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'Tubarões que andam' são o novo ramo da árvore genealógico da família dos tubarões

“São animais incrivelmente fofos que parecem mais com uma lagartixa andando do que um tubarão.”
Um tubarão que anda numa praia. Imagem: mrpbps.
Um tubarão que anda numa praia. Imagem: mrpbps.

Tem toda uma subcultura cinematográfica devotada a tubarões encontrando jeitos engenhosos de viajar pela terra, seja via sharknado, híbridos genéticos ou forças ocultas. Enquanto isso, no mundo real, existe mesmo uma família de tubarões que evoluiu para “andar” na terra, apesar de serem muito menores, mais fofos e menos esfomeados por carne humana que os colegas dos filmes.

Esses tubarões que andam pertencem a família Hemiscyllium, a linhagem mais jovem de tubarões da Terra, segundo um estudo publicado na segunda-feira no jornal Marine and Freshwater Research. Usando nadadeiras especialmente adaptadas, esses tubarões conseguem se arrastar por rifes em seu habitat indo-australiano, mesmo quando não estão submersos na água.

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“São animais incrivelmente fofos que parecem mais com uma lagartixa andando que um tubarão”, disse o coautor do estudo Mark Erdmann, ecologista de rifes de coral da Academia de Ciências da Califórnia, por telefone.

“Eles não são bons nadadores”, acrescentou Erdmann, que também atua como vice-presidente da Asia-Pacific Field of Conservation International, uma organização ambiental sem fins lucrativos dos EUA. “Eles continuam nos mesmos rifes em que nasceram. Eles são muito caseiros.”

Mesmo que essas habilidades de locomoção já tivessem sido documentadas em estudos anteriores, Erdmann e seus colegas iluminaram as origens evolutivas da família analisando DNA de nove espécies atualmente reconhecidas de Hemuscyllium. A equipe conduziu uma análise molecular filogenética dos tubarões, o que significa que eles usaram sequências de DNA para entender as relações genéticas dos tubarões entre si, e com a linhagem mais ampla dos tubarões.

Os resultados revelaram que tubarões que andam são o ramo mais jovem da árvore da família dos tubarões, que data de cerca de 450 milhões de anos atrás.

“Com nosso relógio molecular, conseguimos mostrar que esse grupo só se ramificou de seu ancestral mais próximo cerca de nove milhões de anos atrás, e continuou se irradiando desde então”, disse Erdmann. “Claro, em termos humanos isso parece muito tempo, mas para tubarões, e especiação em geral, é muito recente.”

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Essa linha do tempo de especiação coincide com grandes mudanças geológicas que ocorreram enquanto a placa continental australiana se chocava com relevos ao norte dela. Esses processos tectônicos, acompanhados de erupções vulcânicas, sacudiram a região por milhões de anos como “uma grande ilha discoteca”, como Erdmann descreveu.

Esses tubarões que andam resistiram a essas tempestades geológicas prosperando nos recém-criados rifes rasos, onde ganharam a habilidade de se contorcer na terra até piscinas distantes de água da maré. Esses tubarões, que geralmente medem de 30 a 60 centímetros de comprimento, também se adaptaram para suportar a falta de oxigênio que ocorre nessas piscinas isoladas na maré baixa.

Mas apesar dessas adaptações maravilhosas, tubarões que andam são vulneráveis a desastres naturais, como tsunamis e erupções vulcânicas. “Essa distribuição tão pequena deles – cada um tem um pequeno bolsão como uma baía ou arquipélago – os deixa intrinsecamente suscetíveis a grandes perturbações ou eventos de extinção”, disse Erdmann.

Os tubarões também estão encarando cada vez mais pressões antropogênicas, incluindo aumento da popularidade como atração de aquários e perda de habitat devido a desenvolvimentos imobiliários nas costas. Por essa razão, conservacionistas estão trabalhando para garantir mais proteções para os tubarões que andam, e conseguiram acrescentar três das nove espécies na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza.

Erdmann e seus colegas planejam conduzir muitas outras expedições para rifes indo-australianos onde esses animais vivem, para aprender mais sobre suas exigências de conservação e a extensão de suas variedades.

“A genética confirma que eles são os ramos mais jovens, e eles parecem ainda estar ativamente especiando, então reconhecemos que há uma boa chance de ter mais espécies de tubarões que andam por aí”, ele disse. “Isso nos mostra como eles ainda são uma parte ativa do nosso planeta em evolução, e essa é uma ótima notícia.”

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