ainda em tramitação na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

"Eu era vereadora da cidade do Rio de Janeiro, socióloga e ativista dos Direitos Humanos", diz a Marielle eletrônica. "Até o dia em que armaram uma emboscada para me assassinar. Evento que acabou matando eu e o Anderson, meu motorista. E pior é que os responsáveis ainda não foram identificados e punidos. Mas o que essas pessoas não sabiam é que isso não iria me calar." "Eu estou viva", continua o perfil, "porque a Câmara do Rio de Janeiro continua aprovando projetos que propus antes de ser morta".

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O bot, que também dá atualizações da investigação a respeito do assassinato de Marielle Franco, foi criada por quatro publicitários. Eles decidiram reviver a vereadora porque ficaram sabendo que seus projetos continuavam a ser aprovados na Câmara do Rio. "O projeto piloto foi desenvolvido em três semanas", afirma Philippe Santos, um dos criadores. "Desde então, estamos constantemente atualizando a ferramenta com novas notícias e informações que acreditamos ser relevantes para o projeto. Acreditamos que o projeto é orgânico, está vivo, assim como a voz da Marielle. Então ele tem que acompanhar a realidade o tempo todo. Esse é um dos nossos desafios."

"Acreditamos que o projeto é orgânico, está vivo, assim como a voz da Marielle. Então ele tem que acompanhar a realidade o tempo todo"

O grupo não tem ligação com o mandato da vereadora ou com seu partido, o PSOL. De acordo com Santos, o projeto não levanta a bandeira de um partido, mas sim, de uma líder que representava muitas pessoas. Ele afirma que houve uma tentativa de falar com os responsáveis pelo legado de Marielle Franco, mas o grupo não obteve retorno. "Buscamos contato com a equipe para obter um feedback, porém, não conseguimos falar com eles até o momento", diz. "Nosso objetivo é contribuir um pouco com o enorme legado que a Marielle deixou e continua vivo. Estamos tentando fazer isso da maneira mais respeitosa possível. Queremos somar e não subtrair o lindo trabalho que ela fez."

O bot Marielle Vive é mais um exemplo do uso das tecnologias digitais para fiscalizar as autoridades públicas e informar os cidadãos. O robô Rosie é outro. A ferramenta vasculha os dados disponíveis de servidores públicos (como parlamentares) para identificar possíveis desvios e uso inapropriado de verbas. Já foram encontrados 8.276 reembolsos suspeitos a parlamentares, o equivalente a R$ 3,6 milhões. Alice também é uma robô que vigia gastos públicos, mas seu "patrão" é o Tribunal de Contas da União. Ela vasculha milhares de informações para encontrar possíveis ilegalidades em licitações, editais e contratos. A bot chegou a economizar R$ 40 milhões aos cofres públicos ao encontrar valores incoerentes em uma licitação em Goiás. Já Beta (ou Betânia) se propõe a conversar e informar os parceiros de papo no Facebook Messenger a respeito de causas feministas. Beta foi criado pelo Nossas, um "laboratório de ativismo" afiliado ao Meu Rio, uma rede de mobilização.

Procurados pela reportagem, as assessorias de imprensa do mandato de Marielle Franco e do PSOL do Rio não responderam ao pedido de entrevista.

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