O 'Silk Road Reloaded' Surgiu em uma Rede Mais Secreta que o Tor
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O 'Silk Road Reloaded' Surgiu em uma Rede Mais Secreta que o Tor

Um novo mercado online anônimo para narcóticos acaba de surgir, mas em vez de utilizar a já famosa rede Tor, ele se vale da desconhecida “I2P”.

Um novo mercado online anônimo para narcóticos acaba de surgir, mas em vez de utilizar a já famosa rede Tor, ele se vale da desconhecida "I2P".

O Silk Road Reloaded foi ao ar neste domingo, 11 de janeiro, e só pode ser acessado ao ser feito o download do software especial I2P, ou através da configuração de seu computador para que acesse sites da I2P, chamados de 'eepsites', cujos endereços terminam com o sufixo .i2p.

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Não é só a mudança para o I2P que marca uma mudança. Onde o Silk Road original e seu sucessor Silk Road só aceitavam Bitcoin, o Silk Road Reloaded também processará outras criptomoedas ao convertê-las em Bitcoin por meio de sistema interno do site. Inclui-se aí a Anoncoin, que como o nome sugere, é similar ao Bitcoin, mas com ênfase no anonimato. Darkcoin é outra das moedas listadas, sendo que esta tornou-se uma moeda aceitável no Nucleas, um comércio hospedado na rede Tor, no último mês de novembro. Além disso, conta-se com o Dogecoin, a moeda alternativa inspirada em um famoso meme, assim como a mais bem estabelecida Litecoin. Ao todo, oito diferentes altcoins são aceitas, com previsão de inclusão de outras em breve. Os administradores do site afirmam estarem abertos à sugestões de outras moedas a serem adotadas e levarão em consideração caso você entre em contato com eles.

Os administradores dos comércios online tem ganho dinheiro normalmente ao receberem uma pequena porcentagem dos lucros daqueles que comercializam drogas em seus sites. O Silk Road Reloaded faz o mesmo, mas também abocanha 1% no ato da conversão sempre que alguma moeda é convertida para Bitcoin no site.

"Todas as funções estão ativadas e completamente funcionais", diz uma mensagem no site, postada ontem. "Dados de teste estão sendo removido. Comerciante(s) seus produtos serão expostos logo. Obrigado por fazerem do lançamento do site um sucesso!"

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Quando esta matéria foi escrita, aparentemente as listagens de produtos serviam apenas como marcações, sem detalhes concretos sobre o que estava sendo vendido de fato. Estas, constavam como inclusas por "SysAdmin", e julgando pelo anúncio ali feito, isso mudaria logo, com a inclusão de produtos de verdade.

O catálogo conta com diversos itens os quais esperamos fazerem parte de um comércio online, incluindo aí drogas, dinheiro e identidades falsas, ferramentas para hackear e também roupas pirateadas. Notavelmente ausentes estão armas e informações de cartões de crédito roubadas, algo que sites na rede Tor, como o Evolution, vendem em abundância.

Esta falta de armas e dados roubados talvez se deva às crenças políticas aparentes do dono do site: pelo visto, o responsável compartilha as mesmas motivações libertárias que inspiraram o Silk Road original. "Quem somos? Pessoas que se importam com a verdadeira liberdade, ser dono de si mesmo. Acredite ou não, você é dono de si", diz o site.

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"O que isto significa exatamente? Muitas coisas, mas antes de tudo que nem nós ou ninguém temos direito/privilégio de lhe dizer o que fazer consigo mesmo, em qualquer nível a não ser que você cause danos para terceiros ou suas propriedades".

"Criamos este site para permitir que a mais básica das atividades humanas possa ocorrer livremente, o comércio. Não só é uma grande empecilho para o progresso, mas também uma interferência controlar alguém a ponto de comprometer seu livre arbítrio. Talvez não possamos impedir isso, mas certamente não contribuiremos para tanto.

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Aproveite o site."

Naturalmente, o Silk Road Reloaded também tem seu próprio fórum. No momento, não há nenhuma postagem, mas parece funcionar normalmente.

Entrei em contato com os donos do site usando seu sistema de mensagens interno, mas ainda não recebi nenhuma resposta. Queria lhes questionar o porquê da mudança para I2P. A título de especulação, a onda recente em preocupações de segurança quanto ao Tor talvez tenha contribuído; mesmo que estas preocupações não fossem justificadas no final das contas e a rede continue robusta.

Por mais que tanto Tor quanto I2P sejam redes anônimas, existem algumas diferenças essenciais entre elas. Uma destas é o maior grau de descentralização que a I2P oferece.

"A Tor vale-se de uma abordagem baseada em diretórios – criando um ponto centralizado para administrar a 'visão' geral da rede, assim como coletar e relatar estatísticas, ao contrário do banco de dados da rede e seleção de peers da I2P", de acordo com o site da própria I2P. Ao passo em que a Tor depende de uma série de pontos administrados por voluntários, em que outras pessoas usam seus computadores para se conectarem à rede, o I2P usa de peer-to-peer, e torna cada um dos seus usuários um nodo na rede em si. "Essencialmente todos os peers participam no roteamento dos outros", afirma o site.

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Outras diferenças apontadas pelo site da I2P incluem o fato de que o Tor recebe muito mais financiamentos, tendo surgido como um projeto do Laboratório de Pesquisa Naval dos EUA, ainda recebendo grande parte de seu apoio financeiro do governo norte-americano. A rede Tor é grande o bastante para ter se adaptado à tentativas de DdoS – ciberataques que tentam derrubá-la através de tráfego simulado – e no geral tem uma comunidade mais animada e base de usuários maior. Ao passo em que os desenvolvedores da Tor são francos quanto ao seu envolvimento no projeto, usando seus nomes verdadeiros, no caso da I2P, seus criadores são conhecidos apenas por pseudônimos.

A seção "sobre" do site da I2P é muito parecida com a do Tor Project, "A rede I2P é utilizada por muitas pessoas que se importam com sua privacidade", diz o texto, "ativistas, pessoas oprimidas, jornalistas e delatores, assim como o cidadão comum".

O Silk Road Reloaded é um importante desenvolvimento no mundo do comércio de drogas online. Mesmo que não decole de cara, ou caso caia por terra completamente, ele mostra que as pessoas estão dispostas a encararem alternativas à fórmula já estabelecida da Tor e Bitcoin. O que deveria preocupar as autoridades que ​recentemente se gabaram de terem derrubado centenas de sites na deep web, é o fato de que o Silk Road Reloaded prova que o comércio de narcóticos online está longe de estar morto. Pelo contrário, ele está ficando mais abundante e diverso.

Tradução: Thiago "Índio" Silva