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Tecnologia

Quando um Videogame Atinge o Lado Político

A junta militar da Tailândia, que tomou o poder com um golpe de Estado, não gostou nem um pouco do jogo "Tropico 5" que fala sobre... ditadores.
Tela do jogo Tropico 5: Youtube/Kalypso Media

A junta militar da Tailândia tomou o poder com um golpe de Estado, impondo um estado de sítio e amordaçando a mídia – todas as táticas com as quais o regime parece não ter problema, a não ser que aconteça em um videogame.

De acordo com uma matéria da AP, o Conselho Nacional pela Paz e pela Ordem, a junta militar que tomou o poder na Tailândia em maio, acabou de banir o Tropico 5, um jogo de computador em que as pessoas jogam como ditadores.

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O conceito do Tropico 5, a quinta parcela de uma franquia de simulação de cidade bem sucedida, é bem simples. Você, atrás da máscara de um "El Presidente", tem que erguer a sua estilosa cidade latino-americana e governá-la através dos tempos, fazendo tudo que for preciso para se manter no poder. Eleições fraudadas, assassinatos políticos e a opressão implacável de dissidentes são só algumas das técnicas que o caudillo do Tropico pode utilizar para chegar ao próximo nível.

Esse jogo parece ter atingido um nervo entre a nata da Tailândia. O motivo para ter sido banido foi que "algumas partes do conteúdo poderiam afetar a paz e a ordem do país", um representante da New Era Thailand, uma distribuidora de jogos, contou à AP.

Essa "parte do conteúdo" não foi especificada, mas há algumas semelhanças que podem ser desenhadas entre a ideia do jogo e os eventos da Tailândia. A junta deteve ativistas sem fiança, impôs toque de recolher e restringiu a mídia.

Independente da razão, o fato de que uma entidade política sentiu necessidade de banir um videogame é interessante. O caso da Tailândia é um pouco excepcional, mas também existe uma tendência geral de censura aos videogames não só por razões usuais de violência sexual, mas por razões políticas.

A China é, sem surpresas, o país mais ativo quando se trata de vetar jogos que lidem com assuntos considerados tabu. Há 10 anos, Pequim proibiu a venda do Football Manager 2005 por ter reconhecido Taiwan e o Tibet como países independentes – desencadeou a proibição do um jogo de estratégia Hearts of Iron em 2005.

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Em 2013, o Ministério da Cultura da China começou um tumulto contra outro jogo de guerra, Battlefield 4, mandando excluir os downloads imediatamente. O enredo do Battlefield 4 gira em torno de uma China em crescimento, algo que as autoridades consideraram uma ameaça à segurança nacional e uma "forma de invasão cultural". Outras nações implicaram com o jeito que os videogames apresentaram seus países em cenas de combate; proibições similares foram adotadas para vários jogos no Paquistão ano passado e no Irã em 2011.

Houve um raciocínio similar por trás da proibição motivada pela política de um jogo na Coreia do Sul em 2011. Homefront, um atirador em primeira pessoa, vislumbrou a invasão da Coreia do Sul (e dos EUA) pela Coreia do Norte. Como o relacionamento entre as Coreias estava particularmente tenso em 2011, o jogo foi banido para evitar uma piora nas tensões diplomáticas.

Assim como outras formas de arte, os jogos de videogame podem agir como casos de interação política no ponto de vista de seus autores. Às vezes, acontece de uma maneira bem gritante. Nas últimas semanas, com a intensificação do conflito em Gaza, muitos "jogos rápidos" inspirados no conflito surgiram no Google Play e na loja da Apple e foram rapidamente removidos pelas empresas. Em quase todos os casos, eles eram tribunas pobremente disfarçadas: em Bomb Gaza, o jogador tinha que matar "terroristas" na Palestina enquanto evitada atingir civis; em Gaza Hero, você tinha que tocar os soldados israelenses para transformá-los em comida e remédios.

Os problemas nesses estavam bem claros, mas é igualmente importante reconhecer que uma abordagem política no videogame pode também ser feita de um jeito positivo e diferenciado. Pense sobre a série Metal Gear do Hideo Kojima e como ela levanta questões sobre um complexo industrial-militar global. Em retrospectiva, Metal Gear Solid 4 parece um poderoso aviso sobre alguns problemas com os quais estamos lidando agora, desde a privatização dos exércitos até guerras com drones.

Diferente dos jogos inspirados em Gaza de "atire no cara malvado" que estão se multiplicando hoje, Metal Gear tem uma narrativa sólida e diferenciada que tratou o tópico da guerra e da tecnologia por todos os lados. A narrativa de cavaleiro branco x guarda negro quase sempre foi virada de cabeça para baixo – e a solução quase nunca foi sair correndo furioso e atirando em todo mundo.

Tradução: Letícia Naísa