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Tecnologia

​Cientistas Criaram Um Cérebro Para Ver o Que Acontece Quando Você Se Machuca

A criação de um cérebro 3D em laboratório pode ajudar a entender o que acontece em um cérebro de verdade.
Crédito: Shutterstock

Nos últimos dois anos, cientistas desenvolveram vasos sanguíneos, pele, partes de órgãos e até vaginas em laboratórios. Mas agora, pela primeira vez, eles conseguiram criar, em três dimensões, tecido cerebral (vindo de ratos) com o propósito explícito de feri-lo para ver o que acontece.

Claro, não é o único propósito, mas é isso o que foi feito até agora. Em um artigo publicado na Proceedings of National Academy of Sciences, o pesquisador da Universidade Tufts, David Kaplan, detalha um processo que permitiu que ele e sua equipe produzissem tecido cerebral 3D para estudar os ferimentos.

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Até agora, o único jeito de estudar mesmo ferimentos cerebrais causados por concussões, explosões de bombas e até novas drogas tem sido estudá-los em cérebros de verdade, de humanos, ratos ou outros animais (infelizmente, quase sempre após a morte). Nós não temos opções in vitro para fazer essas pesquisas porque todo cérebro criado por algum cientista acabava morrendo dentro de um dia após a criação.

Claro que não é um cérebro de verdade (embora eu vá me referir a ele como se fosse até o fim dessa matéria) – você não pode colocá-lo em uma criatura viva e esperar que funcione. Há muito mais num cérebro do que um monte de neurônios. Mas esses cérebros têm matéria cinza e branca, que se organizam de maneira muito parecida com um cérebro de verdade e aparentemente expressam um número muito maior de genes do que os neurônios quando simplesmente crescem em duas dimensões.

Os cérebros criados em Tufs também não são como os "mini cérebros" que já criaram antes: aqueles foram criados usando células primárias, e a falta de sangue os limita a quatro milímetros de diâmetro. Os cérebros de Tufs não devem ter essa limitação e conseguem sobreviver por longos períodos em um laboratório, permitindo um crescimento a longo prazo e estudo.

"Nós mostramos que, quando ferido, esse tecido cerebral responde in vitro a estímulos bioquímicos e eletrofisiológicos que imitam as observações ao vivo", Kaplan escreveu em seu estudo. "Esse modelo 3D de tecido cerebral écapaz de passar por avaliações não destrutivas em tempo real, oferecendo direções antes não identificadas para estudos de homeostasia cerebral e ferimentos."

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Como eles sabem disso? Porque eles foram lá e derrubaram os cérebros, então mediram suas atividades logo em seguida.

"Com o sistema que nós temos, você pode essencialmente seguir a resposta do tecido a ferimentos traumáticos no cérebro em tempo real", ele disse em uma declaração. "Mais importante, você também pode trilhar reparos e o que acontece por longos períodos."

A esperança é que os cérebros possam ser usados para estudar implantes cerebrais, os efeitos de hackeamento cerebral, reações cerebrais a drogas e de que jeito o órgão se modifica quando contrai certas doenças.

O principal avanço aqui é o método que permitiu que os cérebros se desenvolvessem. Normalmente, os neurônios são criados em um prato de colágeno 2D. Isso funcionou bem em termos de criar os neurônios em si, mas toda vez que eles eram estimulados a se desenvolverem em três dimensões, eles se degradavam e morriam, normalmente bem rápido. Mas Kaplan e sua equipe criaram uma armação para que os neurônios se desenvolvessem – feito de uma proteína de seda – o que parece ser o truque necessário.

O cérebro cresce e se fixa nessa armação, então se desenvolve mais ou menos como um cérebro. Então, mesmo que nós nunca cheguemos ao ponto de criar cérebros em tamanho natural num laboratório, talvez nós possamos ao menos criar uma fonte sustentável de comida para zumbis.

Tradução: Letícia Naísa