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Tecnologia

Esse Dispositivo Caça-Fantasmas É um iPhone para Falar com os Mortos

Um poeta publicado, arquivista, e investigador paranormal nas horas vagas, com a ajuda de um time de engenheiros, está criando o aparato caça-fantasmas mais avançado e simples que o mundo já viu.
​Dispositivo de caça fantasma portátil da GhostArk estará disponível por 250 dólares. Naturalmente, testaremos. Crédito: GhostArk

Um poeta publicado, arquivista, e investigador paranormal nas horas vagas — com a ajuda de seu filho e um time de engenheiros formados em mecatrônica no Japão —está criando o aparato caça-fantasmas mais avançado e simples que o mundo já viu.

Pelo menos é isso que ele diz.

A empresa italiana chamada ​Ghost Ark afirma que está construindo um dispositivo portátil para caçar fantasmas. De acordo com a equipe do GhostArk, a caixa preta e fosca exibida em seu site, com botões brilhantes e uma tela com várias padrões de ondas, irá "tornar a 'Caça aos Fantasmas' mais simples e acessível a todos."

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O aparelho será lançado no meio do ano, e custará US$250.

Eu conversei com Massimo Rossi, o diretor executivo da GhostArk, pelo Skype. A conversa foi traduzida por Alessandro Valerani, chefe de marketing da empresa e autor desse blog (e também ex-treinador de squash e autor publicado, porque aparentemente todos nessa empresa tem uma história interessante). Apesar de Rossi ter sido honesto sobre ele mesmo e sua equipe, ele foi reticente nas respostas às minhas perguntas sobre a criação e manufatura do aparelho, usando a preocupação com possíveis adversários como desculpa.

Rossi é um homem na casa dos 50, mas seu interesse pelo sobrenatural começou quando ele era apenas um garoto. Ele frequentava reuniões mediúnicas, e, na adolescência, tentava encontrar provas da existência de figuras fantasmagóricas espalhando farinha no chão. Ele testou todas as tecnologias caça-fantasmas já criadas —gaiolas de faraday portáteis, gravadores digitais e geradores de ruído branco—mas nenhuma delas tinha o que ele buscava.

Massimo Rossi, fundador e presidente da GhostArk. Foto cortesia de Massimo Rossi

Ele afirma que já foi treinado "por um paleontólogo, e pessoas que restauram manuscritos antigos", e que já trabalhou como arquivista. Rossi publicou vários volumes de poesia romântica ​e erótica e uma peça.

Mas apesar de seus outros interesses, ele sempre se manteve fiel aos fantasmas. Em seu blog, ele descreve suas idas à biblioteca onde ele trabalha, em Veneza, durante as férias de Natal, e como ele usava um scanner de rádio frequência para procurar espíritos. Em outro post, ele narra, com alegria e muitos detalhes, suas horas de diversão na ilha Poveglia — local que abriga um manicômio abandonado construído sobre um cemitério de mortos pela​ peste negra — enquanto seu filho o esperava no carro, aguardando a hora de levá-lo para casa.

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Motivado pela sua frustração com a ausência de um dispositivo que unisse todas as ferramentas caça-fantasmas em um só aparelho, Massimo publicou um anúncio para engenheiros e especialista em marketing, criando, assim, a equipe do GhostArk.

Para os leigos na arte de caçar fantasmas, a GhostArk pode parecer algo muito impressionante. A equipe afirma que seu aparelho registra a temperatura ambiente e a pressão atmosférica, assim como os campos eletromagnéticos locais. Todos esse dados são automaticamente inseridos em planilhas gigantescas para análises futuras, mas eles também podem ser acompanhados na tela do aparelho, em tempo real. O aparelho tem vários microfones, e pode saltar entre várias frequências de rádio em busca de mensagens de espíritos. O dispositivo também contêm um gerador de ruído branco, pois acredita-se que os espíritos podem se comunicar através do som ambiente.

O aparelho parece bem resistente — na imagem promocional, pelo menos — e foi planejado para trocas rápidas de bateria, caso um espírito traiçoeiro decida drenar sua energia subitamente, de acordo com uma das muitas informações disponíveis no blog da GhostArk. E como esse aparelho une várias ferramentas em um só lugar, o usuário teráuma mão livre para tatear o castelo ou orfanato abandonado que ele ou ela estiver investigando.

