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Estudantes canadenses inventaram um aparelho que detecta overdoses

Um novo relógio, ainda em fase de testes, pode alertar sobre os primeiros sinais de mudanças respiratórias em pessoas que usaram drogas.

Esta matéria foi originalmente publicada pela VICE Canadá.

Quando você cobre a crise de overdoses na Colúmbia Britânica, no Canadá, é difícil achar boas notícias. Em 2016, escrevi sobre mais de mil mortes por overdose, paramédicos estressados, falta de opções de tratamento nas prisões e condições terríveis em algumas casas de recuperação.

Mas às vezes acontece alguma coisa nesse campo que me faz sentir que a humanidade não está totalmente condenada. E essa é exatamente a vibe de um tuíte recente da cofundadora da Overdose Prevention Society, Sara Blyth, sobre uma equipe de estudantes canadenses de engenharia que estão desenvolvendo uma tecnologia que visa salvar vidas no bairro Downtown Eastside, pesadamente afetado pela crise, de Vancouver.

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O estudante de engenharia da Universidade da Colúmbia Britânica Sampath Satti disse à VICE que a ideia veio de uma maratona hacker realizada entre estudantes de engenharia e medicina no último inverno. O aparelho monitora mudanças na frequência respiratória do usuário — um dos maiores indicadores de overdose iminente — e pode alertar outros na área de que alguém está prestes a desmaiar.

Satti e sua equipe; Harry Alexander, Prashant Pandey, Mark Trinder, Anderson Chen e Perneet Sekhon; esperam que a droga naloxona, que reverte os efeitos de opiáceos, possa ser usada mais rapidamente. "O objetivo que estamos tentando alcançar numa área como Downtown Eastside, onde não faltam kits de naloxona, é conectar pessoas que têm os kits e pessoas que precisam deles", disse ele.

Satti nos mostrou um protótipo desenvolvido por sua equipe, que será testado num local de prevenção de overdoses na próxima semana.

VICE: Como esse projeto começou?
Sampath Satti: A ideia começou com a observação de que 90% das mortes por overdose acontecem a céu aberto. Isso está acontecendo em conjunção com métodos já existentes de distribuição de naloxona. Perguntamos por que tantas mortes ainda estavam acontecendo com todas essas medidas de redução de danos sendo aplicadas. Chegamos à hipótese de que mesmo que haja kits de naloxona nas ruas, quando as pessoas têm uma overdose e ninguém está por perto para ajudar, esses casos vão rapidamente dos sintomas de overdose para morte. Começamos a pensar em soluções, e descobrimos que a frequência respiratória é o maior indicador de overdose iminente.

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O que vocês estão tentando fazer?
É basicamente um relógio de pulso, ou a forma será parecida com a de um relógio. No momento o protótipo tem um pulsômetro que se liga ao dedo, que vai ser integrado numa luva. A pessoa usando a luva pode conectar os cabos ao relógio de pulso, e se ela tiver uma overdose e a frequência respiratória cair, isso gera um alarme local. Os futuros protótipos ideais serão apenas um sensor num relógio que pode ser usado o dia inteiro.

Como ele funciona?
Você já deve ter visto um pulsômetro num hospital. Ele mede a variação da frequência cardíaca, que pode se relacionar à frequência respiratória. O sensor em si é um simples LED e detector de luz, que captura a luz refletida do dedo.

Como vocês pretendem que o aparelho seja usado?
Achamos que talvez o aparelho possa ser usado em abrigos. Se você puder gerar um alarme local, ele pode chegar até um profissional de socorro por perto, que pode estar monitorando os sintomas de overdose em talvez umas mil pessoas. Esse provavelmente será nosso próximo passo.

Vocês já testaram o aparelho em alguém?
Não, com um aparelho como esse, não podemos fazer o usuário pensar que isso o protege de overdoses. Agora só podemos testar em ambientes controlados. Parte do que estamos fazendo com [a cofundadora do site de prevenção de overdose] Sarah Blyth é avaliar se isso pode ser testado em pontos de socorro supervisionados, na presença de voluntários. Então veremos se ele pode detectar overdose iminente. Agora estamos focados na tecnologia, tentando tornar o aparelho confiável, saber se ele pode detectar sinais de overdose de opiáceos com antecedência. Ainda é uma hipótese, então gostaríamos de validar o dispositivo num local de socorro médico para casos assim, o que vai nos fornecer dados para construir um protótipo melhor.

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Vocês já toparam com algum problema?
O principal desafio será a aceitação dos usuários. Eles usariam uma coisa dessas? Eles cuidariam do aparelho? O dispositivo também deve trabalhar junto com outras medidas de redução de danos, e não encorajar comportamento de risco. Não queremos que isso encoraje as pessoas a usarem drogas quando estão sozinhas, mas no caso disso acontecer, que o aparelho ajude.

O que os socorristas disseram sobre isso?
O feedback tem sido incrivelmente positivo. A Overdose Prevention Society disse que usuários estariam dispostos a usar o aparelho, que isso não acrescentaria ao estigma social.

No momento, posso ver vocês testando essa coisa?
Com certeza, acredito que semana que vem teremos algo realmente legal para te mostrar.

A entrevista foi editada para dar maior clareza.

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Tradução: Marina Schnoor

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