O aparelho tem um design bem legal — parecido com um iPhone, mas para falar com gente morta. "Ele foi planejado para chamar a atenção de qualquer um, não apenas das pessoas interessadas pelo paranormal", disse Rossi. Seu filho, Gian Maria Rossi, se aproxima da câmera para explicar que ele desenvolveu o aparelho e o site da empresa sozinho. Chef por formação, Gian játrabalhou como DJ e designer gráfico antes de entrar no mercado de design de produtos e de sites — a suave luz azul por trás dos botões do aparelho são uma referência aos seus dias de DJ, outra profissão que trabalha no escuro.

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Gian se descreve como uma versão mais cética de seu pai — uma característica comum ao resto da equipe — mas admite que existem coisas que ele não pode explicar. Valerani, o chefe de marketing, também tem suas dúvidas, mas acredita que "agir cientificamente implica juntar todas as variáveis em um só lugar e descobrir os possíveis padrões existentes."

O aparelho foi planejado para trocas rápidas de bateria, caso um espírito traiçoeiro decida drenar sua energia subitamente.

"Os engenheiros ficaram bem surpresos, porque é um pouco bizarro usar a tecnologia para explicar algo do tipo", disse Massimo. "Mas como eles tem que testar o aparelho, eles começaram a ficar curiosos."

O ceticismo é um mal que aflige todos as startups — ainda mais quando o seu produto é um detector de fantasmas. Muitos já apontaram que o site do GhostArk parece ter sido criado para inspi​rar curiosidade e matérias sobre o assunto. Também existe o desafio de criar um produto real que cumpra tudo o que ele promete. Apesar de Rossi afirmar que possui vários engenheiros de rádio e especialistas em robótica formados no Japão em sua equipe, o aparelho só existe como uma imagem em um site.

Quando eu perguntei quem está financiando o projeto, Rossi respondeu: "você está falando com ele", (apesar de eu estar falando, tecnicamente, com seu intérprete).

É provável que o mundo dos caçadores paranormais não seja o mais adequado para aparelhos tão inovadores. Mickey Goccol, o presidente do Centro de Investigação Paranormal de Londres, diz que algumas das melhores interações paranormais do grupo ocorreram com a ajuda de equipamentos baratos. "Os espíritos podem ser muito antigos. Os equipamentos mais simples têm mais chances de funcionar", disse Goccol durante uma entrevista por telefone, sugerindo que fantasmas têm tanta dificuldade em usar novas tecnologias quanto nossos avós.

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Por outro lado, a equipe da Ghost Ark parece acostumada a controlar suas expectativas. "Caça Fantasmas": essas duas palavras aparecem sempre entre aspas, e nada escrito no site ou no blog da empresa é mais absurdo do que as descrições de aparelhos já existentes, como o Gho​stoutlet (que também vende sabão-fa​ntasma). O aparelho é apenas descrito como um dispositivo que analisa as variáveis que muitos acreditam ser os sinais certeiros de atividades paranormais. O site não afirma em lugar nenhum que o produto pode ser usado para prender um ectoplasma.

E tudo indica que existe um mercado para aparelhos do tipo. Rossi e Alessandro participaram recentement​e de um podcast sobre investigação paranormal. O anfitrião elogiou o design do produto, dizendo que "ele é exatamente como eu esperava que um aparelho assim fosse!", o que soa como um bom presságio para a conta bancária da GhostArk.

Goccol, apesar de suas reservas, está intrigado com o potencial do dispositivo, que pode auxiliar essas investigações e padronizar a coleta de dados entre os membros de uma só equipe. "No final, é bom ver que alguém está tentando criar algo novo", ele disse. "Nós definitivamente vamos encomendare testar esse produto."

O Motherboard também se prontificou a testar o aparelho da GhostArk, e eles concordaram em nos mandar um protótipo quando ele estiver pronto. Nós vamos contar tudo quando isso acontecer — e vocês saberão o que achamos desse pequeno caça-fantasmas.

Tradução: Ananda Pieratti